E agora, dr. Rui Rio?

Por que não perde António Costa uma oportunidade para humilhar quem lhe estende a mão? Por que está apostado em demonstrar ao PSD, como já o fez com o CDS, da inutilidade do seu dirigente?

Ao ver o dr. Rui Rio sair, cabisbaixo, da discussão sobre o Estado da Nação em S. Bento, ficamos na dúvida sobre por que razão sorri o dr. António Costa, depois de ter protagonizado mais uma coça a um dirigente partidário.

Não é a primeira vez que o primeiro-ministro faz uso dos seus poderes oratórios para destruir pontes à direita e, pelo caminho, queimar politicamente quem lhe estende um ramo de oliveira. Foi o que aconteceu com Assunção Cristas, que tentou variadas vezes mostrar uma atitude construtiva para a resolução dos problemas do país. Mas Costa não queria. Preferiu zurzir-lhe com toda a força e engenho, até que o CDS intuiu da inutilidade da situação e, com a direcção política em chamas, viu o seu espaço ser ocupado pela “luz brilhante” de André Ventura... Fica por perceber qual o ganho para o país daquela atitude do primeiro-ministro, mas a procissão ainda vai no adro.

Entra depois o dr. Rui Rio para a liderança de um partido muito marcado pelos difíceis momentos da troika. Rui Rio vinha com a enorme vantagem – não entendida imediatamente no seio do seu partido – de ser um homem livre de amarras ideológicas, um homem que diz o que pensa sem os chavões da política sectária ou partidária e que, por isso mesmo, é compreendido e admirado pelo povo que gosta de ouvir quem acha que lhe fala verdade. Como esquecer que um presidente da Câmara do Porto tenha dispensado a muleta do omnipotente futebol e exercido o seu mandato apenas no interesse dos seus concidadãos, mesmo contra os interesses do desporto-rei?

Uma vez chegado à liderança do partido, Rui Rio empenha-se em ser útil ao país, sem quaisquer complexos por estar na oposição. Considerando o estado calamitoso em que nos encontrávamos, Rui Rio não vai ter problemas, nem ideológicos nem psicológicos, em assumir a necessidade de ajudar o Governo que tem a infelicidade de dirigir o país nesse penoso momento. E aqui vem a dificuldade em perceber o que pretende o primeiro-ministro quando insulta Rui Rio no Parlamento. Por que não perde António Costa uma oportunidade para humilhar quem lhe estende a mão? Por que está apostado em demonstrar ao PSD, como já o fez com o CDS, da inutilidade do seu dirigente? Para onde vai depois olhar o PSD à procura da sobrevivência? Será que vai oferecer o trono a Ventura, já que este não tem problemas em insultar em permanência o primeiro-ministro?

Destruídas as pontes à direita, como poderá ser construído o programa económico de salvação nacional? Quem irá assumir e defender, perante os portugueses, medidas forçosamente complicadas de perceber e de implementar? Quem irá apoiar os empresários de cujos sucessos dependerá a nossa existência? Será que, para este esforço nacional, vamos ter apenas o apoio do Partido Comunista, que fossilizou uma moldura cultural já mastigada pela História e que hoje mais não tem para oferecer do que a fé no vazio e um caixote de chavões para animar a malta? Será que a salvação virá do Bloco de Esquerda, guardiões de uma moral imaginada e totalmente desligada dos mecanismos que nos dão, pelo trabalho, o pão e a habitação? Ou acha-se o PS capaz de sozinho salvar o país, nadando na piscina dos euros, enquanto coloca a extrema-esquerda na galeria dos convidados, com a indicação de que se devem portar bem?

Portugal está num momento absolutamente crítico. Estamos falidos, atingidos pela pandemia que assola o mundo e sem recursos próprios para vencer a peste e a desolação económica. Vamos ter, graças aos astros europeus, alguns instrumentos financeiros de dimensão para nós inimaginável a que poderemos lançar mão para fazer desta terra uma coisa nova e habitável. Mas o acesso a esses instrumentos vai exigir que Portugal faça a demonstração da racionalidade económica e política. Não basta apenas que sejam satisfeitas as reivindicações dos trabalhadores da função pública e construídas instalações adequadas ao bem-estar dos animais domésticos.

Eventualmente, a própria Comissão Europeia, depois do que passou para salvar o pacote de recuperação europeia, pode vir a ter muitas dúvidas em entregar fundos para projectos em Portugal que não tenham qualquer outra utilidade que não seja a de satisfazer os preceitos ideológicos do PC e do BE. Ou, então, que sejam projectos tão impopulares que venham a ser postos em causa logo nas próximas eleições parlamentares.

Merecemos mais.

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