Bugs Bunny faz 80 anos. E Jim Carrey, Conan O’Brien e Jerry Seinfeld devem-lhe a carreira

“Não haveria Jim Carrey se não tivesse havido Bugs Bunny, nem Conan O’Brien ou Jerry Seinfeld”, diz Peter Browngardt, o showrunner e actual director criativo da série da HBO New Looney Tunes. O arqui-inimigo do caçador Elmer Fudd, com quem aprendemos a perguntar What’s up, Doc?, nasceu a 27 de Julho de 1940.

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A personalidade mordaz do desenho animado Bugs Bunny, que faz 80 anos a 27 de Julho, inspirou gerações de comediantes e fãs de forma indelével, disse à Lusa o showrunner e actual director criativo dos novos Looney Tunes, Peter Browngardt.

“Não haveria Jim Carrey se não tivesse havido Bugs Bunny, não haveria Conan O'Brien nem Jerry Seinfeld”, considera. “Estes desenhos animados influenciaram gerações e gerações de escritores, músicos, comediantes e artistas de todos os tipos”, acrescenta Browngardt, que é responsável pela série New Looney Tunes da HBO.

“Os clássicos resistem ao tempo e penso que os [episódios] que estamos a fazer prestam homenagem e são fiéis a estes personagens”, continua.

Para assinalar os 80 anos de Bugs Bunny, que nasceu a 27 de Julho de 1940, no episódio A Wild Hare ("Uma lebre selvagem"), da Warner Bros., dirigido pelo histórico Tex (Fred) Avery, o canal Boomerang vai ter um especial de programação em Agosto.

Em português, o coelho conhecido por perguntar “Eh, what's up, Doc?”, no timbre célebre de Mel Blanc, fala pela voz de Ricardo Monteiro, que em criança “delirava” a ver os Looney Tunes.

“Era uma figura de referência da minha infância”, diz o actor à Lusa, referindo que dar voz a Bugs Bunny foi desafiante e quase teve um elemento de incredulidade. “Foi um processo de gestão emocional bastante interessante, não uma coisa dura, mas intensa.”

Os novos episódios são um regresso ao estilo clássico e original dos Looney Tunes, o favorito de Peter Browngardt. “Gosto muito da versão antiga do Bugs Bunny, em que ele era mais dinâmico como personagem. Gosto daquela energia, do facto de ele às vezes falhar e ficar chateado e emotivo”, explica o showrunner.

Browngardt considera que a longevidade de Bugs Bunny se deve à intemporalidade das suas características e ao facto de funcionar como “um espelho” da humanidade.

“Se o ‘Bugs’ tem 80 anos e estamos aqui a falar dele é porque a sua personalidade é tão identificável e rica”, argumenta. “Todos vemos um pouco de nós no Bugs Bunny. Ele tem todos estes traços fantásticos que ambicionamos ter: é alguém que defende os indefesos, luta contra os bullies, é um viajante, tem várias identidades.”

Para Ricardo Monteiro, esta popularidade junto de crianças e adultos deve-se a essa imagem de alguém que consegue fazer traquinices sem malícia. “E muito pelo contrário”, continua, “contra aqueles que de vez em quando lhe querem pregar partidas, ele de uma forma muito inteligente, muito subtil, divertida, brincando com a situação, consegue dar a volta e sair sempre o herói da história”.

Nesta nova versão, recuperando os clássicos iniciais, há algumas peripécias em que Bugs Bunny não sai logo ganhador. “Mas depois dá a volta à situação e creio que isso é também uma forma de inspirar a que nunca se deve desistir para ultrapassar as dificuldades”, frisa Ricardo Monteiro. “Talvez seja essa uma das razões, na minha convicção, que fazem com que o Bugs Bunny seja tão popular”.

Bugs Bunny, diz o actor, é divertido, enérgico, bem-disposto e sorridente. “É um coelho que acarreta sempre com ele uma energia muito positiva, muito boa vibração. Isso influencia as pessoas, olhamos e sentimo-nos logo ligados àquela boa energia, mesmo que até estejamos menos bem.”

Também por isso é um personagem multigeracional, nota Peter Browngardt. “Os desenhos animados foram rotulados como uma coisa para crianças e não são. São peças de entretenimento que, se forem feitas correctamente, como os Looney Tunes clássicos foram, falam para todas as idades.”

O produtor admite que algumas pessoas podem ter receio de expor a audiência mais nova aos Looney Tunes por causa da violência espampanante que caracteriza a série, mas defende que, no contexto, ela não é injusta ou gratuita. “A coisa fantástica nos desenhos animados é que os personagens não morrem, voltam sempre. Esse surrealismo e essa tolice negam qualquer verosimilhança à violência.”

A equipa decidiu, ainda assim, afastar Elmer Fudd e Yosemite Sam das espingardas e pistolas que brandiam nos episódios clássicos, devido aos tiroteios em massa que assolam a América moderna.

Além de Bugs Bunny, que se mantém o símbolo da Warner Bros., outros personagens icónicos dos Looney Tunes são Daffy Duck, Taz, Speedy Gonzalez, Papa-Léguas (Bip Bip) e Coiote, sem esquecer Porky Pig, Foghorn Leghorn ou Pepe le Pew, Tweety ou Sylvester, o gato. Ao longo dos anos, eles mobilizaram cineastas como Chuck Jones, Friz Freleng, Bob Clampett e Frank Tashlin, além do histórico Tex Avery.

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A família Looney Tunes DR

Bugs Bunny, que a Academia de Hollywood distinguiu com um Óscar de melhor curta-metragem de animação, em 1958, pelo filme Knighty Knight Bugs, de Friz Freleng, somou no entanto diversas nomeações, logo a partir da estreia, em 1940.

A Wild Hare foi o primeiro filme em que surgiu com a voz de Mel Blanc e a aparência mais próxima da consagrada. É também aquele em que faz do caçador Elmer Fudd o seu arqui-inimigo e no qual, pela primeira vez, pronuncia a frase “What's up, Doc?”.

Ao longo da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Bugs Bunny foi uma das “estrelas” de Hollywood que apoiaram a propaganda das forças aliadas, com filmes como Bugs Nips the Nips, de 1944, em que enfrentava forças japonesas.

Os Looney Tunes clássicos somaram perto de 30 nomeações para os Óscares, em pouco mais de 20 anos (de meados da década de 1930 à de 1960), tendo conquistado cinco “estatuetas” douradas de melhor curta-metragem de animação.

O especial com que o canal Boomerang vai comemorar o aniversário de Bugs Bunny está marcado para os dias 22 e 23 de Agosto, com uma selecção das melhores aparições na série New Looney Tunes e os filmes Bugs Bunny 1001 Histórias de Coelho e Looney Tunes: A Fuga dos Coelhos.

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