Um Mundial revisto em baixa com Portimão à espreita

Campeonato do Mundo está reduzido, pelo menos por enquanto, aos circuitos europeus. Spielberg, na Áustria, acolhe o primeiro Grande Prémio de uma época cujo calendário ainda está em aberto.

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A F1 está de regresso às pistas este fim-de-semana Reuters/LEONHARD FOEGER

Qualquer semelhança entre a actual temporada de Fórmula 1 e o habitual Campeonato do Mundo da modalidade será pura coincidência. Decorreram 112 dias desde a data prevista para o arranque da prova e a primeira sessão de treinos livres da época, que tem hoje lugar em Spielberg, na Áustria. O Red Bull Ring será o palco inicial de um Mundial revisto em baixa, com oito corridas apenas no plano de lançamento e um sem-número de alterações provocadas pela pandemia de covid-19.

Uma das preocupações que tem assolado os responsáveis pela Fórmula 1 nos últimos anos é a perda de adeptos. E neste contexto de restrições sanitárias o desafio será ainda maior: os circuitos estarão vedados ao público, pelo que a captação de novos públicos terá de passar, pelo menos para já, pelos canais digitais. Essa está longe de ser, porém, a única mudança no perfil dos actuais Grandes Prémios. As cerimónias de pódio ficam sem efeito, o uso de máscara nos bastidores é obrigatória, cada equipa estará confinada a uma “bolha” própria e as conferências de imprensa serão virtuais.

O objectivo é evidente: prevenir o contágio e assegurar a todos os agentes que o lançamento do Mundial, de acordo com o plano sanitário desenhado, foi uma decisão acertada. Mesmo que, para que os pilotos não ficassem reduzidos aos simuladores durante todo o ano, tenham tido de ser feitos ajustes profundos num calendário inicial que previa 22 corridas e que, até ver, fica reduzido a quase um terço. Com a particularidade de duas das paragens (precisamente a Áustria e Inglaterra) acolherem dois Grandes Prémios cada.

Este vai ser, de resto, o Campeonato do Mundo com o arranque mais tardio de sempre (até agora vigorava a data de 27 de Maio de 1951, com o GP da Suíça) e o primeiro desde 1966 a começar na Europa — na altura, foi o Mónaco a dar o mote. E ainda que o presente figurino preveja somente oito provas, a intenção da Federação Internacional do Automóvel (FIA) e do promotor da Fórmula 1 é concluir a época com 15 corridas, pelo menos.

Para isso, há uma série de circuitos que estão em stand-by, sendo que a prioridade, por razões de saúde pública e de logística, tem sido dada aos palcos europeus. Numa lista que conta com pretendentes como Florença (Mugello, Itália), Hockenheim (Alemanha) ou Sochi (Rússia), Portimão também entra nas contas. Até porque o Autódromo Internacional do Algarve (AIA) já tem experiência em testes de pré-temporada e os números de casos de covid-19 na região está longe de ser alarmante.

“Estamos a trabalhar afincadamente na garantia da Fórmula 1 para Portugal. É um processo complexo e difícil”, destacou há pouco mais de uma semana Paulo Pinheiro, administrador do AIA, sublinhando que a organização de uma prova desta dimensão envolve custos “que dificilmente podem ser suportados apenas pelo circuito”.

Depois de o director desportivo da Fórmula 1, o britânico Ross Brawn, ter admitido que Portugal está a ser equacionado como alternativa para o calendário revisto do Mundial de 2020, reacendeu-se a esperança do país em vir a receber uma das mais mediáticas provas desportivas do mundo. Ainda que isso obrigue a alguns ajustes na estrutura actual, como a repavimentação da pista.

Se vier a confirmar-se, o mais certo é que a corrida decorra entre o final de Setembro e o início de Outubro, já que o “itinerário” até agora previsto só dura até 6 de Setembro, data do Grande Prémio de Itália, no circuito de Monza. A intenção é realizar mais um par de corridas na Europa e depois, se a conjuntura o permitir, rumar à Ásia, já que as provas do Bahrein, Vietname e China ficaram em stand-by.

Entre os testes à performance dos monolugares e os testes à covid-19 a que os pilotos (e o staff das equipas) serão sujeitos, a Fórmula 1 vai mesmo arrancar, com as primeiras ultrapassagens agendadas para domingo, a partir das 14h10. 

“Parece-me que há uma real vontade de uma larga fatia da população que quer voltar à vida normal, mas quero fazê-lo de forma segura”, sublinha Chase Carey, director executivo da Formula One Management. “Não estamos sozinhos, seguramente. Há outros desportos que já começaram a competir”.

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