Morreu Alan Parker, o ecléctico realizador britânico que foi de Fama a Mississippi em Chamas

Tinha 76 anos e entre os vários filmes que assinou ao longo da sua carreira contam-se ainda Bugsy Malone, Pink Floyd The Wall ou O Expresso da Meia-Noite.

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O britânico Alan Parker, que, ao longo de uma diversificada carreira de mais de 30 anos assinou filmes que vão de O Expresso da Meia-Noite (1978) a Mississippi em Chamas (1988) – ambos lhe valeram, aliás, uma nomeação aos Óscares na categoria de Melhor Realizador –​, morreu esta sexta-feira aos 76 anos, vítima de doença prolongada.

Nascido em Londres, a mesma cidade em que viria a morrer, em 1944, Sir Alan Parker começou no mundo da publicidade, primeiro como copywriter e depois como realizador de anúncios. Acabaria por virar-se para a escrita de argumentos, estreando-se, em 1971, com Melody, de Waris Hussein. Em 1976, realizou a sua primeira longa-metragem, o musical Bugsy Malone, em que crianças-actores como Jodie Foster ou Scott Baio faziam de de gangsters adultos. Trabalhou várias décadas com o produtor e realizador David Puttnam, que primeiro o encorajou a escrever filmes e produziu algumas das suas obras.

Entre esse primeiro filme e 2003, ano de Inocente ou Culpado?, o thriller sobre um activista anti-pena de morte que é condenado à pena de morte com que Alan Parker encerrou a sua carreira no cinema, o cineasta assinou vários filmes, muitos deles com finais poucos felizes e sem medo de abordar temas sensíveis. O Expresso da Meia-Noite, por exemplo, é uma adaptação escrita por Oliver Stone do livro autobiográfico e homónimo de Billy Hayes, estudante americano que passou vários anos na prisão na Turquia por ter tentado transportar haxixe para fora do país. Tanto Stone quanto Parker depois viriam a admitir remorsos em relação à forma como o filme pintava os turcos. Já Mississippi em Chamas lançava um olhar sobre uma investigação em torno do desaparecimento de três activistas dos direitos civis no Mississípi dos anos 1960, com o Ku Klux Klan como vilão e dois agentes brancos do FBI como heróis.

Manifestação do espírito ecléctico de Alan Parker, os seus filmes, alguns dos quais escritos pelo próprio, serpenteiam por géneros que vão do drama à comédia, passando pelo terror e pelo musical. Muitos deles foram grandes sucessos junto do público mas não da crítica. Contam-se, entre eles, títulos como Fama (1980)Pink Floyd The Wall (1982), Depois do Amor (1982), Birdy: Asas de Liberdade (1984), Angel Heart  Nas Portas do Inferno (1987), Os Commitments (1991), Sexo e Corn Flakes (1994), Evita (1996) ou As Cinzas de Ângela (1999). Ao longo dos anos, dirigiu Diane Keaton, Anthony Hopkins, Madonna, Albert Finney, Bob Hoskins, Mickey Rourke, Emily Watson, Robert De Niro, Kate Winslet, John Cusack, Gene Hackman, Matthew Modine, John Hurt ou Laura Linney.

Fora das câmaras, foi um dos fundadores da Directors Guild of Great Britain, a guilda dos realizadores britânicos que acabou em 2015. Foi nomeado Comandante da Ordem do Império Britânico em 1995 e em 2015 doou 40 anos dos seus arquivos ao British Film Institute, do qual foi presidente no final dos anos 1990.

No Twitter, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, organizadora dos Óscares, chamou a Parker “um camaleão” cujo trabalho “nos entreteve, nos ligou e nos deu um grande sentido de tempo e de sítio”. Já os membros do BFI mostraram-se “profundamente entristecidos”. Nomes com quem Parker trabalhou, como David Puttnam, que realçou à BBC “o talento” do seu “mais velho e mais próximo amigo”, John Cusack, que lhe chamou no Twitter “um grande realizador", ou Matthew Modine, que, na mesma rede social, afirmou que ter sido contratado para participar em Birdy: Asas da Liberdade "transformou” a sua vida, também reagiram à notícia da morte. 

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