TOI-849b, o exoplaneta que nos pode ensinar mais sobre planetas gigantes

Exoplaneta tem o tamanho de Neptuno e está a orbitar uma estrela a 730 anos-luz de distância de nós.

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O TOI-849b orbita a sua estrela em apenas 18 horas Mark Garlick/Universidade de Warwick

Há um novo exoplaneta a ter em consideração. O seu nome é TOI-849b, tem o tamanho de Neptuno, parece-se com o núcleo de um planeta gigante e está a orbitar uma estrela a 730 anos-luz. A apresentação deste planeta extra-solar é feita na edição desta semana da revista científica Nature e tem a participação de oito cientistas do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA). Em comunicado a instituição chama a atenção de que este corpo desafia modelos teóricos de formação de planetas e será um alvo ideal para se entender melhor o interior de planetas gigantes do nosso sistema solar, como Júpiter.

Em tamanho é semelhante a Neptuno, mas é três vezes mais denso. A sua densidade é a de um planeta rochoso como a Terra. No fundo, é um corpo com a densidade de um planeta rochoso como a Terra, mas com 40 vezes a sua massa e cinco vezes a de Neptuno. Pela sua massa, o TOI-849b deveria ter atraído mais gás – hidrogénio e hélio – para formar uma atmosfera densa como as de Saturno e Júpiter. “Em vez disso, parece expor a nu o núcleo primordial de formação destes planetas gigantes”, lê-se no comunicado. Devido ao seu espesso envelope atmosférico, nesses núcleos a matéria está sujeita a altas pressões e com propriedades ainda pouco conhecidas.

A camada exterior deste exoplaneta está a uma temperatura de cerca de 1500 graus Celsius e está uma curta distância da sua estrela: por isso, orbita-a em apenas 18 horas.

O TOI-849b foi descoberto com o satélite TESS, da NASA, em 2018. A confirmação foi dada por instrumentos como o espectrógrafo HARPS, no observatório de La Silla, do Observatório Europeu do Sul (ESO).

O contributo da equipa do IA foi a identificação das propriedades da estrela, a TOI-849, que é semelhante ao Sol, mas mais velha. Dessa forma, inferiram-se as abundâncias químicas do planeta e as suas proporções de ferro e silício. Com base nessas proporções, concluiu-se que a atmosfera será, no máximo, de apenas 4% da massa total. Do IA participaram neste estudo: Vardan Adibekyan, Nuno Santos, Sérgio Sousa, Susana Barros, Elisa Delgado Mena, Olivier Demangeon, Pedro Figueira e Saeed Hojjatpanah.

“Qualquer que tenha sido a origem de TOI-849b, este não pode ser considerado um planeta completo, mas o núcleo de um planeta maciço ‘falhado’ ou com uma história conturbada”, considera no comunicado Vardan Adibekyan, terceiro autor do estudo, que foi liderado pela Universidade de Warwick, no Reino Unido. “É extraordinário, pois não nos é possível estudar os núcleos dos planetas gigantes do [nosso] sistema solar.” 

Já Sérgio Sousa acrescenta: “Este planeta revela-se extremamente denso, sendo mesmo até agora o mais denso na sua classe de planetas. É muito desafiante para as teorias de formação e evolução de planetas explicar os processos que deram origem a tal corpo.”

 Em próximos estudos, espera-se estudar a atmosfera residual do TOI-849b, o que poderá ter origem na evaporação do material sólido sob altas temperaturas.

Já foram descobertos mais de 4000 exoplanetas. Em 2019, Michel Mayor e Didier Queloz foram mesmo distinguidos com o Prémio Nobel da Física “pela descoberta de um exoplaneta que orbitava uma estrela do tipo solar” em 1995. Esse foi então apenas o início de muitas outras descobertas. 

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