Inaugurado Centro Interpretativo da História do Bacalhau em Lisboa

O novo cais de Lisboa também vai conter o Centro Tejo, espaço dedicado à importância cultural, natural e histórica do rio, além de um restaurante e de outros espaços de lazer.

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Lisboa conta a partir de quarta-feira com um espaço que se define como “uma nova atracção onde se conta uma das mais épicas histórias de Portugal - a descoberta da Terra Nova e a aventura nos mares gelados pela pesca do bacalhau”. O novo Centro Interpretativo da História do Bacalhau situa-se no torreão nascente do Terreiro do Paço. Fundado pela Associação Turismo de Lisboa (ATL) e pela Câmara Municipal de Lisboa (CML), em colaboração com as câmaras municipais de Aveiro e de Ílhavo, custou 1,5 milhões de euros.

O espaço é constituído por salas com abordagens distintas, todas centradas na temática do bacalhau e na relação do país com este peixe que só consumimos salgado e seco. Numa delas, por exemplo, uma estrutura em forma de livro tem projectado um vídeo que aborda a história da pesca do bacalhau em Portugal, iniciada no século XVI pela família Côrte-Real, bem como os conflitos que causou na altura com Inglaterra e a Dinamarca.

Mais adiante, há a proposta de uma experiência mais imersiva: um dóri, o bote em que cada pescador saía sozinho, dos navios, para pescar o bacalhau à linha, durante o século XX, surge apoiado numa plataforma que oscila, mimetizando as ondas do mar, numa sala mais escura e fria. Ali, os visitantes podem experimentar, “durante um minuto, o que era a solidão dos marinheiros do bacalhau a bordo de pequenos dóris”, segundo nota da organização.

Colaboração com Ílhavo

Há também uma enciclopédia de receitas de bacalhau, para a qual os visitantes podem contribuir com as suas próprias ideias, um espaço dedicado à pesca sustentável, e outro acerca da apropriação da pesca do bacalhau pelo aparato ideológico e propagandístico do Estado Novo, tema que foi muito desenvolvido, em várias obras, pelo antigo director do Museu de Ílhavo e consultor científico deste novo projecto, o historiador Álvaro Garrido.

Na cerimónia de abertura, Fernando Medina, presidente da CML, afirmou que o projecto “nasceu com a humildade” de querer trazer para Lisboa “algo que já estava a ser contado em Ílhavo”, assume. Uma parte do espólio do centro veio do já existente Museu Marítimo dessa cidade, que inclui um aquário de bacalhaus. O autarca sublinhou o carácter colaborativo da obra, “um projecto verdadeiramente a três autarquias”, através do qual se pretende ligar Lisboa a Aveiro e Ílhavo. 

O momento foi pautado pela insistência no bacalhau como elemento essencial à identidade portuguesa, bem como para a singularidade de ser “um património com tanta força que não o levamos a sério”, segundo o historiador Álvaro Garrido. O bacalhau foi pescado por muitos países nos bancos da Terra Nova e da Gronelândia, mas mesmo obras de divulgação sobre a pesca do Gadus morhua, como Bacalhau, Biografia do Peixe que Mudou o Mundo, de Mark Kurlansky, minimizam o papel dos portugueses nesta saga, uma narrativa que espaços como o de Lisboa e de Ílhavo tentam contrariar.

O equipamento é inaugurado num momento difícil para o turismo, mas José Luís Arnaut, presidente-adjunto da ATL, realçou a “necessidade de ver a cidade a prazo. Não há nenhuma razão para acreditar que vamos perder a energia que tínhamos. Temos de continuar a funcionar e de ser funcionais quando as coisas voltarem ao normal”, disse, referindo-se à pandemia de covid-19, que gerou fortes quebras no sector. Essa visão foi sustentada por Vítor Costa, presidente da mesma associação, que realçou o facto de o espaço ter sido pensado para “um público misto, com portugueses e visitas de escola, além de visitantes estrangeiros”. 

O final da visita incluiu uma passagem pelas intervenções de renovação a decorrer actualmente na Estação Sul e Sueste no Terreiro do Paço, que se tornará num terminal marítimo-turístico, e pela Doca da Marinha, onde ficará acostado, depois de uma reabilitação, o navio Creoula. O actual navio-escola da marinha é gémeo do Santa Maria Manuela, que também foi reabilitado e está muitas vezes em Lisboa, junto ao Oceanário. E fez, como este, parte da designada frota branca da pesca do bacalhau.

O novo cais de Lisboa também vai conter o Centro Tejo, espaço dedicado à importância cultural, natural e histórica do rio, além de um restaurante e de outros espaços de lazer. De acordo com Costa, a obra (excepto o restaurante) estará concluída até ao final do ano. 

Texto editado por Abel Coentrão

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