Jorge Jesus vai poder devolver o software e criar um campeão

Jorge Jesus e Filipe Vieira chegaram a acordo para o regresso do treinador ao Benfica. Está de volta o homem com aura de vencedor.

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Jorge Jesus NFACTOS/FERNANDO VELUDO

Dois dias depois de ter perdido o título de campeão nacional para o FC Porto — e pela segunda vez nos últimos três anos — o Benfica garantiu a contratação de Jorge Jesus para o cargo de treinador. O fantasma que pairou sobre todos os treinadores dos “encarnados” desde que deixou o clube em 2015, vai, finalmente desaparecer. Ou melhor, materializar-se. Aquele que construiu uma aura de vencedor na Luz, sendo o treinador que mais títulos ganhou no clube “encarnado”, vai trocar o Flamengo, onde conquistou mais seis troféus só no último ano, pelo Benfica, onde chega, qual messias, uma promessa de vitórias.

O técnico, de 65 anos, deverá viajar para Portugal nos próximos dias onde assumirá o cargo que já foi seu durante os anos de 2009 e 2015, período em que conquistou dez títulos e levou as “águias” a duas finais da Liga Europa.

Jorge Jesus treinava desde Junho de 2019 o Flamengo, clube que levou à conquista do título de campeão brasileiro, bem como da Taça Libertadores da América. Nesta semana sagrou-se também campeão carioca de futebol, após ter ganho o campeonato estadual. No total, foram seis títulos ganhos durante a permanência no Rio de Janeiro.

Médico também interessa

No Brasil, a notícia da saída do treinador português foi recebida primeiro com incredulidade e depois com resignação pelos responsáveis do Flamengo. Os dirigentes do emblema carioca sabiam que, em qualquer momento, poderiam perder o treinador mais bem-sucedido na história do clube, apesar de terem renovado recentemente o contrato com o técnico (bastava que fosse paga a cláusula de rescisão de um milhão de euros — os benfiquistas pagarão ainda outro milhão relativos a salários já adiantados ao treinador). Mas também acreditavam que o ano de sucesso que Jesus viveu no Rio de Janeiro e a relação de amor que construiu com os adeptos — que o idolatravam como nunca o foi noutro clube e que mal souberam do adeus do seu ídolo invadiram as redes sociais “encarnadas” destilando o seu ressentimento — poderia fazer o técnico resistir a convites europeus.

Tal não aconteceu e Jorge Jesus sucede a Bruno Lage nos “encarnados”. Assinará um contrato com a duração de três temporadas, recebendo três milhões de euros limpos por época. Para a Luz virá também a totalidade da equipa técnica que acompanhava o treinador no Flamengo — João de Deus, Tiago Oliveira, Mário Monteiro e Márcio Sampaio (preparadores físicos) e Gil Henriques e Rodrigo Araújo (analistas).

Mas não só. Segundo informação avançada no Brasil, o treinador português também está interessado em trazer para a Luz o chefe do departamento médico do Flamengo, Márcio Tannure. Jesus ficou fã do clínico, depois da recuperação física em tempo recorde de vários atletas “rubro-negros” que tinham lesões e que o médico conseguiu colocar à disposição do treinador muito antes do que estava inicialmente previsto.

Também jogadores são apontados como estando na lista de contratações. Gerson e Bruno Henrique são os nomes mais comentados para o plantel de um novo Benfica que deverá sofrer várias alterações.

O software roubado

É sabido que Jorge Jesus gosta de sucesso imediato, uma característica que, neste caso, se junta à necessidade de Luís Filipe Vieira — o presidente dos “encarnados” precisa de vitórias e de uma equipa ganhadora em ano eleitoral.

Está assim no horizonte um defeso de contratações na Luz, até porque a forma de jogar das equipas de Jesus (com a exploração dos corredores e um futebol de ataque a toda a largura do terreno) está longe de ser aquele que tem vindo a ser praticado pelo Benfica nos últimos anos. Resta saber se uma aposta destas num cenário de pandemia com implicações ainda imprevisíveis no futebol terá sucesso ou não.

Certo é que Jorge Jesus está de regresso ao Benfica depois da sua saída para o rival Sporting, no Verão de 2015 e que tanta tinta fez correr. Levou mesmo a uma queixa mútua em tribunal — o Benfica pedia uma indemnização de 14 milhões de euros ao treinador por incumprimento de contrato, contactos mantidos com um funcionário do Sporting ainda durante a vigência do anterior vínculo e pela apropriação de software confidencial do clube, enquanto Jorge Jesus reivindicava o pagamento do último mês de salário. Tudo sanado em Fevereiro de 2018, com a desistência das queixas por parte de ambas as partes. Está assim de volta o software e um treinador com aura de messias.

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