Cristina Rodrigues: da assessoria ao IRA ao desconhecimento do programa do PAN

Na pré-campanha das legislativas a deputada revelou desconhecer o que o partido propunha em matérias como o salário mínimo nacional.

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Cristina Rodrigues José Sena Goulão/Lusa

Em 2018, Cristina Rodrigues era chefe de gabinete de André Silva, líder e então único deputado do PAN, quando foi apontada como a ligação mais formal do PAN ao grupo Intervenção e Resgate Animal (IRA), por, enquanto advogada, ter prestado apoio jurídico aos activistas que, encapuzados, recorrem à violência para resgatar animais que considerem em risco. O IRA foi alvo de investigação por suspeita de crimes violentos como agressões e roubos.

Há ano e meio essa ligação foi divulgada numa reportagem da TVI que adiantava que alguns membros do IRA estavam alegadamente envolvidos com a Juve Leo, organizações de segurança privada e grupos de extrema-direita. Na altura, o PAN admitiu que Cristina Rodrigues “prestou esclarecimentos jurídicos a esta associação em nome individual, desconhecendo qualquer prática à margem da lei, tal como aliás o fez com tantas outras pessoas, associações e grupos informais”.

O partido vincava que mantinha a “confiança política” na assessora, mas acrescentava que, “tendo em conta algumas imagens transmitidas e até ao esclarecimento dos alegados factos”, Cristina Rodrigues cessava “todo o apoio a qualquer associação”. O PAN também admitia que tinha recebido o IRA no Parlamento em 2017, mas nos mesmos moldes em que recebia outras entidades, e acusava a TVI de “forçar, de forma sensacionalista e tendenciosa, uma ligação do PAN” às práticas ilegais do IRA.

Numa entrevista ao podcast Conversa, na pré-campanha das legislativas legislativas, Cristina Rodrigues foi entrevistada como cabeça de lista por Setúbal e confrontada com propostas mais polémicas do PAN, como as das terapêuticas alternativas, o acesso dos animais ao SNS, o fim do consumo de carne de vaca ou fim do recurso ao lítio, ao mesmo tempo que defendia a aposta nos carros eléctricos. Eram perguntas feitas por ouvintes do podcast, alguns deles candidatos por outras listas. Mas ficou mais conhecida por ter admitido que não conhecia o que o PAN propunha em termos de salário mínimo porque não lera o programa eleitoral do próprio partido. Na altura, Cristina Rodrigues disse preferir ser “sincera”.

Nesta quinta-feira, o presidente da Assembleia da República comunicou ao plenário que Cristina Rodrigues passa a deputada não-inscrita e avisou que terá que ser definido o seu novo lugar nas bancadas, uma vez que apenas os grupos parlamentares podem ocupar os lugares mais à frente (actualmente o PAN está na primeira e segunda fila, mesmo ao centro, entre o PS e o PSD). Tal como aconteceu com Joacine Katar Moreira quando deixou de representar o Livre e se tornou não-inscrita, Cristina Rodrigues deverá passar a sentar-se na última fila. 

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