Livro dos arquitectos Santiago Baptista e Rita Pais ganha Prémio FAD 2020

A dupla portuguesa venceu na categoria de Pensamento e Crítica.

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Os autores do livros, os arquitectos Maria Rita Pais e Luís Santiago Baptista, no Panorâmico de Monsanto, um dos locais visitados Rui Gaudencio

O livro Viagem ao Invisível, de Luís Santiago Baptista e Maria Rita Pais, foi distinguido com um dos Prémios FAD anunciados esta terça-feira em Barcelona via teleconferência. Os dois arquitectos, premiados na categoria Pensamento e Crítica, foram os únicos portugueses distinguidos na 62.ª edição dos Prémios de Fomento das Artes e do Desenho (FAD), atribuídos anualmente pela associação cultural independente Arquinfad e considerados os mais importantes prémios dedicados à arquitectura na Península Ibérica.

O júri desta categoria foi presidido por André Tavares, curador para a área de arquitectura do Centro Cultural de Belém, e contou ainda com os vogais Carolina B. García-Estévez e Marc Longaron.

Viagem ao Invisível: espaço, experiência, representação, editado pela Purga, foi escolhido entre três finalistas, depois de uma primeira selecção de sete propostas entre as 72 obras apresentadas a concurso.

Na sua justificação, o júri destaca a dificuldade de escolher um vencedor neste momento de grande incerteza, entre um amplo conjunto de trabalhos com enorme potencial crítico e intelectual: “Viagem ao Invisível evoca o formato dos livros exploradores de um mundo desconhecido. Um colectivo de autores, dentro e fora da disciplina, articula pontos de vista cruzados para reconstruir uma paisagem e território subjectivos, numa busca do novo a partir da espontaneidade de quem viaja.”

A viagem de Luís Santiago Baptista e Maria Rita Pais passou por Lisboa, Setúbal, Caxias, Vila Viçosa, Évora, Arrábida e Caldas da Rainha, visitando casas particulares habitadas e devolutas, minas e estaleiros desactivados, grandes pedreiras e conventos – sítios capazes de mostrarem “o avesso da nossa cultura arquitectónica, a que está inscrita, documentada”, como explicaram ao PÚBLICO numa reportagem que acompanhou o projecto em 2017. O percurso de três dias envolveu arquitectos, artistas plásticos, programadores de museus, geógrafos, professores ou críticos.

“Embora o prémio seja atribuído ao livro, o nosso projecto é mais vasto do que isso”, explicou esta terça-feira ao PÚBLICO Luís Santiago Baptista. “Ele começou por ser uma viagem, resultado de um concurso lançado pela Ordem dos Arquitectos (Secção Regional Sul) para se organizar um roteiro. Logo nessa altura convidámos uma série de pessoas, sem grande compromisso, mas já com a possibilidade de se fazer alguma coisa a posteriori.”

Depois, o projecto procurou apoio da DGArtes para uma exposição, um segundo momento que se realizou no Teatro Thalia, em Lisboa. Na altura da impressão, entrou igualmente o apoio da Fundação Serra Henriques, tendo os autores, que se assumem como coordenadores de uma vasta equipa, optado por realizar uma edição independente. “A Purga é na verdade uma editora de um livro só.”

O livro é como se fosse “um momento final”, resume Santiago Baptista. “Faz um registo do percurso ao mesmo tempo que teoriza sobre o que significou a viagem para os arquitectos ao longo dos séculos. Depois reflecte sobre a ideia de exposição e a ideia de arquivo, sobre como é que nós contamos hoje as histórias a partir das representações. No livro temos desde projectos e desenhos dos arquitectos a fotografias documentais, documentos da censura, textos literários, porque é uma tentativa de expandir para o invisível a leitura dos edifícios e não ficarmos meramente pelo meio mais estrito normalmente usado pelos arquitectos.”

O colectivo de autores referido pelo júri pode ser dividido entre “viajantes” e “não viajantes”. No primeiro grupo, estão investigadores e artistas como Álvaro Domingues, Nuno Cera, Tatiana Macedo, Ricardo Castro, Spela Hudnik e Ricardo Jacinto, que assinam vários ensaios artísticos mas também textos críticos; no segundo, autoras de ensaios críticos Eliana Sousa Santos, Inês Moreira, Susana Oliveira e Susana Ventura, que os coordenadores sentiram necessidade de incluir depois da viagem feita.

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O júri do Prémio de Arquitectura destacou a cuidadosa exploração tipológica do bloco isolado de apartamentos, “que incorpora pátios e perfurações do volume para gerar espaço comunitário"

O Prémio FAD de Arquitectura — o principal entre as várias categorias atribuídas — foi para um bloco de habitação social em Sant Boi de Llobregat (Barcelona), dos arquitectos Juan Herreros  Jens Richter, Mariona Benedito e Martí Sanz Ausàs. O júri destacou a cuidadosa exploração tipológica do bloco isolado de apartamentos, “que incorpora pátios e perfurações do volume para gerar espaço comunitário como um local de transição entre a grande escala de uma situação externa ainda em construção e a escala doméstica, humana e acolhedora de habitação”.

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