O VAR e o penálti do Tondela

Do jogo Tondela-FC Porto vou destacar um lance que me parece bastante interessante sob o ponto de vista da arbitragem, do videoárbitro (VAR) e do protocolo: ao minuto 73, Uribe, de forma clara e óbvia, comete falta sobre Jonathan Toro, com a perna direita ao nível do joelho, e atinge a coxa do seu adversário, acabando por derrubá-lo. De imediato, o árbitro assinalou pontapé de penálti. A infracção é evidente, a dúvida era se a mesma tinha sido cometida dentro ou fora da área.

Por se tratar de um lance de penálti, que faz parte do protocolo, o VAR foi rever as imagens e, na sua análise, propôs ao árbitro a revisão da situação no monitor. Ora, tal aconteceu, porque na opinião do VAR o lance teria ocorrido fora da área. É aqui que a situação se torna interessante. O VAR, para propor a revisão do lance no que diz respeito ao local onde ocorreu a infracção, tem de, não só ter a certeza que é claro e óbvio que a infracção foi fora da área, como de fornecer também as imagens que providenciem essa informação ao árbitro.

A ideia do VAR era boa: mostrar, através da câmara por trás da baliza, o momento exacto em que tinha ocorrido o contacto e a respectiva falta, e, ao parar a imagem nesse ponto, passar para uma câmara perpendicular ao campo para mostrar que a infracção tinha acontecido fora da área. Mas, como todos podemos ver através das imagens disponíveis no monitor, em vez de serem esclarecedoras e inequívocas, ainda adensaram mais a dúvida.

publico.pt/2020/07/09/desporto/cronica%20de%20jogo/fc-porto-ganha-tondela-vira-atencoes-famalicao-1923850

Eu ter-me-ia socorrido da câmara de planos curtos e do ângulo inverso para mostrar o local exacto do contacto, e só depois passaria para a câmara do fora-de-jogo para mostrar que, eventualmente, a infracção teria acontecido fora da área. O árbitro, não tendo a certeza, com as imagens que lhe foram mostradas, manteve a decisão de penálti. Eu, em casa, parando o lance frame a frame, digo que a infracção foi fora da área e, portanto, não seria penálti, mas sim livre directo.

Agora a segunda parte deste lance, também muito interessante e que se prende com a questão disciplinar. Sendo penálti, como foi assinalado, e porque o jogador portista tentou jogar a bola (acabando por rasteirar o adversário), o árbitro agiu de acordo com a lei da tripla penalização, que prevê que os cartões vermelhos, por corte de clara oportunidade de golo, passam para amarelo, e os cortes de ataque prometedor, passíveis de advertência, passam a não ter acção disciplinar. Assim, o juiz não mostrou qualquer cartão a Uribe,

Correcta a interpretação. Contudo, se tivesse assinalado pontapé livre e não o penálti, e por se tratar de um lance fora da área, de corte de ataque prometedor, o jogador “azul e branco” teria de ser advertido, e, como seria o segundo cartão amarelo, era expulso do jogo por acumulação de cartões.

Deste jogo, destaque ainda para a queda de Manafá, aos 6 minutos, na área do Tondela. Jaquité não cometeu falta, o jogador portista estava em desequilíbrio e o contacto foi normal. Ao minuto 90+2, penálti bem assinalado a favor do FC Porto: Philipe Sampaio carregou Marega pelas costas, derrubando-o e impedindo-o de jogar a bola.

Do jogo Famalicão-Benfica, destaco dois lances em que o árbitro não assinalou penálti e nos quais o VAR, mesmo após revisão, validou a decisão, pois em ambos os casos há margem de manobra e de dúvida. Para mim, contudo, não me restam dúvidas de que, em ambos os casos, houve motivo para penálti.

Ao minuto 7, Cervi cai na área. Para o árbitro, a perna esquerda a arrastar no chão e a forma como o jogador benfiquista caiu foram as razões pelas quais considerou ter havido simulação e, daí, o livre indirecto e o cartão amarelo que foram mostrados. Mas Roderick, com a biqueira da bota, ao tentar cortar a bola, acertou em cheio na sola do pé direito de Cervi, fazendo com que este contacto tenha sido suficiente para levar à queda.

Ao  minuto 11, o árbitro considerou correcto o lance em que Pedro Gonçalves apareceu caído na área benfiquista. Se é verdade que Nuno Tavares toca a bola, também é um facto que acaba por lhe dar um toque na perna por trás, fazendo com que este contacto desequilibrasse o jogador famalicense. Acto contínuo, Vlachodimos, que tinha saído de frente em tesoura, com o seu pé direito acerta em cheio no pé esquerdo do já em queda e desequilibrado Pedro Gonçalves, acabando por derrubá-lo.

Ambos os lances são difíceis e, por isso, compreendo a decisão em campo de nada assinalar e até a não intervenção do VAR, mas, como disse inicialmente, são ambos passíveis de pontapé de penálti. 

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