Boas férias, e paciência

Este ano, não leve para férias apenas a toalha, os chinelos e o protetor solar... leve também o álcool-gel e a máscara, e muita paciência. Porque, desta vez, vai precisar.

O país prepara-se para ir a banhos. Este poderia ser o início de um qualquer artigo de opinião, num ano dito normal. Mas este ano não será, infelizmente, assim. O país prepara-se para entrar em período de férias, mas com medo.

Medo de estar com os outros, de conviver, de abraçar os seus. Este ano não vamos estar descansadamente relaxados, a quebrar as regras que no resto do ano comandam o nosso quotidiano. À indumentária habitual dos dias de verão, junta-se a máscara e o álcool-gel. Não mais haverá enchente na praia onde todos se acotovelam para arranjar um espaço onde se possa “aterrar” na areia. O que vai faltar é espaço, lugares suficientes para que todos possam gozar a praia com o distanciamento que se tornou regra de sobrevivência.

Não vamos partilhar garrafas, nem copos, nem juntar os amigos numa qualquer esplanada de praia, sem que a máscara, o álcool-gel e o desinfetante definam o ritmo da descontração. Não vai haver sequer descontração, porque nos vamos esquecer seguramente da máscara nos momentos de maior entrega ao ‘dolce-far-niente’ e alguém nos há-de interromper a marcha com um contundente “não pode circular sem máscara”, que nos trará de novo à nova e dura realidade. Estamos debaixo de uma pandemia que nos afecta o que de melhor temos na vida: o relacionamento interpessoal. Somos ou não seres gregários?

Teremos as habituais filas de trânsito para a costa, mas teremos também em simultâneo o trânsito dos que não conseguiram lugar na praia porque, desta vez, há limite de lugares. E além do chuveiro para tirar o salitre e a areia à saída, teremos os pórticos de desinfeção à entrada. Não veremos apenas os veraneantes a espalhar protetor e bronzeador, este ano temos uma novidade: os frascos de álcool-gel para desinfectar as mãos com frequência. Às habituais regras de proteção solar que nos ameaçam a saúde da pele, juntamos novas regras que nos protegem da covid-19 e tentam travar a progressão da pandemia.

Este ano não estaremos completamente sossegados e descansados, porque o nosso dia-a-dia mudou, mas porque muitos não sabem ainda como será o seu dia-a-dia daqui para a frente. Muitos, infelizmente, estarão de férias forçadas por tempo indeterminado porque a pandemia lhes extinguiu o posto de trabalho. Tantos, que tinham no verão a oportunidade para o seu sustento por sermos o “melhor destino da Europa” e “um dos melhores destinos do mundo”, não terão este ano tal sorte. A desgraça está à espreita.

É neste contexto que, este ano, e esperemos que seja caso único, o país não vai a banhos. Irão os que podem, quando conseguirem um lugar e se não houver nenhuma interdição de última hora. Se não houver um arrastão, uma batalha campal ou uns eventos irresponsáveis que ameacem a ordem pública. Se não houver um aumento significativo de infeções que nos obriguem ao confinamento. Se persistirem uns, do alto da sua liberdade individual, em ameaçar o bem estar de todos.

Este ano, não leve para férias apenas a toalha, os chinelos e o protetor solar... leve também o álcool-gel e a máscara, e muita paciência. Porque, desta vez, vai precisar.

Boas férias.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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