Jeff Sessions, ex-procurador de Trump, perde primárias contra candidato apoiado pelo Presidente

O ex-procurador-geral de Donald Trump tentou recuperar o antigo lugar de senador pelo Alabama, mas perdeu a primária republicana contra o treinador de futebol americano universitário Tommy Tuberville.

Foto
Jeff Sessions LUSA/DAN ANDERSON

Trump pediu ao Alabama que não escolhesse Jeff Sessions, e o estado ouviu o seu apelo. O seu ex-procurador-geral foi derrotado nas primárias republicanas por Tommy Tuberville, um treinador de futebol americano universitário. O Presidente anunciou o seu apoio a Tuberville no Twitter em Março e, mais recentemente, atacou Sessions, chamando-lhe um “desastre que nos desiludiu a todos” e dizendo que não o quer de volta em Washington.

Na altura ainda senador no Alabama, Sessions foi o primeiro nome de peso a apoiar a candidatura de Donald Trump em 2016. Foi mais tarde escolhido por Trump para attorney general, um cargo equivalente a um misto de ministro da Justiça e de procurador-geral da República, tendo sido também um dos principais conselheiros do Presidente sobre imigração.

A relação entre os dois azedou depois de o ex-procurador recusar envolver-se na investigação à interferência russa nas eleições e ter passado a responsabilidade para o vice-procurador, Rod Rosenstein. Enquanto procurador-geral, Jeff Sessions era o responsável máximo pela investigação do FBI, mas perdeu a credibilidade depois de se saber que se tinha encontrado várias vezes com o embaixador russo Serguei Kisliak e que tinha ocultado esses encontros ao Congresso. Sessions acabou por se demitir a pedido de Trump, que o acusou de deslealdade e de “nunca ter assumido o controlo do Departamento da Justiça”.

Apesar de ainda ter uma base de apoio entre os conservadores, Sessions não conseguiu ganhar de volta o cargo que ocupou durante mais de duas décadas e esta derrota pode ditar o fim da sua carreira política. Os ataques de Trump durante a campanha foram constantes, e Sessions defendeu-se afirmando que a sua “honra e integridade” eram mais importantes do que “insultos juvenis”. Mesmo com os ataques do Presidente, o ex-procurador defende a agenda trumpista, tendo usado o famoso boné vermelho com o sloganMake America great again” nos anúncios da campanha.

Sessions também não poupou Tommy Tuberville, acusando-o de ser um “fato vazio” que se tem escondido do público, mas, quando a sua derrota foi anunciada, ofereceu-lhe o seu apoio. “Ele [Tuberville] levou uma corrida firme e sólida. Estava focado no seu objectivo e em ganhar. É o nosso nomeado republicano e temos de o apoiar em Novembro”, afirmou Sessions.

Pouco se sabe sobre Tommy Tuberville além do seu eco de slogans trumpistas como “Build the wall” (“Construam o muro”), e o investigador e especialista em sondagens John Zogby acredita que isso não é por acaso. “Quanto menos se souber sobre ele, menor é a possibilidade de arranjar sarilhos. A corrida era entre Sessions e Trump. Este é um caso em que o verdadeiro vencedor nesta primária é o democrata”, explica ao PÚBLICO.

E o democrata que vai defrontar Tuberville bem que precisava de uma ajuda. Doug Jones conseguiu uma vitória supreendente em 2017 num dos estados mais conservadores do país e tem sido apontado por muitos como o democrata mais em risco de perder a corrida à reeleição. Contudo, a divisão entre os republicanos pode favorecer o actual detentor do cargo. “As sondagens independentes mostram Jones a dois ou três pontos de tanto Sessions como Tuberville na eleição geral”, revela John Zogby.

“O verdadeiro problema é ver se o vencedor das primárias consegue unir o partido a tempo de derrotar Jones, que tem cerca de oito milhões de dólares para gastar e que conseguirá angariar muito mais”, acrescenta John Zogby. O fundador do Zogby International Poll afirma também que, com a derrota do ex-procurador, o establishment republicano não se vai querer unir em volta de um candidato e de um Presidente que atacaram o seu “filho favorito”, referindo-se a Sessions.

Uma possível derrota de Tuberville contra o democrata Doug Jones seria mais uma dor de cabeça para os republicanos, que estão em risco de perder a maioria no Senado e também a Casa Branca, nas eleições marcadas para 3 de Novembro. Actualmente com uma maioria de 53 dos 100 lugares no Senado, há 35 lugares a ser disputados, sendo que 23 destes são actualmente ocupados por republicanos. Há sete senadores republicanos com grandes probabilidades de perder as eleições, sendo eles Martha McSally, Cory Gardner, Susan Collins, Thom Tillis, Steve Daines, Joni Ernst e o próprio líder da maioria e grande aliado de Trump, Mitch McConnell.

Sugerir correcção