Rankings (desconfinados) — para quando estudar o que funciona?

O discurso público sobre equidade educativa em Portugal está focado na justificação do insucesso e pouco curioso com o que se passa onde há sucesso.

Quando o Governo tomou a decisão de suspender as atividades letivas presenciais a partir de 16 de março, estávamos já em período de análise dos resultados dos exames dos 11.º e 12º anos de 2019 pelos órgãos de comunicação social. Com a necessidade de todos nos focarmos no combate à covid-19, o Ministério da Educação e a comunicação social decidiram suspender a divulgação dos resultados dos rankings. Passada a fase mais aguda de combate à doença, foi decidido regressar ao ensino presencial em alguns anos de escolaridade e desconfinar os rankings.

Os rankings são uma fotografia de um momento. Essa fotografia representa o sucesso dos alunos nesse ano e não necessariamente o sucesso da sua escola. Mas quando tiramos uma sucessão de fotografias e vemos um padrão, não podemos deixar de tentar perceber o que esse padrão significa. E o padrão que vemos formar-se, agravado este ano, é um aumento da desigualdade entre resultados das sucessivas coortes de alunos das escolas públicas e privadas. Este ano (poderá ser uma exceção na série; veremos para o ano), a primeira escola pública apenas surge na terceira dezena. Para explicar este fenómeno, os inimigos do ensino privado (incluindo alguns que curiosamente são antigos alunos e/ou têm os filhos no privado) usam dois argumentos.

O primeiro é que isto sucede porque os colégios chumbam os alunos com piores resultados no 10.º e 11.º para não “estragarem” o resultado no 12.º. Mas o Ministério da Educação criou um indicador de percursos diretos de sucesso que deveria tornar isto claro e, afinal, os colégios também têm bons resultados neste ranking alternativo. Poderá haver quem faça isto (é errado e será a exceção), mas não é isso que explica a diferença entre setores no topo do ranking.

Também há quem diga que isto sucede porque os colégios só têm bons alunos. Mas isso parece pouco sustentável quando vemos a percentagem de alunos a frequentar o ensino secundário no privado a subir (15% em 2000, 19% em 2008 e 21,3% em 2016) e quando vemos que estas médias muito altas são em colégios que levam centenas de alunos a exame.

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Nuno Ferreira Monteiro

Mas o que me incomoda é que, ano após ano, vemos que existe aqui algo e, até ao momento, ninguém teve curiosidade em tentar perceber o fenómeno. O discurso público sobre equidade educativa em Portugal está focado na justificação do insucesso e pouco curioso com o que se passa onde há sucesso. São realizados anualmente dezenas de estudos sobre escolas em Territórios de Educação de Intervenção Prioritária — TEIP e abandono escolar (e isso é bom), mas não conheço estudos sobre escolas onde os alunos têm excelentes resultados escolares — o que é, no mínimo, estranho, para não dizer difícil de compreender que nem se admita que é possível aprender com quem tem sucesso! Na generalidade dos setores de atividade, a democratização do acesso a produtos e serviços de qualidade foi feita tornando acessível a todos produtos e bens de qualidade que inicialmente só eram acessíveis a quem podia pagar. Só na educação, em vez de procurar entender o que se passa nos sítios onde há bons resultados, as elites se entretêm a desconsiderá-los.

Termino com uma reflexão que pode ajudar a compreender parte dos bons resultados: TODOS os professores do ensino particular e cooperativo estão empenhados, constante e consistentemente, em que os seus alunos aprendam; todos os líderes dos colégios procuram tornar claro o seu projeto educativo. Isto por uma razão muito simples: se não o fizerem, os pais tiram os seus filhos do colégio e todos ficam sem emprego. Não explica tudo, mas é um grande incentivo.

P.S. Nada neste artigo pode ser entendido como o autor defendendo que ensinar alunos com uma origem socioeconómica desfavorecida é a mesma coisa que ensinar alunos com uma origem socioeconómica favorecida. Existem profissionais fantásticos em escolas públicas que servem populações desfavorecidas. Mas existem também profissionais que não deviam lá estar. Imaginem o que seria se estas escolas pudessem escolher os seus professores...

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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