Investigação de Trump sobre “caça às bruxas” pode ser conhecida a tempo das eleições

Presidente norte-americano mandou investigar as investigações sobre a interferência russa. Partido Democrata teme que os resultados sejam manipulados para o beneficiar em Novembro.

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William Barr, o procurador-geral norte-americano, é acusado pelos seus críticos de beneficiar o Presidente Trump LUSA/Chip Somodevilla / POOL

O procurador-geral dos Estados Unidos, William Barr, admitiu divulgar, nos próximos meses, um relatório crítico das investigações norte-americanas sobre a interferência russa que pode influenciar o resultado das eleições presidenciais de Novembro. A admissão, feita por Barr esta semana numa audição no Congresso, deixou o Partido Democrata receoso de um aproveitamento político que pode prejudicar o seu candidato, Joe Biden.

Em causa está uma investigação lançada por William Barr em Maio de 2019, três meses depois de ter chegado ao cargo por nomeação de Trump

Indo ao encontro da acusação do Presidente norte-americano de que as investigações sobre a interferência da Rússia nas eleições de 2016 foram uma “caça às bruxas” para impedir a sua vitória, o procurador-geral ordenou que todo esse processo fosse investigado, em particular o trabalho do FBI. 

A tarefa foi entregue a um experiente procurador norte-americano, John Durham, que representa o Governo federal do país no estado do Connecticut. E é o relatório dessas investigações, aguardado com muita expectativa pela base de apoio do presidente Trump, que William Barr admitiu divulgar antes das eleições presidenciais.

Questionado por uma congressista do Partido Democrata, numa audição perante a Comissão de Justiça da Câmara dos Representantes, sobre se podia comprometer-se em não divulgar um relatório sobre as investigações de Durham antes das eleições de Novembro, o procurador-geral norte-americano foi directo e sucinto: “Não.”

“Surpresa de Outubro”

A resposta de Barr alimentou a acusação, no Partido Democrata, de que o Departamento de Justiça e a Casa Branca estão a preparar em conjunto uma “surpresa de Outubro” – uma expressão usada na política norte-americana para descrever um acontecimento inesperado que abala a campanha eleitoral nos últimos dias antes das eleições.

Em Outubro de 2016, por exemplo, houve três acontecimentos que entraram para essa lista: a divulgação de um vídeo em que Trump surge a vangloriar-se de forçar contactos sexuais com mulheres; o início da publicação de emails do então director de campanha de Hillary Clinton, John Podesta (meia hora depois da divulgação do vídeo de Trump); e o anúncio do então director do FBI, James Comey, de que a investigação sobre os emails de Clinton iria ser reaberta.

Desta vez, o Partido Democrata receia que o relatório do procurador Durham venha a ser usado para reforçar a crença, disseminada nos meios mais conservadores norte-americanos, de que a Administração Obama – incluindo o então vice-presidente, Joe Biden – engendrou um plano com a conivência da CIA e do FBI para atacar Donald Trump antes e depois da sua eleição.

“Existe o perigo e a ameaça de que tudo o que Departamento de Justiça faça seja programado para ajudar o Presidente. Barr já mostrou que está pronto para distorcer, distrair e enganar”, disse o senador Richard Blumenthal, do Partido Democrata, ao Washington Post.

FBI em causa

Apesar de a interferência da Rússia nas eleições de 2016 ter sido confirmada em investigações do FBI, do procurador especial Robert Mueller e também da Comissão de Serviços Secretos do Senado norte-americano (na qual o Partido Republicano está em maioria), um relatório do inspector-geral do Departamento de Justiça publicado em Dezembro apontou falhas graves na forma como o FBI justificou a sua investigação inicial em 2016.

Em particular, foram detectadas omissões e extrapolações em dois dos quatro pedidos do FBI para espiar Carter Page, peça fundamental nas suspeitas iniciais de conluio entre a Rússia e a campanha de Donald Trump.

No seu relatório, o procurador especial Robert Mueller disse que ficou provada a campanha de manipulação e propaganda da Rússia e apresentou dez situações que, no seu entender, poderiam ser consideradas como obstrução da Justiça por parte do presidente Trump. Mas deixou essa avaliação para outras instâncias, considerando que o seu mandato não incluía a recomendação de fazer acusações formais; e disse que não encontrou provas de uma coordenação entre Moscovo e a campanha de Trump.

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