Clube toma conta da SAD e Aves vai defrontar Benfica

Mesmo contra a vontade da administração da sociedade, Alexandre Pinto da Costa está a ajudar o presidente do Desportivo das Aves a preparar recepção ao Benfica desta noite.

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Mesmo contra vontade da SAD, Manta Santos vai orientar o Desportivo das Aves na recepção ao Benfica LUSA/FERNANDO VELUDO

As ondas de choque do coronovírus já tornaram a temporada de 2019-20 na mais atípica dos anais do futebol português, mas alguns protagonistas das competições profissionais teimam em reforçar esta singularidade. Depois da administração da Sociedade Anónima Desportiva (SAD) do Desportivo das Aves ter anunciado na semana passada não ter condições desportivas e financeiras para disputar as duas últimas jornadas do campeonato, o clube (que tem uma participação de apenas 10% na sociedade) resolveu assumir as rédeas do futebol profissional à revelia da administração executiva e garantir que a equipa irá receber esta noite o Benfica, na penúltima ronda da I Liga.

Com quatro meses de salários em atraso, várias rescisões de jogadores, apólices de seguro caducadas por falta de pagamento e com contas arrestadas, a SAD avense, já com a despromoção à II Liga confirmada, resolveu não ir a jogo nas duas últimas rondas do campeonato. A decisão foi tornada pública no final da última semana e deixou a Liga e a direcção do clube em choque.

Para ultrapassar esta posição e as suas consequências, os responsáveis pela sociedade que gere o futebol profissional solicitaram à Liga, na última sexta-feira, o adiantamento de uma verba a que teriam direito na próxima temporada pela descida de divisão, de cerca de 150 mil euros. Uma compensação atribuída a cada um dos dois clubes despromovidos para compensar a perda de receitas no segundo escalão, mas tal hipótese foi prontamente afastada pelo organismo presidido por Pedro Proença, que está impedido de entregar estes montantes até que as provas sejam homologadas e licenciados para a próxima temporada os clubes que descem de divisão.

O impasse prosseguiu com a Liga a tentar promover o entendimento entre o clube e SAD - que estão de costas voltadas -, até esta segunda-feira. Depois de várias reuniões em salas separadas nas instalações da sociedade avense, mediadas pelas directoras executivas da Liga Sónia Carneiro e Helena Pires, António Freitas, presidente do clube, foi convencido a avançar com os 15 mil euros em dívida para pagar à seguradora Caravela. Uma condição fundamental para que a equipa pudesse voltar aos treinos e jogar. Mas, mesmo assim, a SAD manteve-se irredutível, alegando a falta de condições desportivas para salvaguardar a verdade desportiva face à onda de rescisões que, garante, enfraqueceu consideravelmente a equipa.

Já com os responsáveis da SAD fora de Vila das Aves, o presidente do clube decidiu assumir o comando da situação, abrindo as portas para a equipa treinar, apesar de não estar legitimado para o fazer. “Paguei o seguro, tratei do relvado e paguei a conta da Meo”, avançou António Freitas ao PÚBLICO.

“Estou a fazer isto como presidente do clube Desportivo das Aves e sou também administrador não executivo [da SAD, onde o clube detém 10%]. Na realidade não posso fazer nada, sou um boneco, um figurante. E com estas pessoas [Galaxy Believers, que controlam os restantes 90%] sou mesmo”, explicou, garantindo ter o apoio da Liga nesta operação.

“Os jogadores estão a fazer os testes do covid-19 e se calhar também vou ter de os pagar”, prosseguiu, antes de confirmar que está a ser ajudado pelo empresário Alexandre Pinto da Costa, filho do presidente do FC Porto: “Ele está a apoiar-me muito e a ter um papel muito importante. Representa a equipa técnica e mais um outro jogador. Tem tido uma dor de cabeça enorme e a rentabilidade dele é zero. Está a fazer isto e nem sei bem como.”

Quem chamou o agente a este processo foi Pedro Proença, que garantiu ao PÚBLICO ter falado igualmente com outros agentes de jogadores do plantel do Aves, com o objectivo de sensibilizarem a equipa a alinhar nas duas derradeiras jornadas, apesar dos ordenados em atraso.

“Surpreendentemente os jogadores e o treinador disseram que estão disponíveis. Não falámos apenas com o Alexandre Pinto da Costa, falámos também, por exemplo, com o António Teixeira, que é o agente de um dos capitães de equipa”, justificou o presidente da Liga.

Mais vago é Pedro Proença em relação ao enquadramento legal desta “tomada” da SAD do Aves pelo presidente do clube na ausência dos accionistas maioritários. “Não somos um gabinete de advogados para estar a fazer essa análise. Deveria ser os responsáveis da SAD a liderarem este processo”, admitiu, destacando as anomalias de toda esta situação: “O estranho disto tudo é que chegámos a um determinado limite em que a SAD vem dizer que não tem condições; pede ajuda à Liga; a Liga consegue convocar o clube e tentar criar condições para desbloquear o processo e a SAD continua a levantar problemas e a dizer que não querem jogar.”

Já Wei Zhao, o empresário chinês que preside a SAD do Aves, confirmou ao PÚBLICO que tudo está a ser feito sem a sua autorização, mas confirmou que estará presente no estádio para receber o Benfica. Conhecido por Nick, o dono da Galaxy Believers, acusa António Freitas de estar a incentivar os sócios e adeptos a reagirem violentamente contra a administração da SAD, referindo que já foi alvo de uma perseguição na auto-estrada.

Desbloqueada estará a partida desta noite com os “encarnados” (21h15), faltando saber se o Aves irá depois ao Algarve encerrar as contas do campeonato com o Portimonense que ainda luta desesperadamente pela manutenção. Menos aflito está o Belenenses, que olha mesmo assim com preocupação para uma eventual ausência do Aves na última jornada. Pelo sim pelo não, a SAD dirigida por Rui Pedro Soares já apresentou esta segunda-feira uma participação crime contra a sua concorrente avense por suspeitas de corrupção desportiva.

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