Deixar adormecer na mama: é bom ou mau?

Além da sua função nutritiva, a amamentação é biologicamente projectada para confortar e ajudar um bebé a adormecer e a dormir melhor. Acalma o bebé e pode até ajudá-lo a lidar melhor com o stress.

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"Deixar que o seu bebé adormeça desta forma só diz respeito a si e à sua família" Enric Vives-Rubio

Muitos pais perguntam se deixar o bebé adormecer na mama ou dar mama durante a noite, para o bebé voltar a dormir, será bom ou será prejudicial para o seu sono, como tantas vezes ouvimos dizer que se trata de uma “associação do sono” negativa. Será que com isso estão a habituar mal o bebé? Que nunca vai conseguir adormecer sem a mama? Claro que não! Na verdade, é normal, saudável e apropriado ao desenvolvimento. As razões são óbvias e os factos evidentes: a amamentação é uma ferramenta inestimável para os pais durante a noite, muito mais adequada e biológica do que treinos do sono e isolamento dos bebés nos seus quartos. Além da sua função nutritiva, a amamentação é biologicamente projectada para confortar e ajudar um bebé a adormecer e a dormir melhor. Acalma o bebé e pode até ajudá-lo a lidar melhor com o stress.

Deixar o bebé adormecer à mama ajuda-o a manter o sono dele (e o seu)

O leite materno também contém hormonas, aminoácidos e nucleótidos indutores do sono cujas concentrações são mais altas durante a noite e podem realmente ajudar os bebés a estabelecer os seus próprios ritmos circadianos. A sucção durante a amamentação liberta uma hormona — a colecistoquinina tanto na mãe como no bebé, o que resulta numa sensação de saciedade e de sono para ambos. Além disso, os bebés nascem sem ritmo circadiano estabelecido, isto quer dizer que não consegue distinguir o dia da noite e por isso não se consegue auto-regular-se. O ritmo circadiano do bebé começa a surgir à oitava semana de vida, no entanto não se estabelece antes dos quatro meses e só amadurece perto do primeiro ano de idade. Isto significa que é algo dependente do desenvolvimento, ou seja, que não pode ser apressado. O ritmo circadiano regula-se através de diferentes hormonas, sendo a melatonina a principal responsável por esta regulação. Quando o sol se põe, os níveis de melatonina aumentam e começamos a sentir sono. No entanto, a área do cérebro responsável pela produção de melatonina, a glândula pineal, é muito imatura aquando do nascimento. Assim, o leite materno, rico em melatonina, é o principal regulador do sono do bebé. Mais ainda, sabe-se que o leite materno nocturno contém quantidades mais elevadas desta hormona, o que faz com que o bebé adormeça mais facilmente à noite e prolongue o soninho por períodos mais longos.

Além disso, as mães que amamentam dormem, em média, 45 minutos a mais do que as que não amamentam.

Deixar o bebé adormecer à mama ajuda a estabelecer a produção de leite

A prolactina é a hormona responsável pela produção de leite e, tal como a melatonina, auxilia no estabelecimento do ritmo circadiano do bebé. Nas primeiras semanas de amamentação, o corpo da mulher estabelece receptores de prolactina na mama para ajudar a regular a produção de leite. Os níveis de prolactina aumentam com a sucção, ou seja, quanto mais o bebé mama, mais altos serão os níveis de prolactina e mais elevada será a produção de leite. Mais ainda, os níveis de prolactina são especialmente elevados nas mamadas nocturnas. Assim, quando o bebé mama durante a noite está também a ajudar a mãe a aumentar a produção de leite.

Deixar o bebé adormecer à mama ajuda o cérebro a desenvolver-se

O leite materno nocturno, além de ser rico em melatonina, também contém outras substâncias indutoras do sono e do desenvolvimento cerebral. A mamada da noite contém quantidades mais elevadas de triptofano, um aminoácido indutor do sono. O triptofano é um precursor da serotonina, uma hormona essencial para o funcionamento e desenvolvimento cerebral bem como para a nossa sensação de bem-estar. Quando o bebé é pequenino, uma maior ingestão de triptofano leva ao desenvolvimento dos receptores de serotonina. Além disso, a amamentação nocturna contém aminoácidos que promovem a síntese de serotonina. Esta faz o cérebro trabalhar melhor, mantém o bom humor do bebé e ajuda-o nos ciclos de sono e de vigília. Assim, a mamada da noite é especialmente importante, uma vez que contém níveis elevados de triptofano, o que beneficia o bebé de inúmeras formas.

A amamentação nocturna protege o bebé da Síndrome de Morte Súbita Infantil (SIDS)

Vários são os estudos que referem que a amamentação noxturna diminui drasticamente a SIDS, especialmente quando o bebé é alimentado em exclusivo de leito materno. Os despertares noxturnos, mais frequentes em bebés que mamam durante a noite, fazem com que o bebé permaneça num sono leve e mais protector contra a SIDS.

Deixar o bebé adormecer à mama ajuda no combate às cólicas

As cólicas afectam alguns bebés entre as duas semanas e os quatro meses de idade e caracterizam-se por episódios de choro que normalmente ocorrem durante noite. No que diz respeito às cólicas, a melatonina e a serotonina funcionam em conjunto. A serotonina atinge o seu pico de concentração à noite e causa contracções intestinais. A melatonina, pelo contrário, relaxa os músculos do trato gastrointestinal e por isso reduz o risco de cólicas. No entanto, como já referimos anteriormente, os bebés não produzem melatonina de forma independente antes dos três meses de idade. Assim, é importante assegurar que a melatonina chega ao bebé através de uma fonte externa, o leite materno, para o ajudar no combate às cólicas. A amamentação nocturna é extremamente importante neste sentido, para equilibrar a fisiologia do bebé e protegê-lo contra às cólicas.

Aqui estão as inúmeras vantagens dos bebés usarem a maminha para adormecerem! No entanto, deixar que o seu bebé adormeça desta forma só diz respeito a si e à sua família. Ninguém tem o direito de julgar, questionar ou invalidar a escolha de uma mãe pela maneira como ela é mãe durante a noite. Por isso, ouça o seu coração e siga as pistas do seu bebé.

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