Se vai viajar desde Coimbra leve farnel: nem a estação nem os comboios têm bar

O bar da estação de Coimbra B está fechado há cinco meses e a IP diz que foi o concessionário que pediu para se manter fechado.

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BLR bruno lisita

Coimbra B, um dia de Julho. Passa pouco das 11h00, mas há muito que o mercúrio passou dos 30 graus celsius. Nesta estação da Linha do Norte, a única possibilidade de encontrar água é nas máquinas de vending que vão sendo abastecidas por um trabalhador. A cafetaria fechou com a chegada da pandemia e não chegou a desconfinar. Quem ali chega, encontra as duas portas encerradas, com as portadas interiores encostadas. Não há nem um papel a justificar o motivo, tampouco se anuncia quando poderá reabrir.  

“Não é uma tragédia, mas é um transtorno”, diz ao PÚBLICO uma passageira não frequente da CP. Conta que, num dia atarefado, em que o início da manhã tinha sido preenchido com análises e dentista em Coimbra, estava a contar com o bar da estação para se alimentar, antes de apanhar o comboio que a levaria à Figueira da Foz para um trabalho. Nada feito. “Coimbra B só tinha um café e agora nem isso tem? Aquela estação serve mesmo mal as pessoas”, comenta. A alternativa foi esperar pela paragem seguinte: “quando cheguei à Figueira, atrasei o meu trabalho porque tive de parar para comer”. A solução foi precisamente o bar da estação da Figueira, serviço de fim de linha que mantém o serviço. 

Durante toda a manhã são dezenas as pessoas que se confrontam com o bar fechado. São passageiros menos habituais porque os que ali diariamente entram ou saem do comboio já sabem que não podem contar com ele.

São 13h15 e acaba de chegar um comboio da linha do Oeste. António Júnior veio da Marinha Grande e vai para o Porto. Tem 15 minutos para o transbordo e contava comprar uma sandes e uma água no bar de Coimbra B. Bateu com o nariz na porta.

As razões pelas quais o bar não reabriu são do domínio da Infra-estruturas de Portugal, que tem uma empresa instrumental – a IP Património – que trata da gestão dos activos imobiliários da empresa mãe. Ao PÚBLICO, a empresa respondeu que “a maioria dos espaços localizados nas nossas estações, é de gestão privada resultado de uma subconcessão, não tendo a IP qualquer interferência na sua gestão” e que o bar de Coimbra chegou a abrir após o estado de emergência tendo o concessionário pedido para encerrar devido à fraca procura. Um pedido que a IP aceitou, esperando que reabra no mês de Agosto.

A complicar o problema está o facto de os comboios de longo curso (Alfa Pendular e Intercidades) também terem os bares encerrados e os passageiros nem uma garrafa de água neles poderem comprar. Em entrevista ao PÚBLICO, o presidente da CP, Nuno Freitas não adiantou quando reabriria este serviço. A empresa justifica-se com a pandemia para manter os bares fechados, mas entretanto vai poupando 120 mil euros por mês ao não ter que pagar ao concessionário que assegurava aquele serviço. 

A CP decidiu, entretanto, equipar os frigoríficos dos bares com uma reserva de água fresca para oferecer aos passageiros em caso de degradação do serviço. Recentemente, um Intercidades ficou parado no Alentejo durante duas horas, devido a avaria, e os passageiros não puderam abastecer-se de água nem alimentos.

Uma estação envelhecida

A cafetaria de Coimbra-B acaba por ser apenas um dos vários problemas desta estação que deverá passar a ser a única da cidade a partir de 2022. A gare está envelhecida e não há passagem desnivelada para que os passageiros atravessem as linhas com maior segurança. Em 2010, num projecto apressado, a então Refer iniciou um túnel para fazer uma passagem desnivelada para peões sob a linha, mas encontrou moedas do séc. XIX e vestígios da velha estrada real, descendente da estrada romana, soterrado sob a linha. As obras pararam ali e o buraco do túnel foi tapado.

A estação – que é a 9ª do país em volume de passageiros, excluindo as estações das linhas suburbanas de Lisboa e Porto - também não tem sistema para pessoas com deficiência visual e o quiosque, seguindo o exemplo da cafetaria, acaba de encerrar e não reabriu. O único aspecto positivo: recentemente passou a contar com o luxo de um serviço automático de depósito de bagagens.

As razões para que Coimbra-B tenha permanecido parada no tempo, à margem da modernização que sofreram as estações de outra cidades, têm a ver com as indefinições em torno da própria linha do Norte. Aquela era para ser a grande e moderna estação intermodal onde se encontrariam a linha de alta velocidade e a linha convencional. Ou a estação do TGV ficaria mais a poente e esta perderia importância, o que exigiria uma requalificação mais modesta. Ou seria reabilitada quando a modernização da linha do Norte ali chegasse. Nada disto se concretizou. <_o3a_p>

No entanto, depois de décadas de impasse, a Câmara Municipal de Coimbra aprovou, na passada segunda-feira, o projecto de renovação da estação proposto pela Infraestruturas de Portugal. A oposição votou contra, dizendo que, se avançar esta requalificação de Coimbra B, a cidade ficará de fora da rede de alta velocidade, caso a discussão venha a ser retomada a nível nacional. A intervenção para modernizar a estação vai dotá-la de uma passagem inferior de passageiros, fazendo também a articulação do terminal ferroviário com o Sistema de Mobilidade do Mondego.  <_o3a_p>

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