Obras pararam no antigo Hospital do Desterro e podem não recomeçar

Empresa responsável pela reabilitação do edifício queria uma suspensão de rendas por causa da pandemia, mas Estamo não terá concordado. Projecto apresentado há sete anos fica em risco.

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O grande edifício cor-de-rosa está fechado desde 2006 CARLOS LOPES/ARQUIVO

O grupo empresarial que tem a seu cargo a reabilitação e exploração do antigo Hospital do Desterro, em Lisboa, diz-se forçado a abandonar o projecto porque a Estamo, empresa imobiliária do Estado, se recusou a suspender o pagamento de rendas devido à pandemia de covid-19.

Num comunicado divulgado esta quinta-feira à tarde, o grupo Mainside diz que “enfrenta a inevitabilidade de abandonar a reabilitação do Hospital do Desterro” e responsabiliza a Estamo, empresa proprietária do edifício. O grupo afirma que devido aos “efeitos devastadores da pandemia” e “perante uma crise económica e um futuro complexo e incerto”, “solicitou à Estamo uma suspensão temporária do pagamento da renda mensal do espaço”. A resposta terá sido negativa.

“A entidade pública nega que a pandemia de covid-19 possa ser enquadrada no conceito de alteração anormal das circunstâncias e convida o grupo a rescindir o contrato, abandonando um investimento total estimado em 5 milhões de euros”, pode ler-se.

O PÚBLICO dirigiu perguntas sobre este assunto à Estamo e está a aguardar resposta. Também em resposta ao PÚBLICO, o grupo Mainside diz que as obras encontram-se em acabamentos gerais” e que a previsão era que o equipamento abrisse “no final deste ano”.

O protocolo com vista à reabilitação do antigo hospital e convento, fechado ao público em 2006, foi assinado entre a Estamo, a Câmara de Lisboa e a Mainside em 2013. O projecto do grupo, que foi responsável pela criação de espaços como a Lx Factory e a Pensão Amor, passava pela transformação do edifício num espaço polivalente com alojamento, zonas para trabalho e eventos culturais, mas tem sido marcado por sucessivos atrasos.

No fim de 2018, pouco tempo depois do recomeço das obras que tinham sido interrompidas anos antes, a Mainside dizia ao PÚBLICO que previa a abertura do edifício no “terceiro trimestre de 2019”.

No comunicado agora divulgado, a empresa responsabiliza também a Estamo pela lenta evolução dos trabalhos e acusa a imobiliária do Estado de “desresponsabilização completa”, ao não procurar “soluções ajustadas aos condicionamentos brutais provocados pela pandemia e por ignorar a necessidade imperativa de desenvolvimento da economia e criação de emprego”.

Apesar de inicialmente se referir à “inevitabilidade” do fim do contrato, o comunicado termina com a garantia de que o grupo Mainside “mantém toda a abertura” para “encontrar uma solução que assegure a viabilização de tão relevante projecto para a cidade de Lisboa.”

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