Paulo Flores apresenta Narrativa no Espelho d’Água e prepara Independência

Paulo Flores esgotou por duas noites a lotação do Espelho d’Água, em Lisboa, e vai voltar uma terceira, em Agosto, para apresentar o projecto Narrativa, enquanto prepara um novo disco para Novembro: Independência.

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Paulo Flores SÉRGIO AFONSO

O cantor e compositor Paulo Flores, uma das referências da música angolana contemporânea, esgotou o Espaço Espelho d’Água no dia 18 de Julho, volta a actuar ali este sábado, às 22h30 (também com lotação esgotada) e regressará àquele espaço, noutro sábado, 29 de Agosto. Estes concertos inserem-se no ciclo SomSabor, que decorre naquele espaço em Belém, desde 11 de Julho.

“Este é um show que eu tenho estado a experimentar, que se chama Narrativa”, diz Paulo Flores ao PÚBLICO. “Estou a finalizar um álbum para Novembro, que se vai chamar Independência. É um álbum dentro da musicalidade que eu costumo fazer. E este show que estou a rodar quero também gravá-lo, em 2021, num disco que vai ter fados, mornas, canções de amor e outras influências, mas com composições minhas. Ou seja, tudo aquilo que de alguma forma me influenciou, sem ser só de Angola, desde a Amália Rodrigues, o Ary dos Santos, as músicas de Cabo Verde e do Brasil, com composições que eu criei nesse registo, como Fado Lisboa, um inédito que fiz para Lisboa.” No fundo, diz, “é um pouco a minha vivência, o meu amor a Lisboa e a toda essa musicalidade.”

Espelho do meu caminho

Nascido em Luanda, no dia 2 de Julho de 1972, Paulo Flores lançou o seu primeiro álbum em 1988, Kapuete. Mas foi já nos anos 2000 que foram editados os seus trabalhos mais marcantes, desde Recompasso (2001) e Xé Povo (2003) a Ex-Combatentes (em triplo CD, 2009), O País Que Nasceu Meu Pai (2013), Bolo de Aniversário (2016) e Kandongueiro Voador (2017).

Os concertos que deu em 2019, tal como os que agora o levam ao Espelho d’Água, ditarão o conteúdo do disco Narrativa, a editar até ao fim do próximo ano. Uma parte são originais, mas há também releituras, diz Paulo: “Há uns que são versões e são também o espelho do meu caminho. Canto Os meninos do Huambo, do Manuel Rui Monteiro e do Ruy Mingas; canto Yaya massemba [de Roberto Mendes e Capinan], que já tinha gravado no Kandongueiro Voador e é uma viagem pela escravidão, pela sonoridade do samba e do semba e essas influências; e há uma releitura que eu faço, e que as pessoas gostaram, do Menina, estás à janela, do Alentejo, com outra abordagem melódica. Depois canto o É Luanda, do André Mingas, mais no fim do show, e o resto são músicas minhas.”

Com Paulo Flores, estão cinco músicos: Diogo Guanabara (bandolim e violão), Mayo Bass (baixo), Manecas Costa (guitarra), Kiari Flores (filho de Paulo, no cajón) e Serginho Mota (violão). “A ideia é um pouco fazer essa viagem mais melódica, mais pela melodia e pelas palavras do que pelo ritmo”

O primeiro concerto no Espelho d’Água, com lotação esgotada (respeitando as distâncias e regras de segurança ditadas pela pandemia), animou-o. “Gostei muito. Nós já tínhamos feito uma abordagem no ano passado, com três shows, mas agora juntei o Manecas e o Kiari, tivemos alguns ensaios e já há coisas que são mesmo para ficar no disco, com arranjos definidos. Além disso, o espaço é lindíssimo, há uma comunicação com a cidade e com o rio, que dá uma ambiência incrível. Foi muito especial.”

Onze canções, no dia 11/11

Durante a pandemia, Paulo Flores fez um directo, ao vivo (transmitido em 28 de Junho) com Bonga e Yuri da Cunha, que diz, ele, “foi muito bem recebido”: “Angola praticamente parou, mesmo em Cabo Verde, Moçambique, Portugal, teve muita visibilidade. Agora no dia 17 de Setembro vou fazer um live só meu. É um pouco por aí. A única coisa dos concertos que tínhamos que não desmarcaram, e voltaram a confirmar, é um show dia 10 de Outubro em Paris, num festival.”

Voltando aos discos projectados por Paulo Flores, Independência deverá sair no dia 11 de Novembro (11/11) e terá 11 músicas, tudo para jogar com a data da independência de Angola (11/11/1975). “Vai um pouco fazer uma leitura minha destes 45 anos de independência.” Uma leitura a juntar às muitas que foi fazendo da realidade angolana, ao longo de muitas canções.

Este ciclo de concertos no Espelho d’Água, como já foi anunciado, juntam música, gastronomia e tertúlias, com bilhetes vendidos conjuntamente para os jantares e os espectáculos. Este fim-de-semana, o chef convidado é Umaro Baldé. Quanto à música, sexta-feira foi o dia de Gonçalo Sousa com o Duo Novelo, formado por Carlos Garcia e Juliana Branco; este sábado actuará Paulo Flores; e domingo, antes do jantar, haverá pelas 18h30 uma tertúlia onde José Eduardo Agualusa recebe Zetho Cunha Gonçalves e Yara Monteiro. No último dia do mês, sexta-feira 31, Gonçalo Sousa recebe Yami Aloelela e Vicky Marques. Nessa sessão, o chef convidado será José Júlio Vintém.

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