Foi através da cultura que os Banhos Velhos se levantaram das ruínas há 10 anos

Após décadas de abandono, o antigo complexo termal da vila de Caldas das Taipas, em Guimarães, apareceu de cara lavada em 24 de Junho de 2010. Desse dia em diante, iniciou uma segunda vida graças a uma programação cultural ancorada na música. A história da última década é contada num documentário, lançado nesta quarta-feira.

legendary-tigerman,concertos,teatro,local,musica,guimaraes,
Fotogaleria
legendary-tigerman,concertos,teatro,local,musica,guimaraes,
Fotogaleria
legendary-tigerman,concertos,teatro,local,musica,guimaraes,
Fotogaleria
legendary-tigerman,concertos,teatro,local,musica,guimaraes,
Fotogaleria
Guimarães
Fotogaleria
Fotogaleria
Fotogaleria
,Travessa Banhos Velhos
Fotogaleria
Fotogaleria
Fotogaleria

“Na minha infância, nos anos 80, morava ali ao lado. Aquela era a minha zona de conforto. A malta juntava-se para a brincadeira naquele espaço ao abandono”, recorda Paulo Dumas, um dos impulsionadores do renascimento dos Banhos Velhos como pólo cultural durante a última década, em Caldas das Taipas, uma vila do concelho de Guimarães banhada pelo rio Ave.

Outros taipenses evocam memórias parecidas sobre aquele complexo termal do século XIX que fechou portas na década de 70 e definhou. Fazem-no num documentário que assinala os 10 anos da requalificação dos Banhos Velhos e da transformação num espaço que atrai centenas de pessoas para concertos de Primavera e de Verão. Realizada por Hilário Saldanha e Ricardo Martins, a obra começou a ser pensado em 2018 e é lançada nesta quarta-feira, às 21h30, via Facebook e Youtube. “A ideia surgiu no final da temporada cultural de 2018 e começou a ser trabalhada em Fevereiro de 2019”, revela ao PÚBLICO o actual director artístico dos Banhos Velhos, José Manuel Gomes.

A segunda vida dos Banhos Velhos começou a ganhar forma quando Paulo Dumas, defensor da requalificação do local, recebeu um convite para elaborar “um programa cultural para o espaço, com utilização sazonal” por parte da Taipas Turitermas, cooperativa a cargo da actividade termal da vila. “Elaborei um documento que servisse de base. Depois de aprovado, comecei a elaborar a primeira temporada de programação”, recorda.

Com os serviços termais instalados nos Banhos Novos, um edifício de 1907, a cooperativa detida pela Câmara Municipal de Guimarães queria dar um “propósito diferente” ao espaço que acabou por requalificar e inaugurar em 24 de Junho de 2010 e escolheu a área cultural. “A estratégia passava por criar um ambiente que fizesse as pessoas quererem ir às Taipas”, recorda o actual presidente da Taipas Turitermas e então membro da direcção, José Maia Freitas.

A nova energia daquele espaço começou a fervilhar em 2011, com concertos como os de Linda Martini e de The Legendary Tigerman, exemplos do protagonismo da música, nomeadamente do pop e do rock nacional, na oferta cultural dos Banhos Velhos. “A música permitia a optimização dos recursos financeiros e também a vinda às Caldas das Taipas de artistas de relevo nacional. As pessoas são mais facilmente sensibilizadas para a música”, explica Paulo Dumas.

Nessa mesma altura, José Manuel Gomes estava ligado aos Banhos Velhos para perceber como um espaço que não fora pensado como centro cultural o poderia ser, no âmbito de um mestrado em mediação cultural. Reparou então que havia dois entraves à atracção de público: e o relativo desconhecimento do conceito de “descentralização cultural” face aos dias de hoje e o próprio espaço, facilmente “inundado em dias de chuva”, por estar junto ao rio. “Há uma sazonalidade associada ao espaço. A programação decorre de Abril até Setembro”, explica.

Ao leme da programação desde 2016, José Manuel Gomes foi-se apercebendo de que a iniciativa tinha espaço para se perpetuar no calendário cultural da região, com a crescente adesão de público aos eventos – nos últimos quatro anos, houve uma média de 500 pessoas por concerto, diz. Em dois dos espectáculos a que assistiu, ficou especialmente convencido da “força” dos Banhos Velhos: o dos Capitão Fausto, em 2013, e o dos Sensible Soccers, em 2016. “Nesse concerto, devemos ter recebido entre 800 e 1.000 pessoas. Aquilo estava a abarrotar de gente e deu-me alento para continuar”, confessa.

Mesmo forçado pela pandemia de covid-19 a adiar o programa de 2020 para 2021, o programador e músico crê que os Banhos Velhos têm hoje um “público fidelizado”.

Dar espaço a quem cria no território

Apesar do protagonismo, a música corresponde somente a 30% dos eventos programados em cada temporada dos Banhos Velhos, avança ao PÚBLICO José Manuel Gomes. A restante programação é completa com cinema e teatro, mas também com iniciativas não tão próximas das artes, de que são exemplo as tertúlias, a sessão anual de astronomia e as oficinas desenvolvidas em parceria com o Centro de Ciência Viva de Guimarães.

Todas essas acções visam a promoção do que se faz nas associações e escolas locais. Elas procuram, no fundo, “instigar a criação”, salienta. “Há um grupo de teatro da Escola Secundária das Caldas das Taipas. Hoje, eles encenam com regularidade porque sabem que vão apresentar uma peça nos Banhos Velhos”, salienta.

Quando olha para trás, o presidente da Taipas Turitermas vê claramente um “ganho” na aposta feita há 10 anos. “Acabámos por desenvolver a área cultural da vila, que achamos fundamental”, reitera José Maia Freitas. “E essa dinâmica ajuda-nos na exploração das actividades termal e turística. A cooperativa tem crescido nos últimos anos”.

Sugerir correcção