Activistas do clima vão dar “aulas” (ao Governo) sobre justiça climática

Depois de alguns meses sem protestos na rua, a Greve Climática Estudantil prepara-se para uma nova acção. Desta vez, vai dar “aulas” ao Governo sobre justiça climática. Há encontros marcados para 24 de Julho em Lisboa, Faro, Albufeira, Portimão, Lagos, Guimarães e Caldas da Rainha.

Foto
MIGUEL MANSO

A pandemia suspendeu as acções da Greve Climática Estudantil, mas não acabou com o problema. Aliás, o mote das actividades que os estudantes estão prestes a realizar, agora de regresso à luta, dizem isso mesmo: “Mudaram-se os tempos, mas não as vontades.” Os activistas climáticos preparam-se para integrar seis dias de acções por todo o país, enquadradas no programa DescontaminAcção — uma semana “para descontaminar a economia” que envolve diversos colectivos. 

Ao invés das tradicionais saídas à rua, desta vez os estudantes vão “dar uma aula ao Governo” — apesar de ainda não saberem se algum membro vai lá estar — sobre justiça climática, em concentrações que deverão “respeitar as normas sanitárias” e onde os envolvidos terão de “usar máscara e respeitar o distanciamento social”, assegura ao P3 Mourana Monteiro, activista pelo clima.

Os encontros estão marcados para sexta-feira, 24 de Julho: em Lisboa será às 18h30, junto à Assembleia da República; no Mercado Municipal de Faro, às 9h30; na Câmara Municipal de Albufeira, às 11h30; no Jardim das Águas Livres, em Portimão, às 15h;  no Mercado dos Escravos, em Lagos, às 17h; na Câmara Municipal de Guimarães, às 18h; e na Praça da Fruta das Caldas da Rainha, às 15h. O Porto não deverá receber o movimento, por falta de disponibilidade dos organizadores, agora alunos do ensino superior.

“As palestras que já tínhamos vindo a dar em escolas vão passar para a rua”, contextualiza a jovem. Mas, agora, em forma de performance: consistirá na simulação de uma aula, onde a “professora” terá que dar resposta às provocações dos decisores políticos. Um dos representados será António Costa e Silva, presidente executivo da petrolífera Partex, chamado para elaborar um plano de recuperação económica para o país — um dos principais motivos para a realização do movimento. “Não podemos compactuar com o facto de os decisores políticos continuarem a ser movidos pelos interesses da indústria fóssil”, atira Mourana. 

Por isso, vão contestar “a construção do aeroporto do Montijo, a expansão do terminal de Sines ou a exploração de gás fóssil”. “Todas as propostas apresentadas pelo consultor são as favoráveis para a indústria fóssil, mas não para a justiça climática”, lamenta. No final, a Greve Climática Estudantil espera que “se comece a pôr a teoria em prática, reconfigurando a economia para o cuidado para com a vida e iniciando uma transição energética justa que desmantele as estruturas poluentes da indústria fóssil, que assegure a criação de programas públicos de empregos para o clima, e por último, que desmantele também as restantes estruturas racistas, fascistas e patriarcais que contaminam a nossa sociedade”, escrevem, em comunicado enviado ao P3.

Apesar de ainda não haver data marcada, a estudante aponta a “primeira ou segunda semana de Outubro” para uma nova greve, depois de a que estava marcada para 13 de Março ter sido cancelada devido ao surto de coronavírus. A ideia é “fazer pressão em momentos que são importantes, como o início do ano lectivo, que vai ser complicado” e sublinhar uma ideia: “Não podemos deixar que o investimento futuro seja assente na energia fóssil, tem de ser nas energias renováveis.”

O movimento DescontaminAcção envolve, além da Greve Climática Estudantil, colectivos como Acção pela Habitação, Art for Change, Brigada Estudantil, Climáximo e o Sindicato dos Trabalhadores de Call Center. Durante os dias 20 e 26 de Julho têm previstas vigílias, a pintura de um mural, uma acção contra as empresas de trabalho temporário e outras que podem ser consultadas aqui.

Sugerir correcção