Um prato, um peixe ou um fígado: tudo cheio de plástico, para nos lembrar que estamos a ingeri-lo

António Coelho
Fotogaleria
António Coelho

A simplicidade é a chave desta série criada por António Coelho. "Utilizar materiais simples e, com esses materiais, criar imagens, também elas simples", mas que nos deixem a pensar. É o que acontece quando vemos um peixe a verter pedaços de plástico, um prato de esparguete que não o é, ou um ovo estrelado feito de tampas. Tudo aborda a mesma ideia: a ingestão de micropartículas de plástico que já fazem parte da dieta dos animais e humanos

A série surgiu em 2018, quando o fotógrafo de 38 anos, natural de Paredes, decidiu criar "aquilo que se assemelhava a um fígado a partir de cartão". Em conversa com o director da antiga revista O Mundo da Fotografia, foi desafiado a fotografar mais cenários do género: "A partir daí, começou a ideia de pegar em materiais recicláveis, à base de plástico, papel e cartão, e fazer algo mais virado para o problema do plástico, dos materiais que não reciclamos ou que utilizamos de forma exagerada", conta. Mas só no final de 2019 é que levou a ideia "um bocadinho mais a sério" e fez nascer o conjunto de fotografias que agora partilha com o P3. À série, juntou também uma imagem de um globo que utiliza máscara, amparado pelas mãos de uma criança. Símbolo da pandemia que vivemos, mas também uma mensagem de esperança.

Os tons, o contraste e a utilização de cores opostas são determinantes para construir um cenário apelativo, mas que também ofereça "algo mais". Seja esse alertar de consciências, seja uma crítica — como é o caso da fotografia onde surgem embalagens em forma de pato (imagem 9 da fotogaleria). "Parece que há lá um patinho feio. É que, se pensarmos, todos criticamos o plástico, mas também o utilizamos", afirma. E, defende, o plástico teve aplicações importantes em diversas áreas: "O que é mau é a forma não racional do seu uso." 

Parte desta série, "uma vez que o conjunto ainda não estava totalmente concluído", recebeu uma menção honrosa nos Annual Photo Awards de 2019. As imagens estão também nomeadas na categoria Natureza Morta e Conceptual dos Fine Art Photography Awards 2020. E estes não são os únicos prémios que António — que começou a fotografar durante a lua-de-mel em Cuba, em 2010, e se fez fotógrafo de forma autodidacta — soma: em 2018 venceu os Sony World Photography Awards, em Portugal; e este ano voltou a repetir a proezacom uma imagem da paisagem do Dubai construída a partir de agrafos — mas sem direito a cerimónia, devido à pandemia. 

Por agora, quer dedicar-se a "um estudo do ciclo cromático, dentro do âmbito da natureza", repescar uma série de fotografias feitas em cidades que visita e às quais dá uma ideia de movimento, e fotografar o Mercado do Bolhão, assim que esteja aberto e requalificado, para completar um conjunto de imagens que mostram a degradação do edifício antes da intervenção. A série do plástico também deverá ser alargada: afinal, "o problema existe, persiste e vai continuar".

António Coelho
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