Oposição reclama vitória nas presidenciais do Malawi

Eleições foram repetidas meses depois de os tribunais terem anulado as eleições do ano anterior devido a irregularidades. A confirmar-se o resultado avançado pelos media locais, Lazarus Chakwera sucede a Peter Mutharika.

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Media locais dizem que Lazarus Chakwera, da oposição, obteve 55% dos votos Eldson Chagara/Reuters

A coligação do candidato Lazarus Chakwera, da oposição, reclama vitória nas eleições presidenciais do Malawi, depois de as eleições anteriores terem sido anuladas por fraude. Segundo os media locais, citados pela Reuters, Chakwera conseguiu 55% dos votos, enquanto o actual Presidente, Peter Mutharika, ficou-se pelos 40%. Os resultados oficiais, contudo, ainda não foram divulgados.

As eleições realizaram-se na passada terça-feira, 23 de Junho, depois de as presidenciais de Maio de 2019 terem sido anuladas, em Fevereiro, pelo Supremo Tribunal, quase um ano depois.

Nesse acto eleitoral, a Comissão Eleitoral do Malawi (CEM) proclamou o Presidente Peter Mutharika, de 79 anos e no cargo desde 2014, como vencedor, com 38,6% dos votos, enquanto Lazarus Chakwera obteve 35,4%, uma diferença de apenas 160 mil votos.

A oposição contestou o resultado, alegando fraude. Sucederam-se protestos nas ruas do país e o Tribunal Constitucional acabaria por considerar as eleições fraudulentas, apontando diversas irregularidades, nomeadamente a utilização de corrector líquido nos boletins de voto.

O Presidente Mutharika contestou o veredicto dos tribunais e recorreu da decisão. No entanto, em Maio, o Supremo confirmou a decisão tomada em Fevereiro pelo Constitucional e foram marcadas novas eleições para Junho. Jane Ansah, presidente da CEM, responsável pela condução do acto eleitoral e alvo das críticas da oposição, demitiu-se.

O escândalo levou a alterações nas regras eleitorais e agora o vencedor tem de conseguir mais de 50% dos votos. Lazarus Chakwera, antigo pastor evangélico e líder do Partido do Congresso do Malawi (PCM), formou uma coligação com o Movimento de Transforação Unida (MTU) de Saulos Chilima, candidato que ficou em terceiro lugar nas presidenciais do ano passado, com 20,2% dos votos, que, tal como o PCM, contestou os resultados em tribunal.

CEM pede paciência

Na capital, Lilongwe, já se festeja a derrota de Mutharika. Em comunicado, a coligação de Chakwera reivindicou a vitória, garantindo que os malawianos “finalmente reclamaram o seu destino” e escolheram a coligação para “governar o país nos próximos cinco anos”.

Apesar dos cânticos de vitória, a CEM pede que os malawianos aguardem pela divulgação dos resultados oficiais.

“Estamos a fazer [a contagem dos votos] manualmente. Utilizamos registos dos centros e dos comissários distrais, e não das redes sociais. O nosso apelo é que os malawianos sejam pacientes”, afirmou  Chifundo Kachale, o novo presidente do CEM, em conferência de imprensa, citado pela Reuters.

A confirmar-se a vitória da oposição, não é certo que Mutharika, que tem denunciado actos de violência no país nos últimos meses, reconheça os resultados.

Na véspera das eleições de terça-feira, foram detidas 20 pessoas, depois de as autoridades terem encontrado uma urna falsa cheio de boletins de voto fraudulentos.

Apesar de alguns incidentes que ocorreram nos bastiões da oposição, com relatos de alguns confrontos, o acto eleitoral decorreu pacificamente e sem grandes sobressaltos, segundo a CEM. Além disso, os cuidados foram redobrados, devido à pandemia de covid-19 – segundo os dados da Universidade Johns Hopkins, o Malawi regista 941 casos de covid-19 e 11 mortos.

Os resultados finais são aguardados com grande expectativa, sendo vistos como um teste à democracia do país e até do continente africano. Esta foi apenas a segunda vez na histórica das democracias africanas que uma eleição presidencial foi anulada devido a fraude e, por isso, os olhos do continente estão postos na resposta do Malawi. Antes, só no Quénia, em 2017, umas eleições foram anuladas por irregularidades. 

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