AVC antes dos 50 anos? Sim, é possível! Saiba como prevenir

É essencial conhecer os sinais de alerta e saber como proceder para pedir socorro ou socorrer alguém com AVC.

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Cerca de um terço, pelo menos, das roturas de aneurisma cerebral ocorrem antes dos 50 anos Robina Weermeijer/Unsplash

O ditado popular “quem não tem sorte, tanto faz correr como saltar” não se aplica ao Acidente Vascular cerebral (AVC). As escolhas feitas, os cuidados tidos e a prevenção podem mesmo evitar a má sorte, evitando ou minimizando os efeitos dos AVC.

Mas o que é isso do AVC, afinal? O AVC ocorre quando uma artéria que leva o sangue para o cérebro tapa (AVC isquémico) ou rebenta (AVC hemorrágico). Em ambas as situações uma parte do cérebro deixa de funcionar, e a pessoa fica com uma deficiência súbita, como dificuldade em falar, ficar paralisado em metade do corpo ou outra anomalia.

O AVC não poupa ninguém, e 5 a 10% dos casos ocorrem antes dos 50 anos.

É certo que as artérias vão envelhecendo, vão ganhando depósitos nas paredes (placas de aterosclerose) que as vão entupindo e, por isso, os idosos têm mais problemas de circulação sanguínea cerebral. Mas certo é também que estas placas estão prematuramente presentes em muitos adultos jovens, geralmente associadas a fatores de risco vascular como tensões altas, tabagismo, colesterol alto, obesidade, stress e sedentarismo. E são causa frequente de AVC nestes casos, apesar de os estudos mostrarem que 90% poderiam ser evitados prevenindo e tratando estes fatores de risco.

Há, contudo, causas que são mais frequentemente motivo de AVC abaixo dos 50 anos. Uma delas é a dissecção arterial, responsável por cerca de 25% dos AVC nesta franja etária. O que é isso? Acontece quando uma artéria que transporta sangue para o cérebro (artérias carótidas e vertebrais) se traumatiza, ou por pancada externa ou mesmo apenas contra as estruturas ósseas da coluna e base do crânio. Isso pode acontecer com a prática de alguns desportos, movimentos rápidos e extremos da cabeça, manipulações cervicais, posturas anómalas sustentadas como adormecer em viagem com a cabeça pendente, etc. Parte destas situações também podem ser prevenidas.

Mais recentemente a covid-19 (doença provocada pelo vírus SARS-CoV-2) tem sido relacionada com eventos vasculares em jovens adultos. Na atual situação pandémica vários investigadores e clínicos, nomeadamente entre nós, têm reportado AVC em pacientes com resultado positivo para o SARS-CoV-2. Este vírus parece poder provocar uma disfunção do revestimento das artérias (endotélio) e a formação de trombos que as ocluem, levando a AVC quando isso acontece em artérias cerebrais.

Então, e se não for a tempo de prevenir, o que posso fazer se tiver um AVC?

Se tiver um AVC isquémico, provocado por entupimento de uma artéria, é por vezes possível reabrir e recuperar da deficiência, mas apenas se esse tratamento for efetuado logo nas primeiras horas de sintomas, evitando a morte ou deficiência, por vezes para toda a vida. Mas para ser tratado tão precocemente é crucial que se reconheça o aparecimento do AVC para ligar de imediato 112. Mas como?

Saiba detetar o AVC e agir. Aprenda e ensine a família e amigos a detetar os 3 “Fs” – Face, Força, Fala.

Se acha que alguém pode estar a sofrer um AVC peça-lhe para fazer o seguinte:

  • FACE: Peça à pessoa para sorrir. Um dos lados da cara não mexe, está paralisado?
  • FORÇA: Peça à pessoa para levantar os braços. Um dos braços cai?
  • FALA: Peça à pessoa para repetir uma frase simples. As palavras saem “enroladas”? Ou não consegue falar ou compreender as palavras?

Desta forma, é essencial conhecer os sinais de alerta e saber como proceder para pedir socorro ou socorrer alguém com AVC. Basta identificar-se apenas um destes sinais e ter aparecido de novo de forma súbita para ser motivo para se ligar 112. A rapidez de atuação é fundamental. Não deve evitar procurar ajuda médica, mesmo em tempo de pandemia! Os hospitais têm medidas implementadas para garantir a segurança de todos, seja numa situação de urgência, consulta de rotina, realização de exames ou noutros procedimentos.

E se tive um dos 3 “Fs”, mas recuperei rapidamente de forma espontânea? Isso pode ter sido um chamado acidente isquémico transitório (AIT). Nesse caso não fique em casa sossegado, deverá ser urgentemente avaliado, pois é sinal de haver um problema que da vez seguinte possa provocar um AVC grave; deve procurar-se logo a causa para se tratar atempadamente, e geralmente também começar a fazer aspirina 100mg ou similar para diminuir a probabilidade de formação de novos trombos que entupam a circulação sanguínea.

Há ainda um tipo mais raro de AVC que se deve a uma rotura de aneurisma cerebral, ou seja, quando há uma artéria com local defeituoso da parede que rompe mais facilmente. Nesses casos a artéria rompe e o sangue sai com pressão, provocando uma hemorragia chamada subaracnoideia. Quando isto acontece a pessoa sente uma dor de cabeça muito repentina e extremamente forte e contínua, devendo também ligar 112, pois é urgente ser confirmado o diagnóstico e ser tratado o aneurisma.

Cerca de um terço, pelo menos, das roturas de aneurisma cerebral ocorrem antes dos 50 anos.

Não arrisque, seja mais rápido que o AVC!


A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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