Nova geração de hongkongers destaca-se nas primárias pró-democracia

Activista Joshua Wong foi eleito pelo seu distrito. Pequim considera primárias do movimento pró-democracia ilegais.

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Conferência de imprensa de 16 jovens eleitos nas primárias de iniciativa cidadã do fim-de-semana TYRONE SIU/Reuters

Uma geração mais jovem e desafiadora de democratas de Hong Kong assegurou a maioria dos votos nas primárias do movimento pró-democracia na região administrativa chinesa, abrindo caminho para o confronto com os políticos pró-Pequim pelo controlo legislativo da cidade.

O sucesso dos jovens candidatas nas primárias, organizadas pelo movimento pró-democracia durante o último fim-de-semana para escolher os candidatos às eleições de 6 de Setembro, onde estão em disputa 70 lugares no Conselho Legislativo, surge perante o ressentimento generalizado pela da lei de segurança nacional imposta por Pequim no mês passado.

Pequim considerou a votação ilegal e avisou que as eleições podem ter violado a nova lei de segurança, aumento o receio pelas liberdades que têm marcado a sociedade aberta de Hong Kong e o seu sucesso enquanto centro financeiro.

O activista pró-democracia Joshua Wong venceu no seu distrito, no entanto, já foi desqualificado de eleições anteriores, o que poderá voltar a acontecer desta vez.

Numa conferência de imprensa com outros 15 jovens políticos que venceram nos seus distritos, Wong alertou para as possíveis desqualificações.

“Se o Governo nos reprimir e desqualificar todos os candidatos que concorreram nas primárias, isso causará ainda mais indignação na comunidade internacional e vai encorajar mais pessoas a votar pelo movimento pró-democracia em Setembro”, afirmou Wong.

Os 16 jovens – todos com menos de 30 anos, vestidos com camisolas pretas – representam a chamada facção activista e de resistência [do movimento pró-democracia] e ofuscaram os candidatos democratas tradicionais, assegurando 12 lugares.

Os resultados finais são esperados ao final do dia.

Os jovens da facção activista, que não se vêem como chineses e que estão focados em manter as liberdades da antiga colónia britânica, tendem a ser mais assertivos do que os democratas tradicionais.

Falam de resistência e de salvar a democracia, no entanto, nem todos partilham a mesma visão para o futuro de Hong Kong. Muitos sonham com a independência – um anátema para Pequim – mas não falam abertamente, o que os poderia levar a infringir a nova lei de segurança e a enfrentar prisão perpétua.

O desempenho nas primárias de iniciativa cidadã reflecte frustração, especialmente entre os eleitores mais jovens, com os políticos tradicionais pró-democracia, mais moderados.

“A facção activista e de resistência tornou-se a corrente principal”, afirmou Henry Wong, um dos candidatos locais. “Vamos resistir contra a tirania.”

A nova lei de segurança pune o Pequim define como secessão, subversão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras com prisão perpétua e permite aos serviços secretos chineses operaram oficialmente dentro da região.

“Difícil de compreender”

Desde que entrou em vigor, a lei já teve implicações em vários aspectos da vida dos residentes de Hong Kong.

Nesta quarta-feira, o ex-deputado pró-democracia Au Nok-hin disse que desistiu de organizar votações durante o último fim-de-semana devido às acusações de Pequim, que as considerou ilegais.

“Desistir era a única escolha para me proteger a mim e aos outros”, escreveu Au Nok-hin no Facebook.

Um porta-voz do Gabinete de Ligação do Governo central de Pequim em Hong Kong afirmou que a intenção de o movimento pró-democracia obter uma maioria legislativa é uma tentativa de levar a cabo uma “revolução colorida”.

Carrie Lam, chefe do Executivo de Hong Kong, juntou-se às declarações do Gabinete de Ligação do Governo central para Hong Kong e para Macau e afirmou as primárias podem violar a lei de segurança nacional, um comentário que os críticos denunciam como uma tentativa de causar medo.

Benny Thai, outro organizador das primárias do movimento pró-democracia, respondeu em tom desafiador: “Para aqueles que não reconhecem a democracia, ou não concordam com os valores democráticos, é difícil compreender o significado das eleições primárias.”

Na quarta-feira, a polícia de Hong Kong deteve o vice-presidente do Partido Democrática, Lo Kin-hei, acusado de organizar uma manifestação ilegal em Novembro do ano passado.

A tensão política em Hong Kong alarmou a comunidade de negócios na região, enquanto a nova lei gera preocupação nos países que apoiam o princípio “um país, dois sistemas”, temendo que as liberdades não sejam salvaguardadas.

Na terça-feira, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pôs fim ao estatuto especial de Hong Kong e puniu a China por aquilo que considera “acções opressivas” contra a cidade.

A China disse que iria retaliar e impor sanções a personalidades e entidades norte-americanas, depois de Trump assinar uma lei que penaliza os bancos que façam negócios com os oficiais chineses que impuseram a nova legislação.

Numa entrevista com a agência Xinhua, a chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, disse que as sanções dos Estados Unidos não vão afectar Hong Kong e que, com o tempo, as preocupações com a lei de segurança nacional vão provar-se infundadas.

Noutro golpe para a região, o New York Times disse que vai mudar parte da sua equipa de Hong Kong para Seul, devido às preocupações com o impacto da nova legislação na liberdade dos media.

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