CFP alerta para “riscos descendentes” do orçamento suplementar

A presidente do Conselho de Finanças Públicas (CFP), Nazaré Costa Cabral, alerta para a subestimação da queda do consumo privado no documento aprovado esta semana no Parlamento.

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Rui Gaudencio

A presidente do Conselho de Finanças Públicas (CFP), Nazaré Costa Cabral, alertou esta sexta-feira para os “riscos descendentes” apresentados no Orçamento do Estado suplementar, nomeadamente no que diz respeito à subestimação da queda do consumo privado.

A responsável falava hoje num ‘webinar’ organizado pela sociedade de advogados RFF&Associados, numa altura que o órgão se encontra a preparar o parecer sobre o Orçamento Suplementar, já aprovado na generalidade e actualmente em discussão na especialidade.

“Há um aspecto que nos preocupa que é a questão particularmente de algumas das componentes do Produto Interno Bruto (PIB), em particular o comportamento do consumo privado. No cenário do Governo está estimada uma queda de 4,3% quando estimamos no CFP uma queda de 7,5% do consumo privado”, sinalizou.

Este aspecto, para Nazaré Costa Cabral, é “muito importante” porque tem relevância orçamental directa.

“Nós temos uma boa parte dos nossos impostos indirectos, impostos que estão muito relacionados com o consumo privado e portanto são aliás muito sensíveis à evolução do próprio consumo”, disse.

Esta previsão “menos pessimista” e “até pouco realista em relação ao consumo privado” traz assim consequências, na opinião de Nazaré Costa Cabral, do ponto de vista orçamental sobre o comportamento da receita fiscal.

O CFP estima uma queda do PIB entre 7,5% e 11,8% este ano devido à pandemia covid-19 e o início da recuperação em 2021, um cenário bastante mais pessimista do que o apresentado pelo Governo na proposta de orçamento suplementar de contracção de 6,2% do PIB.

“No total da receita corrente, que inclui a receita fiscal desde logo, temos uma diferença na ordem dos 1.700/800 milhões de euros”, disse.

É um risco descendente para o que é o resultado orçamental agora estimado pelo Ministério das Finanças.

“É um risco descendente, ainda por cima porque agora vem sendo acompanhado por aquilo que é este reforço muito significativo da despesa de capital e na forma como se está a tratar do ponto de vista contabilístico o empréstimo à TAP, na ordem dos mil milhões de euros. Há já aqui uma deterioração que não tínhamos incluído”, disse.

“Se considerarmos este dois aspectos, por um lado uma eventual subestimação da queda da receita no exercício do Ministério das Finanças que resulta desde logo de uma previsão de uma menor retracção da economia particularmente do consumo privado face aquilo que são as outras previsões do CFP e outras, teremos um reforço da despesa assinalável”, disse.

São assim, na opinião de Nazaré Costa Cabral, “riscos descendentes que poderão muito facilmente materializar-se” e atirar o défice orçamental para valores mais expressivos ainda.

O Governo apresentou no passado dia 9 deste mês a proposta de Orçamento Suplementar para este ano, que prevê um défice de 6,3% e um rácio da dívida pública face ao Produto Interno Bruto (PIB) de 134,4%.

O documento, que surge como resposta à crise provocada pela covid-19, reflecte o Programa de Estabilização Económica e Social e prevê, entre outras medidas, um reforço adicional do orçamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS) de 500 milhões de euros.

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