Afinal, a catedral de Notre-Dame vai ser fiel a si mesma no restauro

Depois de sugerir um “gesto arquitectónico contemporâneo” com a criação de uma flecha nova, Emmanuel Macron recuou e pré-aprovou um projecto mais conservador que restitui o modelo anterior ao incêndio.

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Reuters/Christian Hartmann

Após o incêndio da Catedral de Notre-Dame, em Abril do ano passado, o Presidente francês, Emmanuel Macron, sugeriu que o restauro do monumento poderia contemplar uma nova flecha, assinalando a recuperação com um “gesto arquitectónico contemporâneo”. Cerca de um ano e meio volvido, e após uma reunião com a Comissão Nacional de Património e Arquitectura (CNPA), o chefe de Estado mudou de ideias e assinalou que, afinal, apoia um restauro que devolva a catedral à sua aparência antes da tragédia.

“Nos últimos meses”, disseram representantes e porta-vozes da Presidência, citados pelo jornal francês Le Figaro, Macron – que tem apontado para uma intervenção de cinco anos, prometendo a reabertura da catedral para 2024 – “consultou um número considerável de historiadores, arquitectos e especialistas”, “pré-aprovando” as principais linhas do projecto de restauro assinado por Philippe Villeneuve, que desde o início defendeu uma reconstrução de acordo com o desenho de Eugène Viollet-le-Duc.

Na reunião da CNPA, Villeneuve apresentou um dossiê de três mil páginas que passa em revista os métodos por si recomendados para restaurar a estrutura, o tecto e a flecha da catedral. Roselyne Bachelot, a nova ministra da Cultura francesa, explicou que houve um “consenso” na mesa, salientando que a decisão de recuperar o edifício de acordo com o modelo pré-existente permitirá “não atrasar ainda mais” o restauro.

“Para fabricar um pináculo contemporâneo, seria necessário um concurso específico, o qual poderia potenciar um atraso nas obras. As consultas com grandes arquitectos levaram a dizer que essa aposta na flecha era muito complicada e que um gesto contemporâneo poderia conduzir ao contrário do pretendido”, explicou a comitiva de Macron.

Antes de pré-aprovado o projecto de Philippe Villeneuve – cuja proposta, tem recorrentemente sustentado o arquitecto, é aquela que mais margem de manobra dá a Macron para concretizar a sua vontade de reabrir a Catedral de Notre-Dame em 2024 –, a CNPA terá considerado “todos os cenários”, inclusivamente o de deixar a catedral como está. Ainda há dúvidas, destaca a revista Le Nouvel Observateur, sobre a “estrutura” da recuperação, mas será concluído em breve um estudo especificando “exactamente todos os contornos da reconstrução”, que será feita em madeira.

O restauro de Notre-Dame só começará depois do desmantelamento dos andaimes que rodeiam a catedral, que deverá ficar concluído até ao final de Setembro. As obras têm, de resto, sofrido vários contratempos. Antes de serem suspensos por um mês devido à propagação do novo coronavírus, os trabalhos já haviam sido interrompidos no Verão de 2019 para melhorar a protecção dos trabalhadores contra as mais de 400 toneladas de chumbo que derreteram na sequência do incêndio, e que poluíram tanto o interior da catedral como os terrenos circundantes.

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