Matemática A: “Vou fazer exame no ginásio?” Todos “deram o seu melhor” na prova “mais difícil”

Mais de 190 alunos fizeram exame de Matemática A esta quarta-feira, na Escola Secundária Eça de Queirós, na Póvoa de Varzim. Numa fase de avaliação marcada por “desmotivação” e “ansiedade”, as estratégias adoptadas pelos professores para a preparação dos alunos potenciaram a criatividade.

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Paulo Pimenta
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Ainda faltavam 20 minutos para as nove da manhã e à porta da Escola Secundária Eça de Queirós, na Póvoa de Varzim, eram já muitos os estudantes que esperavam para entrar. Raul Oliveira fazia parte de um desses pequenos (e não tão socialmente distanciados) grupos, cujas máscaras azuis pareciam uma espécie de uniforme. Está no 12.º ano de Ciências e Tecnologias e veio esta quarta-feira fazer a prova “mais difícil": a de Matemática A. Entre risos, como quem tenta disfarçar o nervosismo típico de fazer o exame, confessou ter “esperança que vá ser fácil em comparação com os anos passados": “Espero que facilitem, tendo em conta esta situação.” 

De facto, a pandemia obrigou a uma preparação diferente para os exames nacionais, com “aulas por videochamada” e “sessões de esclarecimento de dúvidas online”. Raul reconhece o esforço dos professores, que “também se foram adaptando com o tempo”: “A minha professora até marcou uma aula de apoio para o dia anterior ao exame.” Sofia Dourado, também aluna de Ciências e Tecnologias da Eça de Queirós, reforça que o apoio dos professores foi importante. “A minha professora de matemática disponibilizou-se sempre para dar aulas e, se quiséssemos, podíamos enviar dúvidas por e-mail ou até mesmo telefonar a qualquer hora”. 

Realidade esta bem diferente da anterior, quando o acompanhamento dos professores se restringia ao tempo de aula e à presença no espaço da escola. Alda Ferreira é professora de Matemática neste mesmo liceu, cuja posição nos rankings deste ano se destacou pela positiva: 55.º lugar na totalidade das escolas e oitava posição na lista das escolas públicas com melhores resultados nos exames nacionais no ensino secundário. Nesta fase de mudança forçada, que “não deu tempo de preparação”, Alda assume que houve uma maior proximidade na relação professor - aluno. “Usámos todos os meios: videoconferência, e-mail, telefone... Até ao fim-de-semana os alunos colocavam dúvidas. Eles habituaram-se a ter o professor sempre presente”.

À saída, passadas as duas horas de exame mais os 30 minutos de tolerância, o cansaço era notório e as opiniões dividiam-se. Luciana Moreira, aluna de Ciências e Tecnologias, dizia que “o exame não era complicado mas as perguntas obrigatórias eram bastante difíceis”. Por outro lado, José Pedro Campos achou as perguntas obrigatórias “fáceis” e destacou ainda um outro aspecto: “a matéria que demos durante a quarentena não saiu tanto”. Surpresa maior foi para Pietro Merlin, aluno brasileiro, que fez o exame nacional de matemática depois de um ano na escola em Portugal. “Foi muito diferente, pelo menos em comparação com o que dei no Brasil nos outros anos. Lá é bem mais fácil”, explica.

As próprias especificidades da disciplina obrigaram a uma adaptação pensada às necessidades dos alunos e ao método de ensino típico, e inevitável, da Matemática. “Custou um bocadinho ao início - a matemática não se ensina só por palavras, é preciso que cada aluno esteja a ver o que estamos a fazer”, explica Alda Ferreira. Desde métodos mais tradicionais a outros mais criativos, houve de tudo, exemplificou: "Uns optaram pela mesa digital, outros fizeram powerpoints, outros fizeram um quadro em casa como se fosse uma sala de aula, enfim, todos deram o seu melhor”.

Paulo Pimenta
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Mas não foi só na preparação para os exames que a logística foi diferente. Todo o cenário é, no mínimo, atípico. À entrada da escola, no portão, havia dispensadores de desinfectante e ninguém entrou sem máscara: havia quem as distribuísse, caso fosse necessário. A lista que dividia os alunos por salas para exame surpreendia os que a consultavam mesmo antes de se dirigirem ao sítio onde iam realizar a prova ("Vou fazer exame no ginásio?”). Foram 194 os estudantes inscritos na prova de Matemática A desta quarta-feira e 50 foram colocados no pavilhão da escola, usado para as aulas de Educação Física. Augusta Ferreira, adjunta do director, explica que esta escolha se justificou com o "espaço amplo” e “grande pé direito” do pavilhão, que permite um maior distanciamento social e a circulação de ar. Pese embora o eco do espaço, todas as condições de segurança são evidentes: “Temos todos os cuidados e os alunos sentem-se seguros e calmos. Temos sempre máscaras para substituir caso queiram e a higienização é constante. Os próprios professores, caso não se estejam a sentir bem, podem ser substituídos, garantimos essa logística.”

Alterações de logística

director da escola, José Eduardo Lemos, destaca os cuidados tidos durante as aulas presenciais, como a “organização dos horários, para que os alunos só tivessem de vir à escola dois ou três dias, no máximo” e ainda “a suspensão de todo o acesso a espaços comuns": “acabou por correr tudo bem”. Ainda assim, a situação deixa marcas que as alterações na logística não conseguem apagar e que, inclusivamente, terão os seus efeitos, até nas próprias notas. “Os alunos foram abalados por isto, foi uma situação com muito potencial de desmotivação, e isso terá certamente algum reflexo nos resultados, dependendo também da forma como foram elaborados os exames”, explicou.

Paulo Pimenta
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Por outro lado, as alterações no método de avaliação foram bem recebidas. O director José Eduardo Lemos acredita que “os alunos, ao terem de fazer exame apenas às disciplinas que contem como provas de acesso ao ensino superior, focaram-se mais nessas disciplinas” e que isso é positivo. Por seu lado, a professora Alda Ferreira revê nos alunos alguma “ansiedade e estranheza” com os novos parâmetros: "Nunca aconteceu um exame com esta estrutura, em que os alunos podem escolher as questões que fazem, em alguns casos, mas acredito que vai correr bem”.

O futuro é incerto mas o pensamento é positivo. O director da Escola Secundária Eça de Queirós acredita que “a pandemia não nos vai abandonar tão rapidamente” e, por isso, vai ser preciso “conviver com ela e desenvolver esta actividade em segurança, num equilíbrio entre estar nas escolas e preservar as condições”. Já Raul e Sofia esperam já não passar por esta fase na escola secundária: será sinal de que os exames nacionais correram bem e que entraram no ensino superior. 

Texto editado por Pedro Sales Dias

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