Dia 76: vamos jogar ao “Isso não, Mãe!”

Uma mãe/avó e uma filha/mãe falam de educação. De birras e mal-entendidos, de raivas e perplexidades, mas também dos momentos bons. Para avós e mães, e não só.

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@DESIGNER.SANDRAF

Querida Filha,

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Vamos jogar ao “Isso não, Mãe!”? Durante um dia as mães trocam de papel com os filhos, e pedem-lhes que lhes digam “Não” em todas as situações em que acham que elas lhes diriam um “Não”.

Posso comer um bolo antes do almoço? Não!

Posso andar sem chapéu? Não!

Posso tirar os sapatos? Não!

Posso não comer sopa? Não!

Posso ver só mais cinco minutos desta série? Não!

Aposto que ai pelas sete da tarde, qualquer mãe já está furiosa, a sentir-se uma vítima oprimida.

Se calhar não são precisos tantos Nãos. Se fosse connosco, revoltávamo-nos.


Mãe,

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Esta sua carta veio mesmo a calhar! Recebi de uma querida tia, um desafio do blogue Filosofia Crítica, que promove várias iniciativas para levar a filosofia ao dia-a-dia das pessoas, inclusive no contexto de escola ou da vida em família. O desafio chama-se o “Dia sem Regras” e sugere que os pais proporcionem aos filhos um dia (ou pelo menos umas horas) sem leis, nem mandamentos.

O autor, Tomás Magalhães Carneiro, diz que “o objectivo é que sintam e pensem por si mesmos que regras são necessárias e quais não são. E o que é que é exigido de nós para que as possamos dispensar”.

Depois, no final do dia, e se “a casa ainda estiver de pé”, como diz, é tempo de se sentarem para conversar sobre como correu a experiência — deixa uma lista de questões para organizar a discussão.

Sinceramente, tenho a certeza de que não são só os miúdos que se vão surpreender: quantas regras sem sentido é que instaurámos, lutámos desesperadamente por impôr, e que, bem vistas as coisas, já não têm utilidade nenhuma?

Fiquei também curiosa com os outros exercícios e jogos que ainda tenho de explorar melhor. Mãe, nestes tempos de Trumps, Bolsonaros e Chegas, de extremismos e de fake news, temos mesmo de ajudar os nossos filhos a desenvolverem um pensamento crítico, capaz de distinguir o trigo do joio, porque senão isto acaba mal.

Mas voltando ao Dia sem Regras, não julgue que escapa. Aliás, para que haja mais testemunhas da anarquia sugiro que seja já, quando formos passar o fim-de-semana consigo! A sério, alinha? Como sei que sim, ficam aqui todas as indicações e sugestões, para se poder preparar. 

Até já,


No Birras de Mãe, uma avó/ mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, vão diariamente escrever-se, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. Na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Facebook e Instagram

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