Coronavírus

“O medo não nos vai encher a barriga”: indianos arriscam a vida nos aterros

Com o aumento do desperdício médico causado pela pandemia de covid-19, os colectores de lixo de Nova Deli, na Índia, arriscam a vida todos os dias. 

Adnan Abidi/Reuters
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Adnan Abidi/Reuters

Há 20 anos que Mansoon Khan e a sua mulher, Latifa Bibi, apanham bocados de plástico e outros itens num enorme aterro nos subúrbios de Nova Deli, na Índia. Os cinco dólares (4,25 euros) que recebem diariamente permitem que os filhos frequentem a escola, na expectativa de que tenham um futuro melhor do que os pais. Mas, nos últimos meses, o aumento significativo de desperdício biomédico tem chegado à lixeira, como resultado da pandemia do novo coronavírus, dizem os especialistas, e constitui um grande risco para aqueles que trabalham no aterro. 

Espalhado por 21,5 hectares e a crescer até mais de 60 metros, este lugar está repleto de kits de plástico de teste ao novo coronavírus, equipamento de protecção e algodão manchado de sangue. Tudo isto no meio de centenas de toneladas de desperdício vindo diariamente da capital indiana, incluíndo de pequenos hospitais e lares de idosos. 

Separando o lixo com as próprias mãos, centenas de colectores de lixo, incluindo crianças, expõem-se à doença que já infectou mais de 17 milhões de pessoas globalmente e que já roubou mais de 660 mil vidas. A Índia já reportou quase 1,2 milhões de casos, ficando apenas atrás dos Estados Unidos e do Brasil. 

Khan, de 44 anos, está ciente dos perigos, mas sente que não tem escolha. "E se morrermos? E se tivermos esta doença? Mas o medo não vai encher as nossas barrigas, é por isso que temos de fazer este trabalho", contou à Reuters, à frente da sua casa de betão com dois quartos, construída ao pé de uma montanha de lixo. Bibi, de 28 anos, revelou preocupação em levar a infecção para casa, contaminando os filhos de 16, 14 e 11 anos. "Quando venho daqui, tenho medo de entrar em casa porque tenho crianças lá. Temos mesmo medo desta doença", acrescenta. 

Dinesh Raj Bandela, um especialista em desperdício biomédico no grupo de reflexão de Nova Deli do Centro para a Ciência e o Ambiente, declarou que há protocolos claros estabelecidos pelo regulador da poluição nacional para eliminar o desperdício biomédico. Porém, os mesmos não estão a ser seguidos durante o surto, afirmou, pondo aqueles que separam lixo em aterros em risco de contrair o novo coronavírus e outras doenças, desde hepatite ao VIH. Nem a Corporação de Deli do Norte, que dirige o aterro, nem o Painel de Controlo de Poluição Central da Índia responderam imediatamente aos pedidos de comentário. De acordo com Bandela, a capital indiana costumava produzir quase 600 toneladas de desperdício médico por dia, mas aumentou em mais de 100 toneladas desde que o vírus a alcançou.  

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