Politécnico de Bragança ameaça tirar apoios a quem desrespeitar regras. Estudantes têm medo de dizer a verdade

A autoridade de saúde pública tem-se deparado com a dificuldade de os jovens do Instituto Politécnico de Bragança dizerem a verdade sobre a rede de contactos. Alegadamente, por alguns se encontrarem em situação ilegal em Portugal ou viverem em apartamentos com um número de pessoas superior ao declarado.

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Nelson Garrido

O comandante distrital da PSP de Bragança, José Neto, apelou aos estudantes do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) que prestem informação verdadeira às autoridades para ser possível travar os surtos de covid-19 detectados nesta comunidade académica.

O apelo do comandante da Polícia segue-se ao da autoridade de saúde pública, que está a acompanhar dois surtos de infecção com o novo coronavírus e que se tem deparado com a dificuldade de os jovens dizerem a verdade sobre a rede de contactos por, alegadamente, alguns se encontrarem em situação ilegal em Portugal ou viverem em apartamentos com um número de pessoas superior ao declarado.

O comandante da PSP afirmou que a preocupação das autoridades é a saúde pública e não a repressão, pelo que apela aos jovens para que “sejam transparentes e honestos” e cumpram as orientações legais. “Esse é o apelo que eu faço, é que sejam transparentes connosco, sejam honestos naquilo que é a sua identidade, sejam honestos quanto à efectiva localização do seu domicílio e tentarem, sobretudo, não deambular pelas casas uns dos outros”, declarou à Lusa.

A PSP tem a responsabilidade de fiscalizar as situações de confinamento obrigatório nas cidades de Bragança e Mirandela, onde o politécnico tem escolas superiores com quase nove mil estudantes, a maioria em Bragança, e destes mais de dois mil são africanos. Os alunos têm sido notícia nos últimos dias, devido a ajuntamentos e festas como o exemplo, apontado pelo comandante, da concentração de cerca de 90 jovens num bar da cidade de Bragança, espaço que não comportava tanta gente.

Estes casos levaram a Associação de Estudantes Africanos a promover, na terça-feira, uma sessão de esclarecimento, por videoconferência, em que participaram o presidente da associação, o presidente do Politécnico, Orlando Rodrigues, e a autoridade de saúde pública, Inácia Rosa. A associação já tinha publicado um comunicado a reprovar o comportamento daqueles que infringem as proibições de ajuntamentos e justificou a sessão de hoje com o objectivo de “evitar as situações menos agradáveis” que têm sido presenciadas, assim como de contribuir para conter e extinguir o foco de transmissão do vírus com a ajuda de todos.

O presidente do IPB ameaçou cortar os apoios sociais, desde o banco alimentar a bolsas e redução nas propinas, aos estudantes que forem apanhados a desrespeitar as normas impostas pela pandemia, nomeadamente em festas e ajuntamentos.

A autoridade de saúde pública não quis revelar o número de casos de infecção confirmados, afirmando apenas que existem dois surtos no IPB, sendo que o primeiro “está praticamente controlado”, mas já o segundo “está a surgir” e oferece preocupação, pois trata-se de pessoas que “saltam” entre localidades, nomeadamente entre a região e Lisboa.

“Atento” à situação está também o presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, que afirmou à Lusa que tem “vindo a trabalhar e a articular, quer com o IPB, quer com as autoridades de saúde pública, quer também com a própria PSP, no sentido de evitar este tipo de ajuntamentos”. O autarca defende que é preciso evitar que “aquilo que é uma situação algo confortável neste território, relativamente à questão do número de infectados, venha eventualmente a tornar-se um problema gravíssimo fruto de comportamentos pouco ortodoxos ou comportamentos inadequados”.

O distrito de Bragança soma, desde o início da pandemia, 364 casos de infecção confirmados e 24 mortes associada à covid-19, sem registo de mortes há cerca de dois meses.

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