Liberais Democratas britânicos procuram um líder que os faça sentir novamente relevantes

Ed Davey e Layla Moran são candidatos à liderança dos Liberais Democratas. Partido nunca mais recuperou protagonismo desde a participação no Governo de Cameron e afundou-se nas últimas eleições. Nome do sucessor de Swinson é conhecido em Agosto.

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Layla Moran (à esquerda, de verde) é candidata à suceder a Jo Swinson (de vermelho), que se demitiu em Dezembro Hannah McKay/Reuters

“Apresento-me aqui hoje não só como líder dos Lib Dems, mas como candidata a primeira-ministra. Não há limites à minha ambição para o meu partido, para o meu movimento e para o meu país”. Estas palavras têm pouco mais de um ano e foram proferidas por Jo Swinson no primeiro discurso como líder dos Liberais Democratas britânicos.

Cinco meses depois, o partido caía com estrondo nas eleições legislativas vencidas por Boris Johnson e pelo Partido Conservador e a “candidata a primeira-ministra”, que nem conseguiu ser eleita pelo seu círculo eleitoral, apresentava a demissão, abrindo caminho para a eleição do quinto líder partidário no espaço de cinco anos.

Esta quinta-feira, e depois de terem obtido as nomeações necessárias de deputados, membros e repartições locais do partido, foram confirmados os nomes dos candidatos à liderança dos Liberais Democratas: Edward Davey e Layla Moran. 

Um ou outro terá a difícil missão de voltar a dar relevância a um partido que, desde a participação no Governo de David Cameron (2010-2015), tem vindo a acumular mais momentos baixos do que altos e que, depois de desempenhos interessantes nas eleições locais e europeias do ano passado, foi fortemente castigado nas legislativas de Dezembro, por querer cancelar a saída do Reino Unido da União Europeia.

A votação será aberta aos mais de 100 mil membros registados e terá lugar entre 30 de Julho e 26 de Agosto. O anúncio do sucessor de Nick Clegg (2007-2015), Tim Farron (2015-2017), Vince Cable (2017-2019) e Jo Swinson (2019) está a agendado para o dia 27 desse mês.

Sir Ed Davey tem 56 anos, é co-líder interino dos Liberais Democratas desde Dezembro, deputado pelo círculo eleitoral londrino de Kingston e Surbiton e representa a ala mais centrista do partido. Favorito para as casas de apostas, Davey foi derrotado por Swinson na eleição interna de 2019 e serviu como ministro da Energia e das Alterações Climáticas no Governo de Cameron.

Layla Moran tem 37 anos e ascendência palestiniana, é deputada por Oxford West e Abingdon desde 2017 e serve actualmente como porta-voz dos liberais para a Educação. Professora de profissão, também liderou a pasta do Digital, Cultura, Media e Desporto do partido e é vista como a candidata da facção de centro-esquerda dos Liberais Democratas.

Ainda que a mensagem anti-“Brexit” de Jo Swinson ajude a explicar parte do fracasso do partido liberal em convencer um eleitorado muito saturado da discussão europeia nas últimas eleições, a gestão ineficaz da ambiciosa dirigente escocesa parece fazer parte de uma tendência de declínio, já com alguns anos.

Os Liberais Democratas perderam em 2015 o estatuto de terceira força em Westminster – para o Partido Nacional Escocês – que, por sua vez, lhes retirou a possibilidade de serem parceiros relevantes e valiosos para conservadores ou trabalhistas.

Basta olhar para os deputados liberais conquistados nas últimas cinco eleições para dar conta dessa decadência: 62 deputados eleitos nas legislativas de 2005, 57 deputados em 2010, oito em 2015; 12 em 2017 e 11 em 2019.

“Vivemos tempos desafiantes para o nosso partido e para o nosso país e eu acredito que tenho a experiência, a visão e o discernimento necessários para estar à altura desses desafios”, afirmou Ed Davey esta quinta-feira, citado pela BBC. “Quero que os Liberais Democratas defendam uma sociedade mais solidária, ecológica e justa”.

“Liderando um partido renascido, focado na economia, na educação e no meio ambiente, que atenda às preocupações dos eleitores de todo o país, podemos começar a ganhar, de novo. [Ganhar] nunca foi tão importante como agora”, afiançou, por sua vez, Layla Moran.

A resposta à pandemia do coronavírus e a discussão sobre a futura relação comercial entre Reino Unido e União Europeia constam, destacadas, na agenda política dos próximos meses, à qual os liberais terão de dar atenção.

Mas o objectivo a curto prazo do próximo líder dos Liberais Democratas será o de encontrar o seu espaço dentro da oposição a Boris Johnson e aos tories. Depois de três anos algo erráticos, com Jeremy Corbyn ao leme, o Partido Trabalhista parece ter encontrado o seu caminho com Keir Starmer. A aparente moderação do Labour é mais um obstáculo para os Lib Dems.

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