Mais três mortes e 375 casos em Portugal. Marta Temido pede responsabilidade aos portugueses

“Não há estado nenhum que consiga fazer aquilo que é também responsabilidade dos indivíduos”, avisou Marta Temido. No total, desde o início do surto, já 1527 pessoas morreram e 38.464 ficaram infectadas. Há mais de 24 mil casos de recuperação.

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Zona de internamento para doentes com covid-19 do Hospital Curry Cabral rui gaudencio

Portugal regista, nesta sexta-feira, mais três mortes por covid-19 do que no dia anterior. Este número corresponde a uma taxa de crescimento de 0,2%, num total de 1527 mortes registadas desde Março. Foram identificados ainda mais 375 casos positivos de infecção, ou um aumento de 0,98%, num total de 38.464 casos positivos. Estes dados foram divulgados no boletim epidemiológico da Direcção-Geral da Saúde publicado nesta sexta-feira.

Há, actualmente, 12.460 casos activos, menos 95 do que na quinta-feira. Este número é encontrado depois de subtraído o número de mortes e de recuperados ao número de casos positivos. 

A taxa de letalidade global da doença é de 4,3% e sobe para 17% acima dos 70 anos, de acordo com a ministra da Saúde​, Marta Temido, na conferência de imprensa desta sexta-feira sobre a evolução da pandemia em Portugal. Cerca de 86% das mortes são acima dos 70 anos.

Já 24.477 pessoas foram dadas como recuperadas, mais 467 em apenas 24 horas. Há 422 pessoas internadas (mais seis do que no dia anterior), 67 das quais em unidades de cuidados intensivos.

O Rt médio de 11 a 15 de Junho foi de 0,98. Este número mostra que “estamos a ter dificuldade em quebrar as cadeias de transmissão”, admitiu Marta Temido. Este indicador mede o número médio de casos secundários gerados por um infectado. O Rt é de 1,02 na região Norte, 1,14 no Centro e de 0,96 em Lisboa e Vale do Tejo.

“O facto de termos agora muito menos casos no Norte ou no Centro faz com que este risco [de contágio] seja acrescido, tendo em conta os poucos casos que cada caso vai gerando”, explicou.

A ministra lembrou as penas de prisão e de multa associadas à quebra do dever de confinamento a que estão sujeitos os infectados. “Não há nada que fundamente o desrespeito pelo confinamento obrigatório e esse desrespeito merecerá o nosso mais vivo repúdio”, referiu. Marta Temido deixou fortes avisos durante a conferência de imprensa, sobretudo tendo em conta a situação na região de Lisboa e Vale do Tejo e no Algarve, tendo terminado com um apelo à responsabilidade de cada um: "Não há estado nenhum que consiga fazer aquilo que é também responsabilidade dos indivíduos”.

Ainda há margem para responder a pressão em Lisboa, diz ministra

Ainda que o Norte continue a ser a região que tem o maior número acumulado de casos e de mortes no país – ​ao todo, são 17.236 os registos de infecção e 813 mortes por covid-19 –, continua a ser em Lisboa e Vale do Tejo (que tem um total de 16.255 casos de infecção e 435 mortes) que se encontram o maior número de novos casos, com  284 dos 375 dos novos casos identificados esta sexta-feira, cerca de 76%. A região concentra também a maior parte dos internados do país.

“Para efeitos de números, temos hoje 422 doentes internados no país, na ARS de Lisboa e Vale do Tejo são 381, temos 67 casos internados em Unidades de Cuidados Intensivos (são 59 na região de Lisboa e Vale do Tejo)”, disse a ministra da Saúde. “Para termos percepção da pressão que existe em Lisboa e Vale do Tejo e nos deixa ainda numa situação de relativo conforto para aquilo de que precisamos de fazer.”

Para aliviar os hospitais da região de Lisboa e não “saturar” as suas equipas, “foi activada a possibilidade de reencaminhamento de utentes que não tenham necessidade de saúde complexos para o hospital militar de Belém, já tinha sido assinado um protocolo de forma a estarmos perfeitamente confortáveis e para não saturar as equipas”.

A quantidade de novos casos na região de Lisboa e Vale do Tejo, que é há várias semanas o “motor” da pandemia no país, preocupa as autoridades. A ministra da Saúde anunciou que na segunda-feira haverá uma reunião que contará com a presença do primeiro-ministro, o presidente da Área Metropolitana de Lisboa e autarcas desta zona do país.

Num discurso duro, Marta Temido anunciou que o Governo vai aplicar todas as medidas para travar um aumento de casos: “Isto é uma maratona, não é um sprint. Não é possível baixar a guarda e estão redondamente enganados aqueles que pensem que podem baixar a guarda”, afirmou.

Sobre o surto registado no Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, foram identificados 88 casos de infecção, avançou Marta Temido. “Mas a situação está controlada”, disse. “O serviço foi reorganizado, o IPO tem um excelente plano de contingência” .Um dos doentes do IPO Lisboa com covid-19 morreu numa outra unidade de saúde, informou a ministra da Saúde.

A região Centro tem detectados 3955 infectados e 247 mortes. O Algarve registou nas últimas 24 horas 32 novos casos, contando agora 480 infecções e 15 mortes. O Alentejo também registou um aumento do número de casos, de 295 na quinta-feira para 304, contabilizando também duas mortes desde Março.

Os Açores e a Madeira são as regiões com menor número total de casos, com 143 e 91, respectivamente. A Madeira é a única região sem mortes registadas.

Lisboa continua a ser o concelho em que foi identificado o maior número de casos desde Março, com 3037. Nas últimas 24 horas, foram aí detectados 58 novos casos. O concelho com maior número de novos casos é o de Sintra, com mais 74 que o registo do dia anterior, para um total de 2179 infecções.

Lagos (com 20 novos casos), Amadora (30 novos casos), Loures (28 novos casos), Vila Franca de Xira (16 novos casos), Cascais (13 novos casos) e Odivelas (12 novos casos) foram os restantes concelhos com maior número de novos casos.

Reabrir bares e discotecas? Olhem para o exemplo de Lagos, diz DGS

Questionada sobre a reabertura de bares de discotecas, a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, pediu “calma” e “ponderação”. E argumentou com o exemplo da festa em Lagos, que gerou pelo menos 90 casos positivos, entre os que estiveram na festa e os que não estiveram, incluindo crianças com menos de nove anos

A ministra da Saúde lembrou: estão proibidos os ajuntamentos de mais de 20 pessoas. “Continuamos em estado de calamidade, não sabemos até quando o vamos manter”, disse. “É momento de pôr os pés na terra sem estar a pensar que está tudo adquirido. Porque não está.”

No Algarve “não está em causa um cerco sanitário, não é um cerco que institui a racionalidade suficiente para se absterem de comportamentos que põem em causa a própria saúde, das pessoas que lhe são próximas e de todo o sistema de saúde. É algo mais grave e importante do que uma cerca sanitária”, disse Marta Temido.

A situação “penaliza-nos enormemente porque poderia ter sido evitada”, referiu a ministra. "Temos de ser parcimoniosos nos nossos ajuntamentos e nos nossos convívios. Por enquanto a Direcção-Geral da Saúde está muito sensível a que a economia funcione, mas para que funcione temos de ter a situação epidemiológica controlada”, disse a directora-geral da Saúde. “Não podemos fazer festas como fazíamos antes. Põe em risco não só a saúde dos próprios e de terceiros, mas também a economia de todo o país.”

Até quinta-feira, Portugal tinha registado um total de 38.089 casos de infecção, 12.455 dos quais casos activos, 1524 mortes e 24.010 recuperados.

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