Com eleições à porta, Duda aposta em encontro com Trump para melhorar nas sondagens

O Presidente polaco começou a cair nas sondagens e a hipótese de não cumprir um segundo mandato está a ganhar força. E, por isso, Duda recuou momentaneamente nos ataques à comunidade LGBT.

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O Presidente polaco tem sido duramente criticado por apontar baterias contra a comunidade LGBT WALDEMAR DESKA/Lusa

As sondagens mostram que o apoio ao Presidente polaco, Andrzej Duda, está em queda antes das eleições presidenciais e que a até agora improvável hipótese de perder as eleições para um candidato da oposição nas presidenciais de 28 de Junho está em cima da mesa. E, para o tentar evitar, Duda recuou momentaneamente na sua narrativa contra a comunidade LGBT e vai encontrar-se na próxima semana com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na Casa Branca. 

“O Presidente Trump e o Presidente Duda vão discutir o avanço da nossa cooperação em Defesa, bem como em comércio, energia e segurança das telecomunicações”, disse em comunicado a Casa Branca. 

A Rússia é encarada na Polónia como a principal ameaça à segurança nacional e este encontro tem como objectivo aumentar o apoio de Duda entre o eleitorado. Os Estados Unidos são encarados como aliados fundamentais da Polónia e uma fonte próxima do Presidente polaco disse ao Guardian que um dos objectivos do encontro é precisamente o possível aumento da presença militar americana no país. “Gostaríamos de ter um aumento das forças americanas na Polónia”, disse. “Não estamos felizes com a retirada das forças americanas da Alemanha, queremos o máximo de forças possível na Europa, mas isso é um assunto diferente. Quanto mais forças tivermos na Polónia, melhor”. 

No Verão passado, para assinalar o 80.º aniversário do começo da II Guerra Mundial, Trump tinha uma viagem marcada para a Polónia, mas acabou por cancelar à última da hora. Enviou em seu lugar o vice-presidente americano, Mike Pence, e foi um golpe significativo para a imagem de Duda. Agora, a equipa do chefe de Estado polaco acredita que um encontro numa data tão próxima das eleições (algo muito invulgar no país) terá impacto no aumento do seu apoio entre o eleitorado. 

É que a reeleição de Duda, aliado do partido do governo Lei e Justiça (PiS), é crucial para as esperanças do executivo vir a implementar a sua agenda conservadora, que inclui reformas judiciais que resultam em conflito com a União Europeia, dado o Presidente ter o poder de vetar leis. 

As eleições estiveram inicialmente agendadas para Maio, mas não puderam ser realizadas por causa da pandemia da covid-19. A primeira volta está agora marcada para 28 de Junho, com a segunda a acontecer semanas depois, caso nenhum candidato receba mais de 50% dos votos. 

Enquanto as sondagens indicam que Duda vencerá a primeira volta, outras sondagens da Kantar e da Ipsos, publicadas nos últimos dias, mostram que está empatado numa segunda volta com o seu principal rival, o presidente de câmara liberal de Varsóvia, Rafal Trzaskowski, do partido de centro-direita Plataforma Cívica. 

Já a sondagem da Ipsos mostra que Duda pode perder a segunda volta com o candidato independente e antigo apresentador de televisão Szymon Holownia, apesar deste ser encarado como candidato mais improvável do que Trzaskowski para disputar a segunda volta. O PiS tentou forçar o voto postal em Maio, por recear que o apoio de Duda diminuísse com a pandemia, mas foi forçado a abandonar os seus planos. 

A campanha de Duda tem-se focado no ultra-conservadorismo, com ataques ao que diz ser a ideologia de lésbicas, gays, bissexuais e transgénero, ao mesmo tempo que promete proteger os programas de benefícios sociais para famílias e pensionistas que transformaram as vidas de muitos polacos. 

Rafal Chwedoruk, cientista política da Universidade de Varsóvia, disse acreditar que a mobilização do eleitorado que votou no PiS por causa das suas políticas sociais, sem que façam parte da sua base tradicional conservadora e religiosa do partido, será a chave para o sucesso de Duda. “A escala da sua mobilização decidiu as consecutivas vitórias do PiS nas eleições”, disse. Já o porta-voz da campanha de Duda recusou-se a comentar. 

A estratégia eleitoral de Duda tem sido duramente criticada por activistas de direitos humanos e, para as suster, o candidato a um segundo mandato presidencial optou por invertê-la momentaneamente. No domingo, atacou uma vários meios de comunicação social de espalharem “notícias falsas” sobre as suas opiniões em assuntos LGBT, sem especificar quais as notícias e media a que se referia, e, esta quarta-feira, recebeu o activista LGBT Bart Staszewski no palácio presidencial. Duas situações que estão a ser encaradas como tentativas para se afastar de uma imagem profundamente conservadora, dado recear perder eleitorado se assim for visto. 

“Disse-lhe que estas crianças eram pessoas, não uma ideologia, e que cometeram suicídio por acreditarem que outros achavam que representavam algum tipo de ideologia. Mas ele [Duda] pareceu não sentir nada e não pediu desculpas”, disse o activista aos jornalistas, já depois do encontro. Staszewski mostrou ao chefe de Estado uma série de fotografias de adolescentes LGBT que se suicidaram. “Disse-lhe que espero que tenha pesadelos com estas crianças”. 

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