Covid-19: INSA vai estudar amostras de doentes com infecção “anormalmente longa”

Investigadores esperam que os resultados tragam benefícios directos e imediatos para o Serviço Nacional de Saúde.

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Doentes de covid-19 na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital D. Pedro (Centro Hospitalar do Baixo Vouga) Adriano Miranda

O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) vai estudar amostras consecutivamente positivas de doentes com infecção covid-19 “anormalmente longa” para tentar compreender a situação e poder “apoiar a decisão clínica e de saúde pública”.

“A existência de muitos casos de infecção atipicamente longos (superiores a três ou quatro semanas), identificados laboratorialmente pela persistência de resultados positivos, tem constituído uma preocupação das entidades de saúde pela necessidade de manutenção de um longo confinamento dos infectados no hospital ou em casa”, refere o INSA num comunicado publicado na sua página na Internet.

Para tentar compreender esta situação, o INSA vai realizar um estudo sobre a integridade genética do coronavírus SARS-CoV-2, que provoca a doença covid-19, e a sua evolução durante o período de infecção com o objectivo de “apoiar a decisão clínica e de saúde pública”.

A investigação vai “estudar uma série de amostras consecutivamente positivas de doentes com infecção anormalmente longa, sujeitando as mesmas a estudos de integridade genómica pela utilização da metodologia de sequenciação de nova geração”.

Segundo o investigador João Paulo Gomes, coordenador deste projecto, o estudo pretende perceber se “o genoma viral do SARS-CoV-2 está “inteiro” ou se está apenas a detectar-se pequenos fragmentos virais não infecciosos, recorrendo à mesma metodologia que está a ser utilizada no estudo de âmbito nacional de variabilidade genética do SARS-CoV-2, igualmente liderado pelo INSA.

Em paralelo, será também estudada a infecciosidade viral de algumas destas amostras tardias através da cultura em linha celular.

“Estes resultados permitirão perceber se estamos perante um cenário de evolução genética adaptativa do vírus possibilitando a persistência da infecção, ou se as últimas amostras positivas não traduzem mais do que a existência de fragmentos virais não infecciosos”, explica João Paulo Gomes no comunicado.

Caso esta última hipótese se confirme, o investigador salienta que são esperados benefícios directos e imediatos para o Serviço Nacional de Saúde, na medida em que serão fornecidas provas científicas a dois órgãos de decisão. “Por um lado, aos clínicos sobre a possibilidade de dar alta médica aos doentes com detecção da presença do vírus em amostras respiratórias por longos períodos. Por outro lado, aos médicos de saúde pública sobre a possibilidade de levantamento da restrição de contacto social aos infectados confinados em casa”, explica.

“Como consequência disto, antevêem-se naturalmente os respectivos impactos a nível familiar, social e económico”, refere ainda João Paulo Gomes, que é o coordenador do Núcleo de Bioinformática do INSA.

Para o desenvolvimento deste estudo, o INSA conta não só com a sua vasta colecção de amostras positivas analisadas, mas também com a colaboração específica dos laboratórios de análises Unilabs, Synlab e Joaquim Chaves.

No âmbito deste projecto, que obteve um financiamento de 34 mil euros e terá a duração de seis meses, foi iniciada uma colaboração científica com o Instituto de Medicina Molecular (em Lisboa) que possibilitará a utilização de abordagens complementares para o mesmo fim, de forma a que as conclusões tenham a robustez necessária para os fins clínicos e de saúde pública a que se destinam.

O projecto é financiado no âmbito da segunda edição do programa de apoio Research4Covid, promovido pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

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