(Des)Liga dos Campeões

António Costa referiu que a decisão de acolher a Liga dos Campeões se tratava de um prémio para os profissionais de saúde. Na realidade, estes profissionais não beneficiam da escolha da UEFA em nenhum dos cenários. O mesmo pode ser dito dos adeptos de futebol nacionais.

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Reuters/Denis Balibouse

A fase final da Liga dos Campeões irá ser jogada em Lisboa e, após o anúncio da UEFA, António Costa não demorou a enaltecer o papel de todos os cidadãos, que, pelo seu comportamento exemplar durante a pandemia, viabilizaram esta escolha. É sinal de que o nosso país é visto como seguro e preparado para acolher os maiores jogos do calendário de clubes, acompanhados por milhões de pessoas em todo o mundo. Marcelo Rebelo de Sousa também admitiu ser uma boa notícia para Portugal. Mas que impacto terá realmente esta decisão? Ainda é difícil determinar porque muito depende da abertura (ou não) dos recintos desportivos.

É a abertura parcial dos estádios ao público que vai determinar a afluência da maioria dos adeptos estrangeiros, com todos os impactos positivos que gera, particularmente para o sector do turismo (um dos mais afectados pela pandemia). Apesar disso, parece-me pouco sensato que, menos de duas semanas após o término da época nacional (que será concluída à porta fechada), as autoridades aprovem a abertura dos estádios a adeptos internacionais. E, caso se mantenham as portas fechadas, a “boa notícia” de que falam primeiro-ministro e Presidente da República cai por terra. Os adeptos perdem o motivo para viajar e os restantes turistas estarão mais receosos, logo menos receptivos a visitar o país.

António Costa referia ainda que a decisão se tratava de um prémio para os profissionais de saúde. Na realidade, estes profissionais não beneficiam da escolha da UEFA em nenhum dos cenários. O mesmo pode ser dito dos adeptos de futebol nacionais.

A ausência de adeptos nas bancadas no regresso aos relvados contribuiu para enfatizar a pobreza do jogo na liga portuguesa. Os dois candidatos ao título sucedem-se em deslizes e praticam um futebol rudimentar e inconsequente. Assim sendo, a realização da fase final da Liga dos Campeões em Lisboa surgiria, aparentemente, como uma boa notícia: os portugueses poderiam assistir ao futebol de mais alto nível dentro das suas cidades. A verdade é que o comum adepto assistirá igualmente aos jogos pela televisão, quer estes se realizem em Portugal ou no estrangeiro. No caso de a DGS decidir abrir os recintos, a oferta de bilhetes será, muito provavelmente, dirigida aos adeptos estrangeiros.

De qualquer forma, os fãs portugueses estarão sempre desligados da competição. Podíamos argumentar que a própria imagem da Liga dos Campeões em Portugal funcionasse como incentivo para alguns aficionados de equipas portuguesas assistirem ao futebol apenas pela beleza do jogo. A nossa sociedade revela um défice de cultura desportiva, o que torna importante aprender a ver além da cor da camisola. Porém, estaríamos a sonhar demasiado alto, num país em que polémicas entre dirigentes e representantes dos clubes (“grandes”) abrem noticiários. Como referia António Tadeia, a realização destes jogos trata-se, acima de tudo, de “um favor do futebol ao país”. Podemos apenas esperar que as condições sejam favoráveis à abertura dos estádios e que isso impulsione o regresso do turismo, tão necessário ao nosso país.

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