MISC, uma miscelânea boa em Lisboa, com janela para a rua

Começou por ser a Tartar-ia, no Mercado da Ribeira, mas agora o projecto de Maria Calheiros Machado e António Lemos saiu para a rua, diversificou a oferta e criou um espaço agradável onde se pode comer durante todo o dia. É o MISC by Tartar-ia.

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Maria e António, os proprietários do MISC dr

Tudo começou com os tártaros. Estávamos em 2014 e no recém-aberto Mercado da Ribeira, em Lisboa, apareceu a Tartar-ia, um projecto de Maria Calheiros Machado e Gebhard Schachermayer, vindo do Vila Joya, no Algarve. Seis anos depois, já sem Gebhard mas com António Lemos, Maria está num novo espaço, o MISC by Tartar-ia, na Rua da Boavista, sóbrio e confortável, com um balcão, algumas mesas e uma simpática janela rasgada para o exterior. Os tártaros ainda são as estrelas da casa, mas a carta tem várias outras propostas.

“A Ribeira foi a nossa rampa de lançamento”, diz Maria, que anteriormente tinha trabalhado no Bairro Alto Hotel. “No ano passado abrimos aqui porque queríamos um ritmo mais calmo.” O objectivo foi sempre ter um restaurante de rua, mas, apesar de já há algum tempo ter descoberto este espaço de uma antiga pastelaria, as condições só ficaram reunidas em 2019, depois de concluídas as obras de remodelação, com projecto do arquitecto Sebastião Menezes. 

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Tártaro de salmão dr

Depois, já se sabe, no início deste ano veio a pandemia e as restrições aos restaurantes e agora o MISC está a tentar posicionar-se como uma alternativa agradável e segura, com os lugares ao balcão distanciados entre si, e os da janela a serem disputados, sobretudo com o bom tempo a torná-los mais irresistíveis.

Na cozinha está Vítor Santos, que já trabalha com Maria há vários anos. A carta é curta, mas os proprietários querem que ela reflicta as viagens que fizeram por vários pontos do mundo – Maria viveu no Peru, e, com António, viajou por diferentes países. Do Médio Oriente, por exemplo, veio a ideia de usar beringela para uma versão de croquetes mais leve que a de carne e acompanhada por um húmus de batata-doce (8€).

Há também dois pratos de arroz, um ingrediente que Vítor, 29 anos, nascido em Chaves e inspirado por uma avó que cozinhava com legumes da horta e fazia a matança do porco, gosta particularmente de trabalhar, sendo que o de perdiz (18€) é um arroz de forno, mais seco, enquanto o de lingueirão (15€) é malandrinho e nasce a partir de um Bulhão Pato.

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Tarte de queijo com crumble de amêndoa e feta dr

Os tártaros, que podem ser de salmão (11€), de atum (13€) ou de robalo (13€), são trabalhados com detalhe: no de atum dos Açores, o peixe é marinado em óleo de sésamo, coentros e raspa de lima e leva óleo de manjericão, puré de abacate com maionese e crocante de sésamo, esponja de tinta de choco e rebentos de shiso, e o de robalo, um escabeche de beterraba, uma pasta de folha de wasabi e um crocante de pele de robalo.

Nas carnes, vale a pena experimentar o brioche de rabo de boi (11€), muito suculento e saboroso, com o brioche feito pela padaria Gleba. Há ainda hambúrguer (13€) e carne de vaca maturada (25€). Sobremesa, há só uma, mas já conquistou fama: é uma tarte de queijo com crumble de amêndoa e queijo feta, inspirada pela passagem de Vítor pelo País Basco, onde trabalhou durante dois anos no restaurante Marquês de Riscal.  

Sendo este um pequeno projecto, Maria e António gostam de trabalhar (e apoiar) outros pequenos projectos, por isso fizeram algumas escolhas criteriosas: o café é de filtro e da Olisipo, a cerveja é artesanal e Musa e a carta de vinhos, não sendo muito grande, segue a mesma lógica de dar a conhecer coisas que são do agrado dos proprietários e podem ter habitualmente uma menor visibilidade, nomeadamente entre os vinhos biodinâmicos – com várias opções a copo. Há também uma carta de cocktails. E a boa notícia é que, entre o almoço e o jantar, o MISC não fecha, por isso durante toda a tarde pode-se ali petiscar ou beber um copo. 

MISC é de miscelânea, e esta é uma miscelânea boa.

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Chef Vítor Santos dr
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