Dois concertos e um documentário inédito na RTP marcam dia dos 100 anos de Amália

Um concerto no Museu do Fado e outro no Brejão, o primeiro em streaming e o segundo em directo na RTP1, marcam o dia dos 100 anos de Amália. Também na RTP1, será exibido o documentário inédito Eu Amália. De manhã, há missa e emissão de selos.

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Amália Rodrigues no documentário inédito Eu Amália, hoje em estreia na RTP1 RTP

Hoje, dia 23 de Julho, data que surge nos registos oficiais como a do nascimento de Amália Rodrigues, as celebrações do centenário começam cedo, com uma missa e uma emissão de selos. Mas é à noite que elas ganham o som da sua arte e da sua voz, primeiro com a exibição, na RTP1, de um documentário inédito, Eu Amália, de Nuno Galopim e Miguel Pimenta. E depois com dois concertos quase em simultâneo, no Museu do Fado e na Herdade do Brejão.

No Museu do Fado, às 21h30, Camané com Mário Laginha, ao piano, interpretarão alguns dos “temas mais emblemáticos” de Amália e Alain Oulman, compositor que teve um papel fulcral na carreira da cantora e fadista e no aprofundar do seu encontro com a poesia clássica e erudita. O concerto, sem público a assistir no local, será transmitido em directo, em streaming, através do Facebook, nas páginas do Museu do Fado, da Câmara Municipal de Lisboa e da EGEAC.

O segundo concerto, esse já com público e entradas pagas (mas com transmissão directa na RTP1, a partir das 22h), decorrerá ao ar livre na Herdade do Brejão, onde Amália tinha a sua casa de férias. Com direcção artística de Jorge Fernando, nele participam, além do próprio, Fábia Rebordão, Filipa Cardoso, José Gonçalez, Katia Guerreiro, Marco Rodrigues, Ricardo Ribeiro, Sara Correia e os músicos Custódio Castelo e Bruno Chaveiro (guitarra portuguesa), Bernardo Viana (viola de fado), José Ganchinho (baixo), António Barbosa (violino), Davide Zaccaria (violoncelo), Ivo Martins (bateria) e Ruben Alves (piano e acordeão).

Um local emblemático

O concerto, denominado Bem-Vinda Sejas Amália (o mesmo nome de uma exposição itinerante que neste dia 23 retoma o curso interrompido pela pandemia, com mostras paralelas no Fundão e em Viana do Castelo), decorre no Brejão por razões que o Presidente da Fundação Amália, Vicente Rodrigues, explica assim ao PÚBLICO: “Há dois ou três locais emblemáticos na vida da Amália. A casa onde ela viveu 44 anos e onde por determinação dela se constituiu um museu; o Fundão, porque toda a origem familiar da Amália, apesar de ter nascido em Lisboa, é de lá; e o Brejão, local de ‘culto’ para a própria Amália, porque era ali que ela passava as férias, era para ali que convidava os amigos para passarem fins-de-semana, era ali que, no fundo, ela fazia uma pausa nas suas grandes digressões pelo estrangeiro, para recarregar baterias.” A escolha, conclui, foi assim feita “pelo grande simbolismo do local e pela oportunidade de fazer um espectáculo ao ar livre, com todas as regras de segurança e de afastamento. O que queremos, no fundo, é homenagear a Amália num dos seus territórios de eleição.”

A Fundação convidou o cantor e compositor Jorge Fernando, que acompanhou Amália desde 1977, para assegurar a direcção artística. E este voltou a uma casa onde já não ia há muitos anos. “Depois da morte da Amália nunca mais aqui vim, por vários factores”, diz Jorge Fernando ao PÚBLICO, já a partir do Brejão. “Um deles é o factor emocional, recordar uma parte importante e uma pessoa importante na minha vida. Foi um choque, porque passámos muito tempo aqui a ensaiar, ela contava histórias, nós contávamos as nossas.” O regresso, diz, “foi um misto de uma coisa muito bonita, de poder reviver algum tempo da minha juventude, mas foi também um pouco pesado, por me lembrar que esta era a casa da Amália.”

Espécie de “ópera-fado”

Quanto ao espectáculo propriamente dito, Jorge Fernando diz que “cada um escolheu o que queria cantar, quatro, cinco temas. A única coisa que eu lhes pedi é que não fôssemos pelo lado mais fácil, das coisas mais óbvias. Tentar mostrar outras coisas que também lhe pertencem e que deverão chegar às pessoas.” Mas a estrutura do espectáculo, a partir desse alinhamento, será tudo menos comum. “Vai ser uma espécie de ‘ópera-fado’: vamos dar a introdução e só paramos uma hora e quarenta depois. Os fados vão estar ligados, vamos entrando e saindo do palco e não vai haver pausas para nada. Foi isto que idealizei e acho que vai resultar.”

Voltando à Fundação, este concerto tem também como objectivo ajudar a cumprir aquela que foi a vontade de Amália: que a Fundação criada com o seu nome tivesse um objectivo social. Num recinto preparado para receber 1600 pessoas “com todas as regras de segurança”, deverão estar pelo menos 1000, a julgar pelos dados de bilheteira, e como os gastos não serão muitos, a Fundação garantirá ali algum dinheiro, como diz Vicente Rodrigues: “O Luís Montez fez o favor de organizar o concerto gratuitamente. De toda a parte logística, a única coisa que vamos ter de pagar são os palcos e as luzes. Os artistas também vão actuar por um preço simbólico, que não tem nada a ver com os cachets que levam. Esta é uma das formas de angariar receitas e eu diria que a grande maioria das vendas de bilhetes vendidos será receita da Fundação”.

Eu Amália, uma estreia

Quem ligar a televisão uma hora antes deste concerto (às 21h), poderá ver o documentário inédito Eu Amália, apresentado como um retrato de Amália feito pela própria. Nascido em tempos de confinamento, e assinado por Nuno Galopim e Miguel Pimenta, Eu Amália recorre às “memórias existentes nos arquivos”, a partir de “um levantamento exaustivo” do material relacionado Amália “entre os arquivos de rádio e televisão da RTP”. No comunicado emitido pela RTP para anunciar a estreia, Nuno Galopim explica assim esta aventura: “Mergulhar, durante algumas semanas, por entre os arquivos da RTP foi como fazer uma viagem que todos os dias ora lembrava memórias ora trazia novas descobertas. Ver e ouvir Amália ao longo dos tempos permitiu encontrar mais do que apenas a voz dos discos e o ícone que correu pelos palcos do mundo. A dimensão pessoal, a personalidade, os momentos difíceis e os sorrisos, cativaram-nos. Foi quase como se nos tivesse vindo visitar a casa para nos falar de si.”

Uma missa e três selos

Mas, como se disse de início, o dia dos 100 anos de Amália começa como outras iniciativas, ambas ligadas à Fundação. A primeira é uma “missa de acção de graças”, na Igreja de São Vicente de Fora, em Alfama, às 9h30. A missa será é acompanhada por instrumentos de corda e por leituras de poemas, contando com os músicos Pedro Marques (guitarra portuguesa), Lelo Nogueira (viola baixo) e Tony Queiroz (viola). Também será transmitida em streaming.

Depois, às 11h, desta vez no Panteão Nacional, onde desde 2001 Amália se encontra sepultada, haverá a cerimónia oficial de uma emissão de selos comemorativa do centenário, numa colaboração entre a Fundação Amália e os CTT – Correios de Portugal. Esta emissão filatélica “é composta por dois selos, um com o valor facial de 0,53 euros e outro com o valor facial de 0,86 euros, com uma tiragem de 100.000 exemplares cada; e um bloco filatélico com um selo, no valor de 2,00 euros e uma tiragem de 35.000 exemplares.” O design é de AF Atelier.

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