EUA impõem sanções à China devido à violação dos direitos da minoria uigur

Secretário-geral do Partido Comunista chinês em Xinjiang é um dos visados. Pequim acusa Washington de interferir nos assuntos internos da China e promete retaliar.

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Manifestantes uigures na Turquia pisam fotografia de Chen Quanguo, secretário-geral do PCC em Xinjiang Reuters/HUSEYIN ALDEMIR

Os Estados Unidos impuseram sanções a várias figuras do Partido Comunista da China (PCC) devido à violação dos direitos humanos dos uigures e de outros muçulmanos. Pequim já reagiu e promete retaliar contra Washington, aumentando ainda mais a tensão entre as duas maiores potências mundiais.

Nos últimos anos, a China tem sido acusada por organizações de defesa dos direitos humanos de perseguição religiosa e de deter arbitrariamente em campos de doutrinação política mais de um milhão de uigures, uma minoria muçulmana, na província de Xinjiang, uma acusação que Pequim rejeita.

Entre as figuras visadas pelas sanções norte-americanos está Chen Quanguo, secretário-geral do PCC em Xinjiang e membro do Politburo chinês, considerado o responsável pelos programas de doutrinação dos uigures naquela província chinesa.

As sanções foram anunciadas pelo secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, que afirmou que os Estados Unidos “não podem ignorar as violações dos direitos humanos levadas a cabo pelo PCC contra minorias étnicas”. As sanções visam ainda outros três oficiais da província de Xinjiang que, a partir de agora, têm os seus activos nos Estados Unidos congelados e as transacções financeiras com estas figuras passam ser crime.

As medidas anunciadas pelos Estados Unidos surgem numa altura de enorme tensão com a China, não só devido às críticas de Washington à forma como Pequim geriu o início da pandemia de covid-19, mas também devido à situação em Hong Kong, onde o PCC impôs uma lei de segurança nacional que põe em causa a autonomia da região administrativa especial, e à guerra comercial em curso entre as duas potências. 

Depois de anunciadas as sanções, a China garantiu que vai retaliar e acusou os Estados Unidos de interferirem nos assuntos internos do país. 

 “À luz destas acções erradas, a China vai impor medidas recíprocas contra oficiais norte-americanos e organizações que se comportem erradamente em relação aos direitos humanos em Xinjiang”, afirmou o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros, Zhao Lijian, citado pela Reuters. “Esta medida constitui uma interferência grave nos assuntos internos da China, viola os padrões básicos das relações internacionais e prejudica seriamente as relações sino-americanas”, acrescentou.

Pequim tem sido acusada também de tentar controlar a natalidade desta minoria e de transferir milhares de uigures de Xinjiang dos centros de reeducação para trabalharem em fábricas noutras regiões da China.

No ano passado, o New York Times teve acesso a documentos internos do Governo chinês com os planos de Pequim para levar a cabo uma repressão “sem misericórdia” desta minoria muçulmana, alegando a necessidade de combater o terrorismo islâmico. Vários activistas uigures no exilo afirmam que os seus familiares foram detidos na China apenas por usarem barba comprida ou o véu islâmico. 

Outra investigação, de um consórcio internacional de jornalistas, publicada em Novembro do ano passado, revelou o dia-a-dia dos uigures nos centros de detenção de Xinjiang, classificando-os como “o maior encarceramento maciço de uma minoria étnico-religiosa desde a II Guerra Mundial”.

A China, no entanto, garante que estes centros são escolas para ajudarem os uigures a encontrarem emprego, aprenderem mandarim e afastarem-se do jihadismo.

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