Novo Banco: PCP e BE acusam Governo de “chegar tarde” e PS aguarda auditoria tranquilamente

A auditoria ao Novo Banco pedida pelo Governo à consultora Deloitte, obrigatória após a injecção de capital feita em Maio pelo Fundo de Resolução, devia ser conhecida esta sexta-feira, mas está atrasada.

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Auditoria ao Novo Banco devia estar concluída esta sexta-feira Francisco Romao Pereira

O PCP criticou esta sexta-feira o atraso na auditoria ao Novo Banco e apontou ao Governo por “chegar tarde” e só agora defender que não devem ser feitas novas vendas de carteiras de activos. Em declarações à Lusa, o deputado comunista Duarte Alves afirmou que o executivo do PS “chega tarde” a esta posição porque “havia muitos indícios, muitos alertas também que foram feitos pelo PCP em vários momentos de discussão sobre estes temas do Novo Banco”. “E, portanto, o Governo já deveria ter tomado uma medida relativamente à gestão de activos do Novo Banco há muito tempo”, disse ainda. Para o BE, ao permitir o adiamento da auditoria, o executivo socialista colocou-se “numa posição fraca”. Do lado do PS, os deputados “aguardam tranquilamente” e apontam “nervosismo” ao PSD. Contactado pelo PÚBLICO, o PSD informou que não iria reagir.

Desde 2018, alegou, que o PCP “chamava a atenção da gestão dos activos por parte da Lone Star e da forma como poderiam estar a ser geridos de forma a beneficiar de interesses da própria Lone Star”. O Governo anunciou que a auditoria ao Novo Banco não vai estar concluída até esta sexta-feira, conforme previsto, e considerou que até à sua conclusão não deverão ser realizadas outras operações de venda de carteiras de activos por parte da instituição bancária.

Um comunicado emitido na quinta-feira à noite pelo Ministério das Finanças refere que hoje, dia 31 de Julho, se realiza “uma reunião do Comité de Acompanhamento Operacional da auditoria ao Novo Banco, órgão que é composto pelo Fundo de Resolução, pelo Novo Banco, enquanto entidade auditada, e pela Deloitte, enquanto auditor independente seleccionado para a realização da referida auditoria”. 

Nesse encontro, onde não está representado o executivo, “o auditor independente apresentará as conclusões preliminares de um conjunto de secções integrantes do relatório de auditoria”.

Para o comunista Duarte Alves, deputado da comissão de Orçamento e Finanças, “não há justificação para atrasar a entrega dessa auditoria”, que é “importante” e que “deve fazer uma análise cabal daquilo que foi a gestão de activos no Novo Banco”.

BE defende que AR deve conhecer conclusões preliminares

Do lado do BE, a deputada bloquista Mariana Mortágua considera que ao aceitar este atraso, o “Governo português colocou-se si mesmo, ao Estado e ao país mais vez numa situação de fraqueza e numa posição diminuída face os interesses da banca”. O BE defende que o Parlamento deve conhecer as conclusões preliminares porque o executivo “tem de ser escrutinado”. De acordo com a parlamentar, o executivo “já o tinha feito quando aquele contrato de venda” e “voltou a fazê-lo quando transferiu para o Novo Banco 850 milhões sem conhecer os resultados da auditoria, ao contrário do que foi prometido pelo primeiro-ministro”. Agora, o Governo “voltou a dar um sinal errado” ao “permitir que a Deloitte adiasse mais uma vez os resultados desta auditoria”, acrescentou.

Mariana Mortágua destacou que “esta auditoria é essencial para travar este negócio ruinoso, é essencial, e é urgente” que os deputados “possam conhecer os seus resultados”.

“Defendemos por isso que o Governo partilhe com a Assembleia da República todos os resultados, preliminares ou não, que conhecer sobre a auditoria. E não digo isto de forma leve, o parlamento deve conhecer todos os resultados porque o Governo já provou que toma decisões erradas quando se trata da banca, e tem de ser escrutinado”, vincou.

Já o PAN considera o arrastar da situação uma “falta de respeito” para com os órgãos de soberania e os cidadãos. “É manifestamente incompreensível que continue a haver injecções no Novo Banco, como a recente de 850 milhões de euros, sem serem precedidas de informação”, afirma a líder parlamentar num vídeo enviado às redacções. “Não compreendemos como é que o Governo não dá um murro na mesa. Não faz qualquer sentido que a banca se julgue acima das regras legais e da prestação de contas que tem que acontecer perante a Assembleia a República e contribuintes.” 

A deputada defende que a banca “tem que ser moralizada” e critica a falta de transparência sobre a “verdadeira situação financeira do Novo Banco”, exigindo a “apresentação a tempo e horas” dos relatórios sobre a gestão de activos e carteira, incluindo o da Deloitte que, embora complexo, é “fundamental para as decisões sobre a banca”.

PS está “tranquilo” e vê Rui Rio “nervoso"

Do lado dos socialistas, o vice-presidente da bancada parlamentar do PS João Paulo Correia afirmou que os deputados aguardam tranquilamente a auditoria ao Novo Banco para tomarem posição e considerou que o presidente do PSD, Rui Rio, tem andado nervoso. João Paulo Correia destacou que “Rui Rio tem andado particularmente nervoso, tendo até admitido que há matéria criminal relacionada com a venda estes activos por parte da administração do Novo Banco”.

Para o deputado socialista, Rio “deve ser consequente com as suas palavras, aquilo que sabe, as informações que tem que o levam a esse tipo de declarações. Deve fazê-las chegar ao Ministério Público (MP) para que o MP possa fazer o seu trabalho”. “O relatório da auditoria do Novo Banco está prestes a chegar ao Governo e à Assembleia da República. Importante nesta altura é aguardar, com tranquilidade, aquilo que são as conclusões da auditoria sobre os activos tóxicos, créditos e imóveis que deviam ter ficado no BES e passaram para o Novo Banco”, continuou João Paulo Correia.

Segundo o “vice” de Ana Catarina Mendes, o resultado final do trabalho da consultora Deloitte estará pronto “dentro de dias” e, perante as conclusões sobre as “decisões tomadas e os responsáveis” por elas, “aí os partidos e, neste caso concreto o PS, tomarão a sua posição”.

O Novo Banco, que ficou com parte da actividade bancária do BES na sequência da resolução de 2014, foi vendido em 2017 ao fundo norte-americano Lone Star, que detém 75% do seu capital, sendo os restantes 25% propriedade do Fundo de Resolução bancário, entidade gerida pelo Banco de Portugal.

O Expresso noticiou no sábado que António Costa enviou uma carta à Procuradora-Geral da República, Lucília Gago, onde pede a suspensão da venda de activos do Novo Banco até que esteja concluída a auditoria que está a ser feita pela Deloitte. Segundo a carta, o chefe do Governo fala das acusações feitas no parlamento pelo presidente do PSD, Rui Rio, sobre as vendas de activos pelo Novo Banco para sustentar o pedido para que o Ministério Público desenvolva “os procedimentos cautelares adequados à protecção dos interesses financeiros do Estado” até que a auditoria esteja concluída.

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