Espanha tenta defender ilhas de quarentena imposta pelo Reino Unido aos seus turistas

Madrid argumenta com dados epidemiológicos para excepção de Baleares e Canárias. Governo do Reino Unido diz que pode voltar a aplicar medidas como esta, de surpresa, a outros países.

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Praia na ilha de Menorca: as Baleares têm uma taxa de infecção muito menor que a do Reino Unido David Arquimbau Sintes/EPA

Espanha tentava esta segunda-feira que o Reino Unido aprovasse uma excepção para as ilhas Baleares e Canárias e que não impusesse aos seus turistas que as visitassem uma quarentena obrigatória no regresso ao Reino Unido. O Governo britânico surpreendeu todos quando, no sábado, anunciou que quem entrasse no Reino Unido vindo de Espanha teria de cumprir duas semanas de quarentena a partir da meia-noite de domingo.

Um dos surpreendidos foi o secretário de Estado dos Transportes, Grant Shapps, cujo departamento é responsável por estas decisões relativas a corredores aéreos. Shapps acabara de chegar a Espanha para férias no sábado e, apesar de inicialmente ter sido dito que as iria continuar, esta segunda-feira, anunciou que regressava já na quarta-feira, para cumprir a quarentena no tempo em que deveria estar de férias e voltar ao trabalho sem restrições.

Em Espanha tentava-se evitar um rude golpe para um sector essencial. “Não só é injusta, como totalmente ilógica e não tem qualquer rigor”, foi o comentário da principal associação hoteleira de Espanha, CEHAT, citada pela agência Reuters, à medida britânica. O presidente, Jorge Marichal, disse num vídeo publicado nas redes sociais que, face ao decidido, a associação estava disposta a cobrir o custo dos testes aos britânicos no seu regresso, para que não tivessem de cumprir a quarentena. 

A razão invocada por Londres foi o rápido aumento de casos em Espanha, e o Governo acrescentou que poderia tomar decisões semelhantes em relação a outros países caso se justificasse. No fim-de-semana, o Ministério da Saúde de Espanha reportou 6361 novos casos, informando que monitorizava 361 surtos no país. No entanto, estes surtos estão localizados, afectando sobretudo a Catalunha e Aragão, e o número de mortes é baixo — seis na última semana, dois esta segunda-feira. 

A ministra dos Negócios Estrangeiros de Espanha, Arancha González Laya, esforçou-se por repetir que os problemas são localizados e que a Espanha é um destino seguro. As restantes regiões espanholas têm taxas de infecção mais baixas do que o Reino Unido.

“Tal como outros países europeus, Espanha tem surtos”, disse González Laya. “Isso não é uma excepção. O mais importante é que Espanha está a fazer um grande esforço para controlar estes surtos, um esforço para identificar os casos de pessoas que testam positivo para o coronavírus”, declarou. A OMS, pelo seu lado, elogiou o sistema de vigilância que está em vigor em Espanha.

Turistas britânicos em Espanha ouvidos pela Reuters diziam e repetiam que as medidas de prevenção são melhores onde estão  máscaras, higienização de mãos nas lojas, etc. “Isto é ridículo”, reagiu John Snelling, 50 anos, de Stratford-upon-Avon, de férias em Menorca. “Aqui quase não há casos. Tenho muito mais hipótese de contrair o vírus quando voltar.”

“Compreensão” dos empregadores

O Governo pediu “compreensão” aos empregadores dos turistas que vão regressar, entretanto, e têm de cumprir a quarentena. O Partido Trabalhista, na oposição, pediu ao Executivo que ajudasse os empregados que agora tinham de comunicar a obrigação de fazer quarentena, avisando que muitas pessoas poderiam passar por dificuldades financeiras se tiverem de ficar duas semanas sem poder trabalhar.

O tablóide The Sun afirmava que Londres estava a considerar a excepção para Baleares e Canárias pedida por Madrid — a taxa de infecção ali é muito mais baixa do que na maior parte do Reino Unido. Espanha esperava poder ter esta decisão o mais rápido possível — todos os minutos contam quando operadores turísticos e companhias aéreas cortam programas e voos, desde a operadora turística Tui (que manteve apenas as Baleares e Canárias como destino) à low-cost Jet2.com.

A British Airways e a EasyJet decidiram, no entanto, manter as suas rotas, não poupando no entanto críticas à medida. Esta “trará ainda mais prejuízo para a já de si frágil tentativa de recuperação da actividade do sector, que enfrenta o maior desafio da sua história”, disse a Associação de Operadores de Aeroportos (AOA).

Cerca de um quinto dos turistas estrangeiros em Espanha são do Reino Unido, à volta de 18 milhões de britânicos visitaram o país, e os seus destinos preferenciais são as Baleares, Canárias, Costa del Sol e Costa Blanca.

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