Desemprego desce, mas há uma razão estatística: a população inactiva cresce

Taxa de subutilização do trabalho subiu para 14,2% em Maio. Com a pandemia, pessoas que perderam o emprego ou que já estavam desempregadas têm de ser classificadas na população inactiva e não como desempregadas.

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Encerramento de empresas durante a pandemia afectou as ofertas de trabalho Miguel Manso

São dados oficiais que, em plena pandemia, causam surpresa à primeira vista: a taxa de desemprego diminuiu em Maio para 5,5% e é mais baixa do que era antes do agravamento da crise económica desencadeada pela covid-19. Mas o que diz isso sobre a evolução do mercado de trabalho nestes meses de pressão económica e social?

Os dados divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), definitivos para Abril, provisórios para Maio, têm de ser lidos com cautela. Se, por um lado, mostram uma taxa de desemprego em queda, revelam, por outro, uma taxa de emprego também a descer. Um olhar mais fino sobre os vários indicadores desfaz leituras simplistas: a população inactiva continua a aumentar e o indicador que mede a chamada “subutilização do trabalho” também.

Uma das explicações para a taxa de desemprego ter recuado (e estar em níveis mais baixos do que antes da epidemia se agravar) está no facto de haver pessoas sem trabalho que, estatisticamente, não podem ser contabilizadas como desempregadas.

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O INE já tinha explicado e volta agora a referir que é preciso ter em conta os impactos que a pandemia (e o recolhimento social que lhe está associado) está a ter na forma como os cidadãos sem emprego são registados.

As “pessoas anteriormente classificadas como desempregadas e pessoas que efectivamente perderam o seu emprego devido à pandemia covid-19 podem agora ser classificadas como inactivas, devido às restrições à mobilidade, à redução ou mesmo interrupção dos canais normais de informação sobre ofertas de trabalho em consequência do encerramento parcial ou mesmo total de uma proporção muito significativa de empresas, razões pelas quais não fizeram uma procura activa de emprego (condição essencial para a sua classificação enquanto desempregada)”.

A isso junta-se o facto de serem incluídas na população inactiva as pessoas que não tinham disponibilidade para “começar a trabalhar na semana de referência [tida em conta nos inquéritos do INE] ou nos 15 dias seguintes, caso tivessem encontrado um emprego, por terem de cuidar de filhos ou dependentes ou por terem adoecido em consequência da pandemia”.

Vejam-se os números. Em quatro meses (de Fevereiro a Maio), mesmo com o mecanismo do layoff simplificado lançado pelo Governo para que as empresas pudessem suspender os contratos ou reduzir os horários de trabalho, a população com emprego caiu 4% (de 4,83 milhões para 4,64 milhões, uma diferença de 192 mil pessoas). Em paralelo, foi esta a evolução da população desempregada: 331,6 mil pessoas em Fevereiro, 317,2 mil em Março, 318,8 em Abril e 267,9 mil em Maio.

Só que, ao mesmo tempo, “aumentou significativamente o número de inactivos”. O INE contabilizava 2,61 milhões em Fevereiro, quando em Maio o número provisório já é de 2,86 milhões de pessoas.

O crescimento deve-se ao aumento do número de pessoas que, explica o INE, podem ser consideradas em “dois grupos que estão na fronteira com a população activa: inactivos que, embora pretendam trabalhar, não fizeram diligências activas para procurar trabalho e inactivos que, embora pretendam trabalhar e tenham procurado activamente trabalho, não estavam disponíveis para iniciar trabalho na semana de referência ou nas duas semanas seguintes”.

Daí que o indicador da subutilização do trabalho seja importante para complementar a leitura dos números do desemprego, pois ele inclui não apenas a população desempregada, mas também, lembra o INE, “o subemprego de trabalhadores involuntariamente a tempo parcial, os inactivos à procura de emprego mas não disponíveis para trabalhar e os inactivos disponíveis mas que não procuraram emprego”.

Como evolui esse indicador? A taxa estava em 12,4% em Fevereiro (665,1 mil pessoas), manteve-se igual em Março, subiu para 13,4% em Abril e voltou a crescer em Maio, passando para 14,2% (749,5 mil cidadãos).

Em Abril, a taxa de desemprego entre os homens era de 5,3%, enquanto nas mulheres continuava a ser mais alta, de 7,3%. As estatísticas de Maio, ainda sujeitas a revisão, apontam para uma taxa igual, de 5,2%.

As estatísticas do INE podem ser consultadas aqui.

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