EUA dão ultimato à China para encerrar consulado em Houston

Departamento de Estado diz estar a proteger a propriedade intelectual dos EUA. Pequim ameaça retaliar.

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Edifício do consulado da China em Houston, no Texas Reuters/ADREES LATIF

Os EUA ordenaram o encerramento do consulado da China em Houston, com a justificação de estar a proteger a propriedade intelectual. Pequim condenou a decisão e prometeu retaliar.

A ordem veio do Departamento de Estado norte-americano na terça-feira através de um ultimato para que o consulado chinês em Houston, no Texas, fosse encerrado em 72 horas. A Administração usou uma linguagem forte para justificar a decisão, embora sem dar pormenores concretos.

“Os Estados Unidos não vão tolerar as violações pela RPC [República Popular da China] da nossa soberania e a intimidação do nosso povo, tal como não tolerámos as práticas comerciais injustas, o roubo de empregos americanos e outros comportamentos escandalosos”, afirmou o porta-voz do Departamento de Estado, Morgan Ortagus.

Num outro comunicado, o Departamento de Estado acusou Pequim de estar por trás de “operações maciças e ilegais de espionagem”, de interferir “na política interna” dos EUA e de “coagir líderes empresariais, ameaçar famílias de sino-americanos a viver na China, e mais”. Existem cinco consulados da China nos EUA, para além da embaixada em Washington.

O Governo chinês disse que a ordem de Washington é “revoltante e injustificada” e ameaçou responder da mesma forma. “Os EUA têm bem mais missões diplomáticas e funcionários a trabalhar na China. Portanto, se os EUA seguirem mesmo no caminho errado, iremos responder de forma resoluta”, afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Wang Wenbin.

A confirmação da ordem para encerrar o consulado surgiu depois de uma televisão local de Houston ter divulgado imagens de pessoas no pátio do edifício, aparentemente a queimar documentos na terça-feira à noite.

No mesmo dia, o Departamento de Justiça dos EUA tinha acusado a China de estar a apoiar piratas informáticos que estariam a espiar laboratórios de empresas norte-americanas que estão a desenvolver vacinas para a covid-19.

O encerramento da representação diplomática chinesa em território norte-americano é mais um episódio do enfrentamento latente entre as duas potências e que se intensificou desde que Donald Trump chegou à Casa Branca. Os dois países envolveram-se numa disputa comercial e, mais recentemente, Washington liderou as críticas à China, responsabilizando o Governo por ter permitido a propagação do novo coronavírus.

Os EUA também têm condenado a pressão crescente de Pequim sobre Hong Kong e os ataques à minoria muçulmana em Xinjiang.

O correspondente de Defesa da BBC, Jonathan Marcus, acrescenta ainda a proximidade das eleições presidenciais nos EUA como um factor de tensão. “No meio de uma campanha de reeleição presidencial e com a economia e a sociedade dos EUA atingidas pela pandemia da covid-19, Trump considera que há uma vantagem política em jogar a carta da China”, escreve.

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