Líder da Associação de Geólogos denuncia precariedade no sector

O novo presidente da Associação Portuguesa de Geólogos, Luís Lopes, pretende que estes profissionais tenham mais reconhecimento social do que actualmente.

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Museu Geológico de Lisboa, que alberga muito património geológico ENRIC VIVES-RUBIO/Arquivo

As condições laborais dos profissionais da geologia em Portugal são marcadas pela precariedade dos vínculos contratuais e pelos baixos vencimentos, denuncia o novo presidente da Associação Portuguesa de Geólogos (APG), Luís Lopes.

“Ninguém vai para a geologia para ficar rico, mas o que acontece nesta área é o que, infelizmente, acontece depois na maior parte dos outros cursos. O trabalho é precário e somos muito mal pagos. A situação da geologia é um reflexo da sociedade portuguesa”, refere o geólogo e professor da Universidade de Évora, em entrevista à agência Lusa.

O líder da APG, que regista actualmente cerca de 600 associados – apesar de os profissionais do sector em Portugal representarem três a quatro vezes esse número –, vinca ainda mais o paradoxo da realidade nacional neste sector com o exemplo do Reino Unido, onde “o curso que forma os profissionais mais bem pagos, visto a uma escala global, é o curso de geologia no Imperial College” de Londres.

Por outro lado, Luís Lopes lamenta as “confusões” com profissionais de outras áreas, como arqueologia ou biologia, e deixa críticas ao que considera ser uma desvalorização recorrente do trabalho dos geólogos nos mais diversos projectos.

“Não raras vezes o geólogo é convidado a dar o seu parecer a um estudo quando este está praticamente fechado e tem de ser entregue, mas não estava em conformidade porque faltava o parecer de um geólogo. E isso acontece mais por imposição das normas e não porque se poderia ganhar com isso”, sustenta.

Contudo, o geólogo e docente universitário reconhece também que há espaço para um mea culpa da APG no que toca à falta de reconhecimento social dos seus profissionais, assinalando que esta é uma das áreas à qual o organismo vai dedicar mais atenção no mandato, que começou há cerca de duas semanas e termina em 2022.

“Para o comum dos mortais, não é muito claro o que fazemos e essa é uma preocupação que temos. Há uma falta de reconhecimento da sociedade perante aquilo que é o trabalho do geólogo e somos frequentemente confundidos com outras profissões. A culpa também é um pouco nossa, talvez não tenhamos sabido comunicar. Por isso, queremos expor-nos mais.”

Paralelamente, Luís Lopes explica ainda que a actividade dos geólogos não é imune a fenómenos considerados globais, nomeadamente, a actual pandemia de covid-19 ou as próprias alterações climáticas.

“De forma directa, grande parte dos geólogos faz o seu trabalho no campo e com o confinamento devido à covid-19 não foi possível exercer o trabalho no campo”, nota. Já sobre a questão ambiental, o presidente da APG lança um aviso: “Não se pode duvidar de que o homem tem uma acção sobre o ambiente. Se não respeitarmos a Terra, ela vai responder de forma a que se torne insustentável a vida do homem no planeta.”

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