Covid-19 provoca desvalorização acima de 15% nos plantéis de Benfica e FC Porto

Estudo da KPMG aponta também para uma recuperação nos campeonatos que entretanto foram retomados.

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LUSA/MANUEL FERNANDO ARAÚJO

De que forma é que a pandemia de covid-19 afectou o valor de mercado dos jogadores de futebol? Para tentar responder a esta pergunta, a auditora KPMG fez um estudo que aponta para uma desvalorização que, para alguns clubes do top 32 europeu, ultrapassa os 20%, e que nos casos de Benfica e FC Porto supera os 15%. 

O que a KPMG fez, na análise Football Benchmark, foi comparar o valor dos futebolistas dos plantéis dos clubes mais cotados da Europa registado em Fevereiro, antes de a pandemia se alargar a todo o mundo, e em Maio, altura em que algumas Ligas declararam o final antecipado e outras retomaram os treinos para o reinício das competições.

Tendo em conta que as perdas reais, nas diversas frentes (receitas de direitos televisivos, de bilheteira ou de merchandising, por exemplo), só serão contabilizadas nos próximos relatórios e contas dos clubes, o estudo fez dois cálculos distintos: um para um cenário de cancelamento das Ligas, outro para um contexto de retoma dos campeonatos. Na maioria dos casos, acabou por vingar a segunda hipótese.

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Compreensivelmente, no caso das Ligas que terminaram antes do previsto (a francesa, a holandesa ou a belga) o impacto sobre os clubes foi mais acentuado, com o Paris Saint-Germain (-25,4%), o Lyon (-27,5%) e o Ajax (-21,7%) a registarem desvalorizações muito significativas do valor dos activos. Se todos os campeonatos das 10 Ligas escrutinadas tivessem sido cancelados, as perdas totais estimadas eram de 10 mil milhões de euros.

Se olharmos apenas para as provas domésticas que foram retomadas, em média as quebras são inferiores a 20% (no top 32 europeu, as excepções são o Sevilha, o Barcelona, o Galatasaray e o Besiktas). O plantel do Real Madrid, por exemplo, valia 1168 milhões de euros em Fevereiro, tendo caído para os 944 milhões em Maio (-19,1%), enquanto o do Manchester United, segundo na hierarquia, está avaliado agora em 796 milhões contra os 923 de há quatro meses (-13,8%).

Já os dois clubes portugueses contemplados na análise deste Football Benchmark têm comportamentos semelhantes. O Benfica viu o o valor do plantel baixar dos 288 milhões de euros para os 244 milhões (-15,2%), enquanto o FC Porto caiu dos 229 milhões de euros para o 186 milhões (-18,8%). A KPMG faz notar, também, que há uma maior estabilidade dos valores de mercado dos futebolistas que fazem parte dos quadros dos clubes mais poderosos a nível continental.

No total, se todos os campeonatos europeus tivessem regressado as perdas globais seriam de 6,6 mil milhões de euros, o que permite concluir, de forma algo expectável, que a retoma das provas (mesmo sem espectadores e as receitas associadas aos jogos) permite reduzir parcialmente os danos provocados pela covid-19. 

Ao avaliarem o valor das acções das Sociedades Anónimas Desportivas cotadas em bolsa, os auditores também destacam “uma recuperação nas últimas semanas”, alimentada pela retoma das competições nalguns países. Se nalguns casos a quebra do primeiro trimestre tinha sido de 29%, de Abril até Junho, em emblemas como a Juventus, a Roma, o Borussia Dortmund, o Ajax ou o Manchester United, a recuperação foi de 17%.

“Tendo em conta a desvalorização dos jogadores e a performance da maioria dos clubes analisados nos últimos meses, a previsão de desvalorização da KPMG para o sector situa-se entre os 20% e 25%, quando comparada com os resultados de 1 de Janeiro de 2020”, adianta Andrea Sartori, director do departamento de Desporto da empresa, salvaguardando que as oscilações nos números dependem do nível de dívida, da estrutura das receitas e da dependência dos clubes no que toca à venda de jogadores no mercado de transferências.

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