Monchique usa ozono para desinfecção mas autoridades questionam eficácia do método

Autoridades de saúde regionais questionam a eficácia deste método e afirmam não existir evidências científicas que comprovem o seu efeito no combate ao novo coronavírus, que provoca a doença covid-19.

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Desinfecção de escolas em Lisboa Nuno Ferreira Santos / Arquivo

A Câmara de Monchique, no interior do Algarve, adquiriu duas máquinas de ozono para purificar o ar como prevenção para a covid-19, mas as autoridades de saúde questionam a eficácia deste método de desinfecção.

Os equipamentos foram adquiridos “como meio complementar de desinfecção” dos meios de transporte camarários e salas da autarquia, e também facultados aos comerciantes e às escolas como “medida adicional ao plano de limpeza e desinfecção” revelou à Lusa Ana Silva, do gabinete de veterinária e saúde pública da autarquia.

Segundo aquela responsável, “um ciclo de quatro minutos permite desinfectar um sala de 20 metros quadrados”, sendo o aparelho colocado a funcionar “sem pessoas no espaço”, com a mais-valia de a máquina ser “auto-suficiente”, não havendo a necessidade de “utilizar detergentes nem desinfectantes”.

Estes aparelhos funcionam “captando as moléculas de oxigénio do ambiente” e convertendo-as em ozono, um gás “muito instável” que, quando se liga às bactérias e vírus, “os destrói”, libertando o oxigénio de novo à atmosfera, sendo também eficaz para o coronavírus, sublinhou Ana Silva.

No entanto, as autoridades de saúde regionais questionam a eficácia deste método e afirmam não existir evidências científicas que comprovem o seu efeito no combate ao novo coronavírus, que provoca a doença covid-19.

Contactado pela Lusa, o presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve afirmou que “não existe nenhum evidência científica que comprove a sua eficácia do ponto de vista da covid-19”, e alertou para eventuais problemas em pessoas mais sensíveis à presença de ozono.

Segundo Paulo Morgado, há pessoas “muito sensíveis à presença do ozono”, sentindo “tosse e irritação respiratória” como consequência de elevadas concentrações daquele gás no ar e, por isso, “usá-lo em espaços fechados” sem medir depois a sua concentração no ar “pode eventualmente ser perigoso”.

Por esse motivo, as autoridades de saúde não estão a recomendar o ozono “como metodologia” para mitigar a covid-19 já que, apesar de ser um gás com uma acção sobre bactérias e vírus, é também “poluente”, razão pela qual “as suas concentrações são monitorizadas no que é o ar ambiente”.

Paulo Morgado defendeu, por isso, a ventilação dos espaços como forma de combater o vírus, reforçando que a acção é eficaz só por si - sendo mesmo uma das recomendações da ARS -, pois remove as partículas com vírus em suspensão, reduzindo os riscos de infecção.

Segundo a Câmara de Monchique, os valores de ozono “não são medidos” após a utilização, mas o equipamento usado “é fornecido por uma empresa certificada” pela União Europeia que trabalha “com as doses mínimas eficazes que permite que não haja resíduos”.

Ana Silva dá como exemplo os cuidados que têm com o uso nas escolas, onde colocam os aparelhos "à sexta-feira, depois das operações de limpeza”, para que passe o fim-de-semana, e “garantindo que não haja resíduos na segunda-feira”, sendo o espaço “também arejado”, destacou.

Os dois aparelhos adquiridos pela autarquia são usados nos “escritórios e salas de reuniões” da sede do município, assim como nos “meios de transporte”, como meio complementar de “desinfecção das escolas e de espaços comunitários” como a igreja e o centro de apoio à família, podendo ainda ser “cedida aos comerciantes para uso nos seus espaços comerciais”. 

A covid-19 é transmitida por um novo coronavírus detectado no final de Dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em Fevereiro, o continente americano é agora o que tem mais casos confirmados e mais mortes.

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