No Dia da Bastilha, Macron assume “crise de confiança” dos franceses

Presidente francês apresentou plano de relançamento da economia pós-pandemia e quer combate às alterações climáticas na Constituição. Decisões a marcar o início de uma nova fase de governação tendo em vista a reeleição em 2022.

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Macron durante o desfile do Dia da Bastilha, em Paris EPA/CHRISTOPHE PETIT TESSON

O Presidente francês, Emmanuel Macron, usou o Dia da Bastilha, celebrado esta terça-feira, para marcar o início de uma nova fase na sua governação tendo em vista a reeleição em 2022. O relançamento da economia no período pós-pandemia e o apoio a uma agenda ecológica são as bases, mas primeiro há que atar as pontas soltas, como a reforma do sistema de pensões.

As ideias de Macron para o que resta do quinquénio foram expostas durante uma entrevista televisiva em directo – uma tradição dos Presidentes no Dia da Bastilha que o próprio tinha rompido, mas retomada este ano. O chefe de Estado, eleito com a promessa de virar de pernas para o ar uma economia que muitos dizem ser “irreformável”, admitiu que a França atravessa “uma crise de confiança” e que ele próprio é alvo de “aversão” por parte do eleitorado. Para seguir em frente, Macron promete “mais diálogo social”, a começar já pela resposta à crise deixada pela pandemia.

A factura do relançamento da economia foi tabelada pelo próprio Macron em cem mil milhões de euros, durante a entrevista. “O que esta crise nos pode trazer é, no fundo, a possibilidade de uma França mais forte, respondendo aos problemas que não foram tratados durante os tempos calmos”, disse. O objectivo é evitar o recurso da população mais afectada às prestações sociais.

Macron disse ainda pretender criar 300 mil “contratos de inserção” destinados a quem procura o primeiro emprego. O Presidente francês quer reforçar os serviços ferroviários, com a reintrodução de comboio nocturnos e a circulação nas linhas mais pequenas.

Uma das linhas fortes do programa de Macron é a aposta no combate às alterações climáticas, que o Presidente quer ver inscrita na Constituição. Trata-se de um dos assuntos que mais preocupa os franceses, algo que ficou patente na boa prestação dos partidos ecologistas nas eleições municipais no final de Junho.

Sobre o controlo da pandemia – que matou mais de 30 mil pessoas em França – Macron revelou que a partir de 1 de Agosto passa a ser obrigatório o uso de máscara em locais públicos fechados.

Este ano, a comemoração do Dia da Bastilha foi reduzida por causa das medidas de combate à pandemia. Pela primeira vez desde o fim da II Guerra Mundial, não houve o tradicional desfile militar nos Campos Elíseos, apenas a concentração de cerca de dois mil militares na Praça da Concórdia. Para homenagear os profissionais de saúde, Paris foi sobrevoada por um avião que foi usado para transportar pacientes durante o pico da crise.

Teste à remodelação

Na quarta-feira, o novo primeiro-ministro, Jean Castex, vai à Assembleia Nacional indicar as prioridades, que deverão estar em consonância com as ideias de Macron. Castex deverá merecer a aprovação da maioria dos deputados, mas, diz o Le Monde, será importante ficar atento à magnitude do apoio, quando comparado com o seu antecessor, Edouard Philippe, que obteve 370 votos favoráveis.

Um dos principais temas na agenda do Governo é a reforma do sistema de pensões, um dossier considerado de “alto risco político”, e que deverá ficar a cargo de Castex. Esta reforma motivou grandes greves e uma oposição feroz dos sindicatos no ano passado e tinha ficado em suspenso por causa da pandemia da covid-19, mas agora voltou ao topo das prioridades.

A reforma do subsídio de desemprego, que vai tornar mais rígidas as regras para aceder a esta prestação, é outra tarefa a ocupar as mãos de Castex nos próximos tempos.

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