Bares abertos até às 20h? Medida é “portão para encerrar mais empresas e para aumentar o desemprego”

Associação de Bares da Zona Histórica do Porto diz que estas medidas vêm “agravar a situação”. Para o presidente da associação, a solução passa por fundos perdidos.

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rui gaudencio

Bares e discotecas vão poder abrir em todo o país, até às 20h, tal como revela o PÚBLICO esta quinta-feira. A regra foi aprovada hoje em Conselho de Ministros e anunciada pela ministra de Estado e da Presidência. Em reacção, o presidente da Associação de Bares da Zona Histórica do Porto (ABZHP) diz que esta medida irá agravar a situação económica do sector.

“Um bar fecha às 20h e um restaurante às 23h ou à meia-noite? Andamos a brincar”, começa por dizer António Fonseca da ABZHP. “Não faz qualquer sentido”, afirma, explicando que ficou surpreso com a notícia quando a leu.

“Gostava de saber com quem é que o Governo anda a falar”, acrescenta, relembrando que o sector é “essencial para a sociedade” portuguesa. 

Na perspectiva da Associação Portuguesa de Hotelaria, Restauração e Turismo (APHORT) esta é uma medida que vem tarde e gera confusão. A associação já tinha desafiado previamente os donos de espaços de diversão nocturna a reabrirem com regras semelhantes às dos cafés. No entanto, em comunicado, a associação indica que a medida “está longe de ser ideal”. 

A APHORT também discorda das discrepâncias no horário de funcionamento dos estabelecimento: “Não faz sentido nenhum, já que todos estes estabelecimentos irão estar, de forma genérica, sujeitos às mesmas regras (...) no actual contexto, o horário deve ser igual para todos. Estas regras diferenciadas só vêm gerar uma confusão desnecessária, quer junto dos empresários, como dos trabalhadores, e até mesmo junto das autoridades de segurança”, defende Rodrigo Pinto Barros, presidente da associação.

O presidente da ABZHP espera que o Governo “volte atrás”, pois considera que está a ser aberto “um portão para encerrar mais empresas e para aumentar o desemprego”. “É um equívoco legislativo”, acrescenta. Ao contrário do esperado com a reabertura dos espaços, António Fonseca pensa que estas medidas vêm “agravar a situação”. 

Para António Fonseca, a solução passa por fundos perdidos. “Se a questão é uma questão de saúde pública, se não querem que as discotecas e os bares abram, só há uma solução: paguem para estar fechados, pagar as despesas permanentes, nomeadamente os encargos com os trabalhadores a 100%, as rendas” e outros, diz. 

José Gouveia, presidente da Associação de Discotecas de Lisboa, em declarações à agência Lusa questiona “se o Estado de uma vez por todas quer aniquilar o sector”, pois os empresários estão a atravessar uma época difícil, visto que “Agosto será o sexto mês [com custos e sem receitas]”.

“Aquilo que nós continuamos a aguardar são os apoios do Estado para a manutenção dos espaços encerrados, porque não se entende - no que está decretado - que as discotecas vão virar pastelarias ou snack-bar, ou restauração, ou o que seja”, diz. 

O PÚBLICO contactou ainda a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal que preferiu não comentar a situação até que o decreto-lei seja divulgado. 

Os proprietários de bares e discotecas podem não optar por abrir como cafés e pastelarias, permanecendo sem qualquer funcionamento, podem beneficiar do regime de layoff simplificado, que se aplica aos encerramentos por decisão administrativa.

Já os que quiserem avançar com esta possibilidade podem beneficiar do novo layoff aprovado na segunda-feira para empresas com quebras significativas na facturação, além do apoio à retoma já anteriormente aprovado, especificou, esta quinta-feira, a ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva​.

Os bares e discotecas têm sido associados a novos surtos de covid-19 um pouco por todo o mundo. Em Espanha, algumas regiões voltaram a encerrar espaços de lazer nocturno depois de haver contágios associados aos mesmos, como em Córdoba, onde cerca de uma centena de pessoas ficaram infectadas, segundo o jornal El País. Também nos Estados Unidos ou no Reino Unido têm surgido alguns focos associados a bares. 

Em Portugal as empresas do sector de diversão nocturna foram das primeiras a fechar, em Março. Em todas as etapas do desconfinamento sido postas de parte apesar das reclamações do sector. 

Com Lusa

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