Arcebispo da Cantuária defende que imagem de Jesus Cristo como homem branco deve ser reconsiderada

Justin Welby afirmou ainda que a Igreja não deve partir imediatamente para a remoção de estátuas ligadas ao colonialismo, mas admite que algumas terão de ser retiradas.

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Justin Welby é uma das principais figuras da Igreja Anglicana, que tem mais de 85 milhões de fiéis espalhados pelo mundo Reuters/Thomas Mukoya

O arcebispo da Cantuária, Justin Welby, afirmou esta sexta-feira que a Igreja deve repensar a imagem de Jesus Cristo como um homem branco. Numa entrevista à BBC Radio 4, Welby também admitiu que a Igreja de Inglaterra deve repensar as estátuas e monumentos presentes em templos que possam estar ligados à escravatura.

O arcebispo, uma das figuras mais importantes da Igreja Anglicana – que tem cerca de 85 milhões de fiéis em 165 países – afirmou que o Ocidente retrata habitualmente Cristo como uma pessoa de etnia branca, o que deve ser, segundo Welby, reconsiderado. “Esta ideia de que Deus é branco… Vai a igrejas em todo o mundo e não vê um Jesus branco. Vê um Jesus negro, um Jesus chinês, um Jesus do Médio Oriente – que, obviamente seria o mais exacto – vê um Jesus fijiano”.

Justin Welby continuou, afirmando que “Jesus é retratado de tantas formas como as culturas, línguas e entendimentos que existem” e a existência destes retratos “é uma lembrança da universalidade do Deus que se tornou humano”.

Sobre a remoção de estátuas associadas ao colonialismo e à escravatura, Welby pediu às pessoas para pensar com calma e não partir imediatamente para a demolição de monumentos. Mas, ainda assim, Igreja de Inglaterra estava a pensar no assunto.

“Alguns nomes terão de mudar. Se passar pela Catedral de Cantuária há monumentos em todo o lado, ou na abadia de Westminster. Estamos a rever cuidadosamente isso tudo, e algumas terão de ser removidas”, explicou. 

Ainda assim o arcebispo acredita que há alternativas a simplesmente remover as estátuas e pediu às pessoas para “perdoar” as figuras históricas nos monumentos em vez de as deitarem abaixo. “Pode haver perdão. Eu espero e rezo para que todos nos unamos, mas só se houver justiça”.

O debate em torno da remoção de estátuas ligadas ao colonialismo e à escravatura intensificou-se à medida que o movimento Black Lives Matter foi crescendo. Depois da morte de George Floyd, protestos contra o racismo e a violência policial espalharam-se para protestos contra símbolos racistas e colonialistas.

Em Portugal, a estátua de Padre António Vieira em Lisboa foi vandalizada com a palavra “descoloniza” pintada a vermelha, e a boca, mãos e hábito do padre foram também tingidas a vermelho.

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