Irlandês Paschal Donohoe é o novo presidente do Eurogrupo

Governante irlandês de centro-direita foi eleito, deixando para trás a vice-presidente do Governo espanhol Nadia Calviño. Gramegna, que concorria pela segunda vez, não foi à segunda volta da votação

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Paschal Donohoe (ao centro) JULIEN WARNAND/EPA

O ministro das Finanças da Irlanda, Paschal Donohoe, é o novo presidente do Eurogrupo, o órgão informal de coordenação da política económica e monetária onde têm assento os ministros das Finanças dos países da zona euro. 

Donohoe, que substituirá Mário Centeno no cargo, foi eleito pelos seus pares numa segunda ronda, depois de o resultado da primeira votação (conduzida de forma electrónica) ter sido inconclusivo. Prevaleceu sobre a ministra da Economia e Finanças espanhola, Nadia Calviño — o luxemburguês Pierre Gramegna, que concorria pela segunda vez ao cargo, decidiu abdicar da sua candidatura sem ir à segunda volta. Para a eleição, eram necessários pelo menos dez votos entre os 19 possíveis. 

Os três candidatos representavam as três principais famílias políticas europeias, que há um ano negociaram entre si a distribuição dos cargos de topo das instituições comunitárias.

Apesar de se tratar de um órgão informal, a presidência do Eurogrupo também entra nesses cálculos políticos, o que explicava o favoritismo atribuído à candidata espanhola: com a substituição de Centeno por Calviño mantinha-se o actual equilíbrio de forças acertado pelos líderes europeus.

A ministra espanhola contava à partida com o apoio dos governos socialistas, caso de Portugal, ou com ministros das Finanças socialistas, como a Alemanha e a Itália, duas das maiores economias da zona euro. Calviño, que saltara do cargo de directora-geral da Concorrência para integrar o executivo de Pedro Sánchez, era também a candidata informal de Bruxelas.

Mas apesar dos apoios poderosos, a candidatura da espanhola também tinha uma forte oposição contra si — e não necessariamente por causa do fosso entre os países do Norte e os do Sul que se caiu na crise do euro. Na segunda ronda, os votos acabaram por se concentrar em Paschal Donohoe, cujo partido Fine Gael integra ao Partido Popular Europeu, a maior família política europeia, à qual pertencem os ministros da Áustria, Chipre, Eslováquia, Eslovénia, Letónia e Lituânia. 

Com a desistência de Gramegna, os representantes de governos liberais do Benelux (Bélgica, Luxemburgo e Países Baixos) apoiaram o candidato mais moderado, e também aquele que, em termos programáticos, mais se aproxima das suas ideias: depois do luxemburguês, Jean-Claude Juncker, e do holandês, Jeroen Dijsselbloem, com a eleição do irlandês, Paschal Donohoe, a presidência do Eurogrupo volta a ficar na mão de um país com um regime fiscal competitivo ou, noutra designação, agressivo.

Sanar divergências

Mas na senda do que aconteceu da última vez, com a escolha de Mário Centeno, a liderança do Eurogrupo continua a ser assegurada por um dos países que na sequência da crise do euro tiveram de pedir assistência financeira e submeter-se a um programa de ajustamento estrutural. 

Paschal Donohoe fez questão de valorizar essa experiência, reconhecendo que, tal como na crise das dívidas soberanas, também nestes tempos de pandemia “os cidadãos estão a olhar para a economia com preocupação e receio pelo seu futuro, os seus postos de trabalho e os seus rendimentos”.

O presidente eleito do Eurogrupo lembrou que os líderes europeus terão já na próxima semana que tomar “decisões complexas e difíceis” em resposta aos enormes desafios colocados pela crise do novo coronavírus: como repetiu o comissário europeu, Paolo Gentiloni, que esta terça-feira apresentou as novas projecções para a economia da zona euro e da UE, “a pandemia atingiu-nos de forma mais grave do que esperado”, e “os riscos de uma maior divergência entre os países já se começaram a materializar”. “Podemos apontar alguns sinais encorajadores de recuperação, mas o panorama geral ainda é de muita incerteza”, afirmou.

A eleição do novo presidente foi o último ponto da ordem de trabalhos da reunião desta quinta-feira, que começou com um debate sobre o actual panorama económico europeu, a partir das previsões macroeconómicas de Verão que foram divulgadas pela Comissão Europeia esta semana.

Mas antes disso, houve um pequeno discurso de Mário Centeno. O ex-ministro das Finanças despediu-se do cargo com um balanço do mandato e uma reflexão sobre o que correu melhor e pior durante os dois anos e meio em que conduziu os trabalhos do Eurogrupo. A intervenção foi saudada por uma salva de palmas. 

Numa mensagem publicada no Twitter antes da sua última reunião como presidente, Centeno dizia que a corrida — que já antecipava “renhida” — entre os três candidatos à sua sucessão mostrava como o Eurogrupo “é mais importante e influente do que nunca”.

Na hora da saída, Centeno mostrou-se satisfeito com o trabalho dos últimos dois anos do Eurogrupo, que na sua opinião se tornou “mais eficaz na gestão de crises” e assumiu “uma posição de comando na coordenação de políticas económicas”. 

Na sua declaração inicial à imprensa, Donohoe reconheceu o “imenso trabalho” de Mário Centeno — que tratou por “governador” — a “lançar as fundações para um euro mais forte e resiliente”, e comprometeu-se a tentar replicar a sua “dedicação” e “paciência” na condução dos trabalhos do Eurogrupo.

Durante a reunião, quase todos os ministros dedicaram elogios à liderança de Mário Centeno, assinalando a sua determinação e capacidade para a construção de compromissos. “Durante estes meses em que trabalhei com ele, pude ver como foi capaz de ultrapassar as dificuldades e encontrar acordos muito importantes”, disse o comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni.

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